O conglomerado editorial Penguin Random House, o maior do mundo, anunciou nesta quarta-feira a compra dos selos de obras gerais do grupo espanhol Santillana. O negócio, fechado pelo valor de € 72 milhões, envolve diretamente o mercado brasileiro: além das espanholas Alfaguara, Suma de Letras e Fontanar, entre outras, entrou no pacote também a brasileira Objetiva, que desde 2005 já estava sob controle (76%) da Santillana. Como parte da editora Companhia das Letras já havia sido comprada pela Penguin no fim de 2011, assim que o negócio for concluído, ela e a Objetiva, que juntas detêm 6% da venda em livrarias no Brasil, passam a fazer parte do mesmo grupo.
Ficaram de fora da transação os ramos didático e infantojuvenil da Santillana voltados a colégios, que, no ano passado, representaram 87% do volume de vendas do grupo – assim, no Brasil, a Santillana continua dona da editora Moderna. Já na Objetiva, seu fundador, Roberto Feith, vendeu os 24% de sua participação na empresa, mas continua no cargo de dirertor editorial. A Companhia das Letras seguirá administrada por Luiz Schwarcz, publisher e sócio com 55% de participação da editora, mas que também acumulará a função de CEO da Penguin Random House Brasil, empresa que surge com o acordo. “Ainda será discutido como será a logística das duas editoras. Não sabemos, por exemplo, o que vai acontecer com as áreas comercial e de logística”, afirmou Roberto Feith. “Mas os selos editorais seguem independentes.”
As duas sedes – da Objetiva, no Rio, e da Companhia das Letras, em São Paulo – continuam separadas. Mas, com a aquisição, a Objetiva adquire uma vantagem comercial que a Companhia das Letras já tinha em relação às outras editoras brasileiras, de poder avaliar em primeira mão os originais estrangeiros da Penguin Random House. Outra mudança é que a Objetiva, assim como a Companhia das Letras já faz há alguns anos, vai passar a agenciar alguns de seus autores para o mercado internacional. “A Penguin se vê como uma empresa de multilocalidades, em vez de apenas uma empresa global, por isso os selos se mantêm independentes”, afirma Schwarcz.
Um grupo forte para a língua espanhola
Há um ano, em janeiro de 2013, chegou a ser publicado na imprensa e logo foi desmentido pelas duas empresas que a Penguin Random House teria comprado o grupo Santillana. No mesmo período, estava em análise por órgãos internacionais a fusão entre Penguin, editora originalmente inglesa, e a Random House, casa editorial americana: o anúncio da fusão foi feito em outubro de 2012, e concluído em julho do ano passado.
“O que aconteceu foi uma tendência de consolidação editorial que já existia no mundo de língua inglesa. Com a fusão entre Random House e Penguin, criou-se um grupo muito forte de língua inglesa; agora, cria-se outro grupo forte para a língua espanhola”, analisa Carlo Carrenho, criador do Publishnews, boletim de notícias sobre o mercado editorial. “O novo grupo é quase um espelho da Penguin Random House no mundo hispânico.”
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André Miranda e Mauricio Meirelles, do Globo