Acabou o Direto da Redação, meio na surdina, e vai fazer falta neste ano de importantes embates políticos. Seu criador foi o jornalista Eliakim Araújo, ex-apresentador dos telejornais da Globo, Manchete e SBT.
Desde 1997, quando participou do telejornal internacional CBS em português, Eliakim vive na Flórida. Em 2001, decidiu criar um informativo plural e imparcial com opiniões de jornalistas sobre temas atuais, foi o Direto da Redação, distribuído para jornalistas, políticos e leitores brasileiros. Seus colunistas não sofriam qualquer tipo de censura ou pressão e Eliakim fazia questão de garantir a diversidade da crítica.
Durante muitos anos, o Direto da Redação, precursor de tantos portais políticos hoje existentes, teve uma média de 25 mil assinantes, e muitas das colunas nele postadas eram redistribuídas por blogs e mesmo publicadas na mídia alternativa, multiplicando sua penetração.
Comecei a colaborar com o Direto da Redação em junho de 2006 e minhas duas primeiras colunas se relacionavam com o problema dos filhos dos emigrantes, destituídos da nacionalidade brasileira pela reforma da Constituição em 1994.
Descobri em pouco tempo desfrutar com o Direto da Redação de uma importante tribuna, capaz de chegar a parlamentares e personalidades do governo. Foi por isso que, recuperada a nacionalidade nata dos brasileiros com a Emenda Constitucional 54/07, em grande parte graças à luta do nosso movimento Brasileirinhos Apátridas, utilizei da tribuna do Direto da Redação para a campanha pelos nossos emigrantes. Denunciei pelo Direto da Redação a entrega da tutela dos brasileiros do exterior ao diplomatas do Itamaraty, um absurdo do qual a presidenta Dilma não quis tomar conhecimento, mesmo se o PT, na Carta de Havana, a alertou a esse respeito.
Em livro
Outra campanha memorável do Direto da Redação foi a lançada em favor do italiano Cesare Battisti, logo nos primeiros dias de sua prisão no Rio de Janeiro,a pedidos dos governos da França e da Itália, e ameaçado de uma extradição para cumprir prisão perpétua na Itália. Fomos pioneiros nisso com Gabeira e Suplicy, mesmo porque Mino Carta, na Carta Capital, usando de sua influência junto à esquerda, juntou-se aos que defendiam a extradição de Battisti.
Felizmente, a campanha em favor de Battisti foi aos poucos encampada por outros militantes, juristas e políticos, mas o Direto da Redação foi o pioneiro e manteve, desde o início, o contato com a defensora francesa de Battisti, Fred Vargas.
O caso Battisti foi o anunciador da tentativa de alguns ministros do STF se apossarem das principais decisões republicanas, descartando inicialmente o ato do ex-ministro da Justiça Tarso Genro concedendo asilo a Battisti, seguida da tentativa de impedir a decisão final em favor de Battisti, garantida pela Constituição, pelo então presidente Lula.
O Direto da Redação alertou nessa época a esquerda, quanto à tentativa do STF de assumir o poder institucional, o que veio se a se confirmar no ano passado.
Cada um dos colunistas tem seus lances importantes escritos dentro do Direto da Redação, para contar. Mario Augusto Jacobskind tem o projeto de publicar, num livro, uma escolha de colunas mais marcantes. Será a maneira de perenizar o Direto da Redação, cujo sítio ou portal, já imobilizado, deverá desaparecer da Internet nas próximas semanas.
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Rui Martins e jornalista, em Genebra