Como diria o escritor americano Mark Twain, ao se deparar com a notícia de que tinha morrido, parecem “ligeiramente exageradas” as previsões de que o meio impresso de comunicação por excelência, o jornal, caminha definitivamente para o cadafalso armado pela propagação explosiva da internet. Decerto como em outros países de consolidada tradição jornalística, no Brasil os diários têm um trunfo que os distingue, em ordem crescente, das emissoras de TV e de rádio, das revistas, dos sites, das redes sociais e dos blogs: a credibilidade.
Atestada numa pesquisa encomendada ao Ibope Inteligência pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), a confiança preferencial do público pelo que sai, dia sim, o outro também, no jornal – incluindo anúncios – é o seu maior patrimônio e passaporte para o futuro. Confiança é sinônimo de segurança, e esta, por sua vez, se alicerça numa tradição em que o acerto predomina amplamente sobre o erro – na escolha do que e como levar ao leitor, na afinidade com as queixas e as aspirações da população e na coerência dos juízos de valor sobre as grandes questões da atualidade.
O levantamento mostra que 53% dos entrevistados confiam sempre ou muitas vezes nos jornais impressos. Os demais índices são: 50% (rádio), 49% (televisão), 40% (revistas), 28% (sites), 24% (redes sociais) e 22% (blogs). A atitude do público segue o mesmo padrão quando se trata do material publicitário que lhe é oferecido nos diversos meios. A confiança dos leitores de jornal no que outrora se chamava de “reclames” é de 47%, ante 42% em relação aos comerciais do rádio e da TV, seguindo-se os das revistas (36%), dos sites (23%), das redes sociais (22%) e dos blogs (19%). Não será exagerado dizer que a confiança no conteúdo editorial se estende, por tabela, aos anúncios veiculados nos diários.
Ponto de referência
“A história e a credibilidade do meio impresso continuam sendo um referencial para as pessoas”, avalia o jornalista Thomas Traumann, titular da Secom. O reconhecimento do governo é insuspeito por definição. O poder, seja qual for o seu ocupante de turno, é a vidraça contra a qual o jornalismo atira as suas pedras mais pontiagudas, porque é a sociedade quem paga pelos seus pecados – e para contrabalançar propensão congênita dos poderosos para esconder ou disfarçar as suas malfeitorias. Ainda no século 18, foi o que levou o americano Thomas Jefferson a dizer que, entre viver em um país sem imprensa ou em um país sem governo, preferia a segunda alternativa.
A função singular dos jornais em papel para a defesa e o aperfeiçoamento do sistema democrático – que resulta não apenas da confiança que o público nela deposita, mas também, significativamente, da influência que exerce junto aos atores sociais e a esfera pública – se mantém não obstante os seus baixos índices de circulação. Apenas 24% dos entrevistados na pesquisa Secom/Ibope disseram ler jornal em papel, ante 97% dos que assistem à TV e 46% dos que acessam a internet. Dos leitores, apenas 6% o fazem diariamente. Entre os telespectadores, 65% ligam o aparelho todos os dias (60% no caso do rádio). Fazem o mesmo 26% dos internautas.
O tempo gasto por cada um desses grupos com o seu meio preferido é outro dado problemático para o jornal impresso. A julgar pela amostra, a internet ocupa 3h39 do dia do brasileiro, de segunda a sexta-feira; a televisão, 3h29; o rádio, 3h07; o jornal, apenas 1h07. Esse período se amplia nos fins de semana – o que os leitores deste texto, por exemplo, hão de saber por experiência própria. O uso da internet também aumenta (10 minutos). A pesquisa não deixa claro o tempo dedicado pelos telespectadores, ouvintes e internautas para se divertir ou se informar. Nos jornais clássicos, a oferta de informação prevalece.
Outra característica dos diários, que independe do tamanho do seu leitorado, por sua natureza estrutural, é ser a matriz da informação que chega ao público pelos demais meios. O jornal impresso continua a ser referência para o modelo dos noticiosos da TV e do rádio. Artigos e reportagens impressos desencadeiam debates nas redes sociais. Há lugar para jornalismo de qualidade em todas as mídias. Mas o seu porto de abrigo é o jornal impresso.