A opinião é um assunto muito pautado nas reuniões que visam a “salvar” os meios impressos. Trazer contextualizações, uma reportagem mais completa, trazer visões de mundo no editorial e trazer a voz dos especialistas estão entre as supostas fórmulas mágicas que podem tirar o jornal, a revista, da lama.
Mas será mesmo que o leitor moderno, aquele que tem consciência de novas notícias a cada minuto, aquele que apoiou movimentos sociais, será que esse leitor está disposto a ler a opinião somente dos especialistas? Se há uma coisa que a internet trouxe foi a noção de democracia, um sentimento despertado de maneira tão forte que culmina até em organizações de atos pelas redes sociais. E o leitor? Ele quer o mesmo! Claro que importa saber a opinião do veículo, a opinião do especialista, mas acaba também importando a opinião do cidadão comum. Daquele mesmo cidadão que não estudou em Londres ou na Alemanha, que não trabalhou anos a fio na administração pública.
Importa saber reconhecer as demandas de quem sofre o caos e não somente de quem o observa de longe, e é nisso que as redações devem trabalhar. Vamos a um exemplo prático: recentemente a Linha Vermelha do metrô parou em São Paulo. Nos noticiários, as vozes dos técnicos da CPTM, de engenheiros e do governador que tentavam explicar a falha. Mas, o que interessou mesmo a quem via o assunto de longe? Saber a opinião de quem viveu, de quem ficou horas esperando um trem, de quem trouxe a noção de realidade. E, nesses casos, a opinião valorizada não está somente nos diplomas, mas sim, na vivência.
A voz dos esquecidos
Fazer uma análise crítica sociológica do que acarreta na sociedade urbana o caos no transporte é uma matéria que muito interessa e de cunho acadêmico maravilhoso. Porém, acompanhar uma pessoa que trabalha dez horas por dias na volta, complicada, para casa, pode ser muito mais, pode interessar muito mais e cumprir a premissa de que o jornalismo leve a realidade a quem não a pode ver.
Enfim, não basta que o jornalista apenas fique nas redações fazendo ligações e produzindo entrevistas por e-mail. A nova sociedade não quer isso; ela quer poder enxergar cada mazela que sofre, poder ouvir a voz dos mais esquecidos e esse acesso depende muito de um aliado: a imprensa.
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Aline Rodrigues Imercio é jornalista