A reportagem do G 1, publicada neste dia 17 de março de 2014, que revela o interesse do Gaeco – Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo em investigar se os cerca de cem incêndios a ônibus desde 2013 na cidade têm relação com o crime organizado, dá a oportunidade para uma série de reflexões. Estranhamente ou não, apenas 7% dos veículos atacados são de cooperativas. A maioria dos ônibus destruídos é de empresas.
São várias investigações que mostram indícios de participação de facções criminosas nas cooperativas tanto para a suposta lavagem de dinheiro quanto para engordar o caixa dos bandidos. Tentar ignorar uma possível participação do crime organizado não é a melhor forma de enfrentar o problema. A questão é que a Polícia Civil de São Paulo é formada por profissionais competentes e experientes. Ao longo da cobertura policial pela Rádio CBN, encontramos delegados e investigadores que possuem vontade e condições de esclarecer e ajudar a combater a atuação do crime em São Paulo seja por organizações criminosas ou não.
Mas também verificamos que, mais que em vários estados da federação, a influência política limita o trabalho dos policiais e os impede até mesmo da livre expressão. São criadas cada vez mais etapas burocráticas para checagem no jornalismo policial em São Paulo, que vão desde a necessidade de inúmeros e-mails para a SSP – Secretaria de Segurança Pública até proibição do delegado em mostrar um Boletim de Ocorrência.
A lógica no raciocínio
E a tática do governo do estado de São Paulo é negar problemas. Não que se deva dar força e promover facções criminosas, mas ocultá-las aos olhos da população é o mesmo que protegê-las. A sensação de insegurança é perigosa, mas a falsa sensação de segurança é pior ainda.
Algumas informações não devem ser divulgadas para não atrapalhar investigações, mas o que ocorre no governo de São Paulo é o medo de ficar ruim na mídia. Isso ocorre até com os níveis das represas. O governo reduziu o fornecimento para os municípios que dependem do sistema Cantareira, já falta água em dias e horários marcados, mas as autoridades insistem em dizer que não há racionamento.
Cabe ao jornalista ouvir a versão oficial, mas abordar contradições e divulgar as suspeitas quando elas procedem. Já na cobertura na área de transportes, é possível perceber que estes ataques a ônibus de empresas, não devem, num primeiro momento, se tratar de uma disputa entre viações e cooperativas. O sistema de transportes está bem combinado.
A possibilidade de atuação do crime organizado não deve mesmo ser desconsiderada nos ataques, disfarçados em manifestações populares, pois há lógica no raciocínio do promotor Everton Zanella, coordenador estadual do Gaeco: o crime organizado quer mostrar poder, mas não quer destruir o patrimônio. Além disso, ao saber da possível ligação de algumas cooperativas com facções criminosas, a população tem medo de atacar estes veículos.
******
Adamo Bazani é jornalista