Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Excesso de oferta

Especializado na cobertura de assuntos relacionados à indústria da mídia, o jornalista David Carr publicou esta semana no “New York Times” uma coluna de cunho um pouco mais pessoal, na qual aborda a chamada “era de ouro” vivida pela TV americana neste momento.

“A terra devastada da televisão foi substituída por um excesso de excelência que está alterando fundamentalmente a minha dieta de mídia’ e ameaçando consumir todo o tempo que passo acordado”, escreveu Carr, ecoando um sentimento que parece geral.

O surto de criatividade ocorrido nos últimos dez anos coincide com o desenvolvimento de ferramentas que facilitam o acesso a conteúdos produzidos pela televisão.

De um lado, é cada vez mais comum o uso de DVR, o gravador digital, junto ao aparelho de televisão ou integrado aos sistemas oferecidos pelas operadoras de pacotes de TV paga. Por outro lado, cresce a oferta de serviços “on demand”, como o NOW ou HBO GO, bem como de “streaming”, tipo Netflix.

Os números disponíveis, escreve Carr, mostram que a tecnologia não apenas oferece mais flexibilidade, permitindo que o espectador monte a sua própria “grade”, para ver os programas que quer na hora em que bem entender, como também aumenta o consumo.

Dado curioso

No Brasil, ainda não há dados sobre a audiência dos programas oferecidos pela TV, mas gravados e assistidos em outro horário. O Ibope diz que começou em 2014 a fazer esta medição.

Nos EUA, o instituto Nielsen já divulga há alguns anos dados sobre esta forma de ver TV, que eles chamam de “time-shifted television”. Em 2013, constatou que os americanos assistiram a cerca de 13 horas por mês de programação previamente gravada, duas horas a mais do que em 2012. Esse número representou 10% do consumo total de 134 horas mensais do americano.

Em sua coluna, Carr cita os muitos programas aos quais está assistindo ao mesmo tempo, enquanto aguarda o início da nova temporada de “Game of Thrones” (HBO).

É um cardápio bem eclético, que inclui a segunda temporada de “House of Cards” (Netflix), “Girls” (HBO), “Justified” (Space), “The Walking Dead” (Fox), “Nashville” (Sony), “The Americans” (FX), “Modern Family” (Fox), “Archer” (Sony Spin) e “True Detective” (HBO).

Coloquei entre parênteses os canais que exibem estas séries no Brasil. A este respeito, o jornalista Ricardo Feltrin divulgou um dado curioso em sua coluna no “F5”, na última semana. Ao menos 33 de cada 100 pessoas que assinam pacotes de TV paga não fazem uso algum do conteúdo disponível e deixam o aparelho ligado o dia todo na Globo.

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Mauricio Stycer é colunista da Folha de S.Paulo