O presidente George W. Bush vem mantendo, nos últimos dias, encontros informais com jornalistas dos maiores veículos de comunicação dos EUA. As reuniões, realizadas na ala residencial da Casa Branca desde a semana passada, acontecem em um momento de troca de correspondentes, em que novos jornalistas, que ainda não tiveram contato com Bush, foram escalados por suas empresas para cobrir a sede do governo.
Os jornalistas são proibidos de divulgar o conteúdo das conversas com o presidente e alguns funcionários da Casa Branca admitiram esperar que as reuniões não chegassem ao conhecimento público. No entanto, na medida em que jornalistas que não compareceram às reuniões ficaram sabendo delas por outras fontes, o fato acabou divulgado pela mídia.
Ao longo dos cinco anos de governo, Bush não manteve uma relação muito amistosa com a imprensa. Em uma coletiva, recentemente, o presidente teria afirmado que precisa convencer os americanos de que a missão dos EUA no Iraque é um caminho para a vitória – embora, segundo ele, a mídia tenha focado excessivamente a violência na cobertura do conflito.
Bush realiza um churrasco anual off the record com jornalistas durante as férias de verão em seu rancho no Texas, mas esta parece ser a primeira vez que o governo faz este tipo de reunião na residência oficial do presidente com os correspondentes. Um jornalista que esteve presente a um dos encontros afirmou que Bush parecia relaxado durante a conversa que tiveram por cerca de uma hora, na qual foram servidos chá gelado, água e refrigerante.
‘Foi muito agradável, ele parecia muito franco’, relatou Stephan Dinan, repórter do conservador Washington Times e um dos seis jornalistas a participar da reunião de segunda-feira (27/3). Além dele, estavam presentes neste encontro jornalistas do Los Angeles Times, Wall Street Journal, Associated Press e Cox Newspapers.
Tentativa de melhorar a imagem
Diversos repórteres, que preferiram não revelar suas identidades, afirmaram que foram convidados pessoalmente pelo secretário de Imprensa da Casa Branca, Scott McClellan – muitos deles receberam o convite horas antes das reuniões. ‘Não me surpreende que o presidente faça isto. Clinton fez o mesmo no final de seu segundo mandato’, afirmou um dos jornalistas. Para outro repórter, está claro que as reuniões são parte de uma tentativa de Bush para melhorar sua imagem diante do decrescente apoio público. ‘Parece que eles estão tentando ser mais comunicativos’, disse, sobre o governo. Já outro classificou o encontro como ‘um pouco surreal’. ‘Ele perguntou sobre nossas famílias, tentando ser informal, mas isto é meio impossível, tendo em vista quem ele é’, relatou.
Muitas organizações de mídia afirmam que as reuniões dão aos jornalistas a oportunidade de observar mais de perto o presidente e ter acesso a suas preocupações e opiniões. O chefe da sucursal da CNN em Washington, David Bohrman, que compareceu a um destes encontros, aprovou a iniciativa. ‘Na maior parte do tempo, o ambiente no qual nossos repórteres lidam com o presidente é muito controlado e eles raramente têm a oportunidade de ter uma conversa com ele. Eu considero estas reuniões importantes para os dois lados’, opinou Bohrman, que não acredita que os encontros sejam comprometedores. ‘Se algo surgir na conversa e alguém quiser ir mais fundo no assunto, os jornalistas são livres para fazê-lo’, afirmou.
Opiniões controversas
O New York Times não tem a mesma opinião e não permitiu que seu representante participasse de um dos encontros, embora editores e repórteres do jornal já tenham comparecido a reuniões off the record com diversos presidentes, incluindo Bush, ao longo dos anos. ‘O Times recusou a oportunidade depois de pesar os benefícios potenciais para os nossos leitores e o fato de não poder divulgar o que foi discutido com o presidente’, afirmou em declaração Philip Taubman, chefe da sucursal do jornal em Washington.
Reuniões off the record com presidentes são um tema controverso entre profissionais de imprensa. Alguns críticos defendem que jornalistas não deveriam se sujeitar a regras que proíbem que comentários de reuniões ou debates sejam divulgados ao público. Informações de Joe Strupp [Editor & Publisher, 27/3/06], Katharine Q. Seelye [The New York Times, 28/3/06] e Charles Babington [Washington Post, 28/3/06].