Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Facebook ladeira abaixo

Há indicativos. Não muitos, mas estão pelo ar. Parece que o Facebook começa a mostrar, pelo menos por aqui, sinais de cansaço. Há pesquisas que dizem que o número de pessoas na rede não caiu, mas a faixa etária estaria mudando. Os jovens não entrariam mais, justamente porque os pais estariam entrando. Ou seja: menos jovens na rede social, mas mais, digamos, adultos. Até os avós estão entrando. Faz sentido: que jovem quer ser amigo da mãe e da avó numa rede social online em que ele costuma conversar abertamente com os amigos?

Particularmente, tenho ficado pelo menor tempo possível no Facebook, principalmente e basicamente para checar mensagens ou distribuir informação que julgo interessante para um determinado público (o uso da rede social como um veículo de publicação).

Primeiro, porque a quantidade de haters, de trolls, de gente que não entende ironia, de gente que xinga primeiro pra não tentar conversar depois, é esmagadora. Ainda é uma espécie de Jardim 1 do debate na internet, com raras exceções. E não vejo utilidade em discutir política pelo facebook, mas entendo quem veja ali outra arena de debates, como qualquer outra. Vai fundo.

Mas outro motivo de irritação, pra mim, é ver a plataforma de egolatria enorme que isso se tornou. Qualquer comentário parece algo assim: como minha vida é melhor que a sua, veja como sou mais inteligente, olha minhas férias como são incríveis. Não basta mais ir, estar, pensar: é preciso compartilhar. Mas, sobre isso, pode ser apenas que eu esteja ficando velho e ranzinza. Deixo um link para o Fernando Pessoa.

Pergunta recorrente

Mas o Facebook, obviamente, não é uma rede para compartilhar tristezas ou antipatias. Não existe a opção “detestar” ou mesmo “solidarizar”. É uma rede de alegrias, de coisas que querem ser curtidas. O tal do jardim murado: aqui, só o que você gosta, só o que o algoritmo que te conhece melhor que você mesmo definiu, por antecipação, que você vai curtir. Filter Bubble.

Um projeto que investiga a felicidade, muito bom, chamado Glück Project, fez um post contabilizando tudo o que foi compartilhado em uma timeline durante 24 horas. A esmagadora maioria das coisas é completamente inútil (veja a lista neste link). E apenas 4% são conquistas compartilhadas que geram alegria (um amigo que arrumou emprego, filho que nasceu, coisas que deixaram amigos felizes e te deixam também, por tabela). O que penso é que 4% é muito pouco – ainda mais considerando que você teria que estar 24 horas conectado para ver esses posts.

Por que não sair do Facebook então? Cometer o facebookcídio, como muitos cometeram o orkutcídio, anos atrás? Bem, ainda é uma rede de comunicação. Mas, ao que tudo indica, cada vez menos, sobretudo quando o Facebook adota a postura de cobrar para que o conteúdo circule em mais timelines – ou seja: agora, para se comunicar na sua rede, é preciso pagar.

A pergunta que começa a circular, ainda baixinho, é: qual será o próximo Facebook? E outra: pra onde estão indo os jovens? Whatsapp? Snapchat? De volta ao Twitter? Quem sabe?

O principal problema da juventude é justamente esse: não nos convidam pra ir onde eles vão.

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Andre Deak é produtor multimídia, consultor de comunicação digital, professor