Desde junho de 2013 que as chamadas “táticas” dos black blocs só servem para atrapalhar as legítimas e necessárias manifestações dos movimentos sociais para melhorar a qualidade de vida, buscar dignidade nos transportes públicos, exigir o fim da truculência policial etc.
O que esperar de uma tática fundada na irresponsabilidade de alguns e na pouca formação política de outros de seus integrantes? Os partidos políticos do chamado campo progressista também têm responsabilidade em tudo isso. Nos últimos 20 anos, perdidos com o desgaste do modelo de organização que prevaleceu no século 20, se concentraram demais na busca pelo poder institucional (o que também é legítimo na democracia) e abandonaram a prática da formação (com efe maiúsculo) de quadros, núcleos de debate político na base etc.
A política para a militância partidária ficou entregue, há duas décadas, em sua ampla maioria, aos:
** carreiristas;
** burocratas;
** militantes rasos, sem noções de como funciona o processo histórico, mas com uma arrogância do tamanho da chamada geração Y.
O que sobra
Resultados? Permissão para que um modelo “inimigo na trincheira” ganhasse espaço. Morte e ferimentos em manifestações e desgaste dos movimentos sociais na relação com a opinião pública. Dizer que a Polícia Militar é despreparada é chover no molhado. Já sabemos. Dizer que esse desgaste de imagem é resultado apenas da “manipulação da mídia” é o cúmulo da prática de tirar o seu da reta, esporte tão apreciado neste lugar em que vivemos.
Minha solidariedade à família de Santiago Andrade. Que a morte dele sirva para uma grande reflexão de todas as partes.
Que muita gente que sequer leu algo sobre filosofia e história entenda que, mesmo na necessária construção de novos modelos, política é a arte de buscar aliados, não é o esporte de reafirmar sua posição a qualquer custo.
Não se faz política com o fígado nem com a intransigência tão presente nas redes sociais. Isso só serve para perder potenciais apoios. Política se faz na saudável troca de ideias e na capacidade de conquistar adesões com fatos concretos e práticas coerentes.
Que voltemos a ter manifestações de movimentos realmente sociais: com pautas claras, com tática focada na conquista de direitos e de gente solidária aos objetivos e com organização coletiva. Quem foi que disse que organização é, necessariamente, sinônimo de autoritarismo?
Sem partido, sem reflexão, sem proposta, sem missão, sem clareza, o que sobra é a barbárie.
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Marcus Aurélio de Carvalho é jornalista, professor e radialista, coordenador da Unirr – União e Inclusão em Redes e Rádio