Um vídeo que mostra Barack Obama em uma entrevista surreal, divulgado na internet esta semana, já rendeu bons frutos para a Casa Branca. O presidente americano participou de um programa de entrevistas online com o ator e humorista Zach Galifianakis. O talk show Between Two Ferns with Zach Galifianakis (Entre duas samambaias com Zach Galifianakis) faz parte do site Funny or Die, que traz esquetes de humor com famosos, e mostra o ator, conhecido pela série de longas Se beber, não case!, fazendo perguntas e comentários esdrúxulos a personalidades – já foram entrevistados o cantor Justin Bieber e a atriz Charlize Theron, entre outros.
Obama participou da brincadeira para divulgar seu programa de reforma no setor de saúde, conhecido informalmente como “Obamacare”, e tinha como objetivo estimular os jovens adultos – fã das comédias de Galifianakis – a se cadastrar no programa. Deu certo: segundo Tara McGuinness, porta-voz da Casa Branca, depois da postagem do vídeo, na manhã de terça-feira [11/3], o maior número de visitas ao site do programa de saúde do governo passou a vir do Funny or Die. Poucas horas após ser postada, a entrevista fake já tinha sido vista quase três milhões de vezes e estava entre os trending topics do Twitter.
Na conversa com o Obama, Galifianakis identifica o presidente como “líder comunitário”, esquece de chamá-lo de presidente, pergunta como ele se sente por ser o último presidente negro e sugere que ele nasceu no Quênia. O humorista também confunde a Coréia do Norte com “Ikea do Norte”, e identifica o ex-jogador de basquete Dennis Rodman, que tornou-se aliado do líder norte-coreano Kim Jong-un, como embaixador dos EUA.
Na tarde de terça, o próprio Obama foi ao Twitter agradecer a Galifianakis por ter ajudado a aumentar as visitas ao site do programa de saúde.
Hey @galifianakisz, thanks for sending so many folks to #GetCoveredNow at http://t.co/5zeR2RQuXe. And good luck with those spider bites. -bo
— The White House (@WhiteHouse) March 11, 2014
Graduado em mídia social
Em artigo no blog sobre política The Fix, do Washington Post, o jornalista Chris Cillizza, que cobre a Casa Branca para o diário, avalia que o presidente americano se tornou o “mais famoso editor das mídias sociais” do mundo. A brincadeira desta semana é, segundo ele, “o mais recente exemplo de como o presidente e seus assessores não apenas entenderam as mudanças no cenário midiático, mas também se mexeram para se beneficiar delas”.
Obama já foi entrevistado pelo ex-jogador da NBA Charles Barkley e participou do talk show do humorista Jon Stewart seis vezes – duas delas como presidente. No fim do ano passado, o ator e comediante Steve Harvey também conseguiu entrevistar Obama para seu talk show.
Já a última entrevista concedida pelo presidente ao New York Times ocorreu em julho do ano passado. O Washington Post o entrevistou pela última vez em dezembro de 2009. O número de vezes em que ele se senta para conversar com jornalistas de veículos da chamada “mídia tradicional” só vem caindo. Na análise de Cillizza:
“Obama e sua equipe acreditam fortemente que a ruptura da mídia tradicional em milhares de sites de nichos alterou fundamentalmente como – e com quem – ele deve gastar seu tempo. Todos os presidentes anteriores a Obama gastavam a maior parte de seu tempo falando com – e vazando informação para – os ‘grandes’ jornais (Washington Post, New York Times, Wall Street Journal, etc) e as redes (CBS, ABC e NBC). Fazê-lo não era opcional; era mais como uma conclusão prévia. Se você queria espalhar a informação, tinha mais ou menos seis opções para fazê-lo.
“A eleição de Obama em 2008 coincidiu com uma mudança rápida nesta equação. O crescimento da mídia não tradicional – do Huffington Post ao Daily Show e outras mil ramificações cobrindo pedaços e partes do ciclo de notícias – permite que este presidente escolha seus veículos e seu público de uma maneira impensável até para George W. Bush. (A tecnologia em mudança – YouTube, Flickr, Twitter, etc – também permite que Obama se esquive da lente tradicional da mídia). Obama compreendeu esta mudança – e o poder que tem para adaptar suas mensagens para audiências específicas e escolher entrevistadores amigáveis – imediatamente ao entrar na Casa Branca. Em sua primeira coletiva de imprensa como presidente, Obama convidou Sam Stein, do Huffington Post, a fazer uma pergunta – em um momento que foi visto como uma ruptura com o modo ‘como as coisas sempre foram feitas’ e um sinal de uma nova ordem midiática.”
Veja aqui a entrevista de Obama em Between Two Ferns with Zach Galifianakis: