O ator Philip Seymour Hoffman morreu. A notícia veio através de um tuíte do Wall Street Journal, precedida pela palavra demasiadamente familiar “Furo”. Mas, além do tuíte em si, não havia nenhuma informação extra para comprovar o anúncio da notícia. Esta viria aproximadamente sete minutos depois, quando o Journal publicou sua história sobre a morte de Hoffman. Nesse ínterim, a notícia se tornou viral. Publicações online se dispuseram a acreditar no Wall Street Journal antes dele publicar uma breve notícia para corroborar seu tuíte, porém precederam as próprias chamadas e retuítescom negações como: “Ainda não há confirmação, mas…”. Os leitores também eram reticentes ao reproduzir a notícia, perguntando: “Alguém confirma isso?” Outros expressaram suas esperanças de que a notícia fosse uma farsa.
Breaking: Actor Philip Seymour Hoffman found dead in Manhattan apartment. http://t.co/tYCeELTJqc
— Wall Street Journal (@WSJ) February 2, 2014
Sete minutos não é muito tempo. Mas é o suficiente para suscitar questionamentos sobre como dar um furo de forma ética e responsável. É tempo suficiente para se perguntar se vale a pena arriscar a credibilidade de um veículo impresso respeitado apenas para se ter o primeiro tuíte sobre a morte de uma celebridade. No momento em que o Wall Street Journal publicou seu primeiro briefing, o New York Times também tinha começado a relatar fatos do caso. O mais preocupante foi a menção de que um funcionário pedira anonimato quando fornecera detalhes à imprensa – inclusive de que Hoffman morrera devido a uma suposta overdose –, pois ele não tinha certeza se a família do ator havia sido informada do óbito. (Depois fisso, aparentamente o Times removeu seu texto sobre a morte de Hoffman; no entanto, o parágrafo foi reproduzido em outros lugares.)
Em suma: o Twitter e, no espaço de sete minutos, o mundo ciberntético pode ter sabido da morte de Philip Seymour Hoffman antes mesmo de seus três filhos, com quem ele havia programado de passar o dia.
Embora isto soe repugnante, Brad Phillips, fundador da Phillips Media Training, afirma que tal atitude da imprensa não é incomum. Embora os jornalistas de impressos costumassem reter os nomes das vítimas até parentes próximos serem notificados, na era da internet, onde as fotos de uma cena de crime podem ser tuitadas por transeuntes muito antes de os primeiros repórteres chegarem ao local, não há mais um consenso em torno da sonegação de nomes.
“Será que liberar a notícia em um canal oficial, mesmo sem notificação à família, ajuda a oferecer a confirmação em vez de permitir que a especulação não confirmada se inflame?”, pergunta-se Phillips. “E não seria passível de discussão que isso seria mais respeitoso com as famílias?”
Estas são perguntas desafiadoras, daquele tipo que exige avaliação caso-a-caso. Talvez existam argumentos válidos a serem feitos para liberar os nomes das vítimas antes de suas famílias serem informadas da morte. Mas no caso de Philip Seymour Hoffman, a liberação rápida pareceu imprópria e desnecessária. A overdose de uma celebridade não é tão urgente de modo que não possamos nos dar ao luxo de respeitar os filhos do falecido, aguardando que sejam informados antes do público.
Durante sete minutos, tempo que o Wall Street Journal levou para escrever uma história para dar base a seu tuíte, poderíamos muito bem ter ficado sem saber que Philip Seymour Hoffman tinha morrido.
Detalhes íntimos
Assim que a notícia do Wall Street Journal estourou, o reporter Prevaiz Shallwani começou a tuitar imediatamente detalhes mais íntimos de como recebeu as informações. Em resposta ao seu tuíte que dizia que Hoffman foi “encontrado com uma agulha no braço”, um internauta respondeu, expressando sua inquietação crescente: “É esquisito o WSJ estar compartilhando detalhes assim tão cedo, não parece certo”.
Uma hora após a postagem do New York Times, o site Daily Beast já tinha um relato “de dentro do apartamento de Philip Seymour Hoffman” com ainda mais detalhes sobre a quantidade de drogas – “cinco papelotes vazios e dois cheios” – encontrados no local. À noite, retrospectivas produzidas às pressas sobre a carreira de Hoffman foram ao ar na TV a cabo. Qualquer dilema moral que o relato de sua morte deve ter causado foi suplantado com montagens de tributos.
Limites éticos
Ao longo dos anos, os limites éticos da comunicação online foram mudando. Talvez isto fique mais evidente quando uma celebridade morre. De Michael Jackson, passando por Heath Ledger e Whitney Houston, podemos recordar relatos conflitantes, especulação infundada de causa de morte, e rumores flagrantes sendo relatados como fato por sites de fofocas como o TMZ. Para alguns, este estilo de comunicação é bom o suficiente: descobrir o fato primeiro, e só então a precisão dos detalhes que lhes convier.
Mas, apesar de nosso acesso imediato a notícias de última hora, ainda há leitores que preferem esperar pela reportagem escrita (em vez do tuíte). Eles ficam à espera da confirmação de uma fonte online que ainda segue um conjunto de diretrizes cronológicas de divulgação de furos. A agência Reuters segue este parâmetro, e um de seus primeiros requisitos para dar um furo é que este possua uma fonte confiável. Mesmo o alerta de notícia mais breve deve ter uma fonte para ser pontual. “Clareza é fundamental, uma fonte precisa é essencial” é um dos lemas destas diretrizes.
Em seu código de ética, a Sociedade de Jornalistas Profissionais tem uma seção inteira sobre “minimização de danos”, guiada pelo princípio de que “ jornalistas éticos tratam fontes, temas e colegas como seres humanos merecedores de respeito”. A seção adverte repórteres para mostrar compaixão e ser sensíveis ao apurar uma tragédia. Ela os incita a “demonstrar bom gosto” e “evitar favorecer a curiosidade mórbida”. Cada vez mais, “minimizar os danos” está se tornando uma preocupação singular, um vestígio nostálgico de uma era passada do jornalismo. Agora, os furos estão nos furando. Estamos percorrendo tragédias na velocidade da luz e sem nos dar tempo suficiente para refletir e se lamentar. A busca pela conveniência jornalística está corroendo nossa empatia, e os leitores estão recebendo o pior.
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Stacia L. Brown é escritora e blogueira