Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quem precisa da Petro-Sal?

A cobertura televisiva sobre as discussões quanto à criação da Petro-Sal está decepcionante. Uma mesmice só. Em todos os canais, a discussão mostrada na telinha fica batendo na tecla da luta dos estados por royalties e direito de recompensa pela exploração aos estados produtores, em lugar de proporcionar um amplo debate sobre o tema. Antes disso, deveríamos estar discutindo a necessidade de se criar uma nova companhia para explorar petróleo.

As reportagens de TV têm se limitado a esta controvérsia, como se só este aspecto da questão fosse importante e deixado de explicar o principal. Nem os senadores conseguem resposta que justifique a necessidade da criação da Petro-Sal. Ecoa sem resposta a pergunta da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) no pronunciamento de 1º de setembro: ‘A Petrobras não está dando conta?’

E o regime da nova companhia, por partilha, proposto no projeto do governo, deve ter alguma justificativa para a alteração em relação ao regime da concessão, como da Petrobras, mas esta não foi esclarecida na TV. Este aspecto é merecedor de mais atenção da mídia que uma simples menção de que uma é concessão e a outra, partilha. É preciso contar o que isso significa para o cidadão. Perto de um ano das eleições, criar uma nova companhia para fazer o que é de competência da Petrobras é estranho e não se vê este questionamento pelas equipes de reportagens. Isso interessa aos contribuintes, traumatizados com os ‘dutos’ que desviam dinheiro de estatais para campanhas políticas.

Não faz sentido

E por que a comunidade científica foi excluída da discussão? Não deveria ser ouvida, para contar à opinião pública se a Petrobras tem competência técnica para desenvolver formas de explorar o pré-sal? As personagens das matérias e as abordagens têm sido meramente políticas, o que caberia numa segunda ou terceira etapa da discussão, após não restar dúvida de que a pujante Petrobras, criada para explorar petróleo, não pudesse fazê-lo.

Só isso justificaria a necessidade da criação da Petro-Sal e este, sim, é o ponto primordial da questão. A mídia não questiona este ponto inicial e dá por certa a criação da Petro-Sal, pulando etapas da discussão e deixando de responder perguntas importantes, como por que a Petrobras não pode cumprir seu papel. Pior. A urgência na votação de pauta tão complexa, que envolve números astronômicos, de muitos milhões de dólares, é suspeitíssima!

Esqueceram de questionar o argumento que motiva o governo a criar a nova companhia, que é explorar petróleo na camada pré-sal. Afinal, a Petrobras existe para isso, tem uma trajetória brilhante, quadro técnico capaz de superar desafios, como a exploração em águas profundas, quadro este formado em anos de especialização desde a criação da companhia. Capacitação na área é tão rara que a Petrobras recontrata seus aposentados. Não faz sentido criar uma nova companhia para fazer o que a Petrobras já faz, sem mão-de-obra capacitada suficiente para as duas companhias, para fazer o que a Petrobras já faz e bem: explorar petróleo onde quer que ele esteja; no subsolo ou no fundo do mar ou onde quer que ele esteja. E, possivelmente, dependendo dos experts da Petrobras.

Muito dinheiro em jogo

Por que não fortalecer ainda mais a Petrobras com essa nova descoberta? De quem foi o olho que cresceu em cima dessa nova riqueza a ponto de separar o petróleo em duas companhias, com novas regras de administração e controle de gastos? Não faz sentido.

Não seria mais útil para a sociedade brasileira que a imprensa buscasse respostas a estas perguntas, atuando realmente no esclarecimento à opinião pública de questões antecedentes às brigas dos governadores pelo dinheiro da Petro-Sal, que talvez nem viesse a ser criada, caso essas questões cruciais não fossem respondidas de forma clara e bem fundamentada?

É muito dinheiro em jogo. Não havendo luz sobre o assunto, melhor seria que o petróleo do pré-sal ficasse intocável, como uma poupança para nossos filhos e netos.

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Jornalista