A cotação das ações do Facebook Inc. subiu ontem na bolsa Nasdaq, num sinal de que os possíveis benefícios antevistos na compra do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp superam o valor salgado do negócio: US$ 19 bilhões.
“O preço da aquisição provavelmente será um choque para muitos investidores”, diz Jordan E. Rohan, analista da corretora Stifel Nicolaus. Os investidores atuais terão ainda a participação reduzida em 8%, já que o Facebook está fazendo parte do pagamento em ações, acrescenta.
Ainda assim, a ação do Facebook, que chegou a cair 3,4% ontem, fechou com alta de 2,3%, para US$ 69,63.
O negócio, que inclui US$ 3 bilhões em ações restritas a serem concedidas ao longo de quatro anos aos fundadores e funcionários do WhatsApp, é o maior já realizado por uma empresa financiada por capital de risco. Além de tirar o aplicativo do alcance de concorrentes como o Google, ele pode impulsionar a popularidade do Facebook entre os jovens e seu crescimento nos mercados internacionais e em aparelhos móveis.
“A compra do WhatsApp dá ao Facebook uma posição sólida no setor de mensagens móveis, que acreditamos ser uma parte vital da missão da empresa de conectar o mundo”, disse Doug Anmuth, analista do J.P. Morgan.
História notável
A aquisição do WhatsApp – cujo aplicativo funciona nos smartphones como uma alternativa para os torpedos convencionais – supera a de qualquer outra empresa novata, inclusive a do aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram, que o próprio Facebook comprou por mais de US$ 1 bilhão em 2012, e a do serviço de chamadas de vídeo Skype, adquirido pela Microsoft por US$ 8,5 bilhões, em 2011.
O negócio coloca o valor do WhatsApp, uma empresa com 55 empregados, acima dos de 275 companhias que compõem o índice de ações S&P 500, e analistas alertam que os investidores não devem usar os métodos usuais para avaliar a compra.
“É difícil avaliar esse negócio com base na métrica tradicional de lucro e receita, dado que o WhatsApp ainda está em estágio inicial de crescimento”, diz Shyam Patil, analista da firma de serviços financeiros Wedbush.
Não está claro quanto o WhatsApp fatura e a empresa não quis comentar sobre sua receita. Ela cobra US$ 0,99 por um ano pelo uso irrestrito do aplicativo e não veicula anúncios. Em uma teleconferência, o diretor-presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, disse não acreditar que anúncios sejam o meio certo de monetizar sistemas de mensagens.
Os analistas sugerem que a aquisição seja avaliada em termos de quanto o Facebook está pagando por cada usuário do WhatsApp. Ainda assim a análise pode ter resultados conflitantes.
O Facebook está pagando cerca de US$ 36 por cada um dos 450 milhões de usuários do WhatsApp, mais que os US$ 9 por usuário que a empresa japonesa de comércio eletrônico Rakuten pagou este mês pelo serviço de mensagens Viber Media Inc., dizem analistas. Mas ainda é muito menos que o valor de mais de US$ 130 que o mercado acionário atribuiu a cada usuário do Facebook, LinkedIn e Twitter.
“Para colocar a aquisição do WhatsApp em outra perspectiva, o preço de US$ 36 [por usuário] do Facebook pelo WhatsApp é bastante semelhante aos US$ 33 por usuário que eles [o Facebook] pagaram pelo Instagram “, diz Rohan. “Apesar de muitos investidores terem sido contra o valor pago pelo Instagram na época, hoje a compra é considerada um aquisição presciente devido à utilização e monetização das capacidades da plataforma.”
Analistas também ressaltam o rápido crescimento do Whats App e seu potencial de atingir um bilhão de usuários, algo que Zuckerberg prevê que ocorra em poucos anos. “Embora a monetização vá levar tempo, acreditamos que o tamanho potencial da base de usuários e o forte engajamento no WhatsApp deve, no final, gerar uma monetização significativa” diz Arvind Bathia, analista da corretora Sterne Agee, acrescentando que 70% dos usuários do WhatsApp acessam o serviço diariamente, comparado com 62% no Facebook.
O WhatsApp há muito era considerado uma alvo para aquisição por gigantes da internet. O Google abordou a empresa anos atrás, de acordo com duas pessoas a par da situação, enquanto outras duas disseram que as conversas também ocorreram recentemente. Um porta-voz do Google não quis comentar.
Mesmo para os padrões de crescimento acelerado do Vale do Silício, a história do WhatsApp é notável. A empresa, fundada em 2009 pelo ucraniano Jan Koum e o americano Brian Acton, alcançou 450 milhões de usuários mais depressa que qualquer outra até hoje, escreveu Jim Goetz, sócio da firma de investimento Sequoia Capital. O WhatsApp processa 50 bilhões de mensagens por dia, escreveu Goetz, e emprega só 32 engenheiros e nenhuma pessoa de marketing ou relações públicas.
Mentalidade própria
O WhatsApp baseou seu negócio na ideia de oferecer mensagens instantâneas sem as tarifas que as operadoras de celular costumam cobrar. O app permite aos usuários enviar textos, fotos e vídeos para qualquer um que também tenha instalado o software. Ao contrário do iMessage, da Apple Inc., ele funciona nos principais sistemas operacionais para dispositivos móveis.
A empresa se esforça para manter a privacidade, oferecendo pouco em termos de informações que possam ser usadas por agências governamentais para monitorar pessoas. Quando as mensagens são enviadas, elas são apagadas dos servidores da empresa. Privacidade é algo importante para Koum, que cresceu num país comunista que tinha uma polícia secreta.
O negócio se concretizou em menos de duas semanas, embora Zuckerberg e Koum tenham se encontrado pela primeira vez há quase dois anos. Zuckerberg entrou em contato pela primeira vez em meados de 2012, segundo uma pessoa a par do assunto. Um mês depois, eles se reuniram em uma cafeteria Los Altos, no Vale do Silício, e depois passaram a conversar regularmente.
No dia 9 de fevereiro, Zuckerberg fez a Koum uma proposta mais incisiva: “Vamos conectar o mundo”, disse. Eles fecharam o acordo na sexta-feira passada, na casa de Zuckergerg.
Koum, que antes trabalhou dez anos como engenheiro do Yahoo Inc., vai se juntar ao conselho de administração do Facebook.
Na conferência telefônica, Zuckerberg e Koum disseram que era importante que o WhatsApp conservasse suas operações separadas e uma mentalidade de empresa iniciante, estratégia que Zuckerberg disse ter funcionado com o Instagram. (Colaboraram Evelyn M. Rusli e Rolfe Winkler)
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Reed Albergotti, Doug MacMillan e George Stahl, do Wall Street Journal