Thorstein Veblen viveu na passagem do século 19 para o 20 nos Estados Unidos. É autor de A Teoria da Classe Ociosa, um dos clássicos da Economia. Nessa famosa obra, critica o estilo de vida dos ricos que viviam ociosamente e gostavam de possuir bens e cultivar hábitos que ostentassem essa riqueza, enquanto a classe trabalhadora admirava esse comportamento e procurava imitar o estilo de vida.
Nas últimas semanas, acompanhamos pela imprensa movimentos, aparentemente espontâneos, de jovens da nova classe média brasileira que marcam encontros em shoppings das principais cidades do país para desfilarem com suas roupas e acessórios de grifes, “xavecar e trocar umas ideias”. Eventos que reúnem centenas de pessoas, assustam lojistas e frequentadores e pautam a agenda de discussão da sociedade. Os passeios, batizados de rolezinhos, estão associados a um movimento que ganhou destaque há um pouco mais de tempo, o das músicas de ostentação.
O que me chama atenção nesse movimento é o desejo de emulação da nova classe média, que ascende a essa condição pelo trabalho de forma muito semelhante à observada por Veblen na sociedade americana do início do século passado. O objetivo é o consumo conspícuo, ou seja, o consumo de bens e serviços para ostentar um padrão de vida que, imagina-se, os ricos desfrutem. A propósito, é possível observar três tipos de “ricos” nas sociedades capitalistas: o rico weberiano, que vive uma vida simples e utiliza sua “riqueza” para investir na ampliação da capacidade produtiva da economia e que possibilita o aumento do bem-estar da sociedade; o rico que utiliza uma parcela da sua “riqueza” para consumo com o intuito de viver uma vida mais confortável; e o rico rentista, que forma uma classe ociosa, e geralmente vive de herança e dividendos ou de negociatas e especulação. Normalmente é este último tipo de rico o que ostenta.
Sorry, high society!
Os impactos do “movimento ostentação” para a economia passam da popularização de marcas “vips”, esvaziando a sua utilidade como um “bem de Veblen” (bens e serviços de consumo ostentatório), ao surgimento de marcas ainda mais caras, para se criar um fosso maior entre a classe ociosa e a nova classe média.
Os departamentos de marketing das empresas, atualmente, se dividem entre os que comemoram o fenômeno de popularização das marcas, que ampliam as vendas sem necessidade de baixar preços – suspeita-se até que os “famosinhos”, jovens que possuem milhares de seguidores nas redes sociais, sejam patrocinados por essas empresas – e os que se preocupam com a possibilidade de “desvalorização” das marcas que essa popularização pode provocar.
A ostentação e o rolezinho podem ser interpretados como símbolos de inclusão social, da democratização do olimpo, ou como uma afronta e ridicularização do comportamento da sociedade, suas ilusões, suas futilidades. É como se, parodiando o famoso colunista social Ibrahim Sued, estivessem dizendo: Sorry, high society!
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Alysson André Oliveira Cabral é professor, João Pessoa, PB