Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Berners-Lee

Há 25 anos, Tim Berners-Lee escreveu um estudo no qual ele propunha um sistema de documentos interligados que pudessem ser armazenados em diferentes locais, contendo links não hierárquicos que os vinculassem uns aos outros. Esses documentos poderiam, assim, ser conectados usando um aplicativo de navegação que abriria a internet ao uso em massa.

Berners-Lee se criou no sudoeste de Londres, e seus pais trabalharam no primeiro computador comercial britânico, o Ferranti Mark 1. Ele estudou física no Queen’s College, da Universidade de Oxford, e, mais tarde, trabalhou no Cern, o centro europeu de pesquisa nuclear, em Genebra, onde desenvolveu aquilo que chamou de “world wide web”. Entre 1993 e 1994, foi criado o primeiro navegador de internet, que permitia acesso a milhões de documentos.

Tim Berners-Lee tomou providências para garantir que a web fosse livre e gratuita. Ele deliberadamente não comercializou sua invenção. Continua a ter um compromisso firme para com a abertura, inclusão e democracia. Mas está cada vez mais preocupado com os esforços dos governos e dos interesses comerciais para controlar uma mídia tão poderosa e apelou por uma “constituição mundial, uma carta de direitos” para a “world wide web”, a fim de proteger e garantir os direitos dos usuários da web em todo o mundo.

O imbróglio do Marco Civil

A comunidade online está em uma encruzilhada, ele argumenta. A internet deveria ser uma mídia “neutra”, que possa ser usada sem a sensação de que “há alguém nos observando por sobre o ombro”.

O inventor da web ocasionalmente soa como se estivesse em combate contra moinhos de ventos em sua campanha pelos direitos on-line universais. Mas ele não é Dom Quixote. Diz que “não devemos transformar a rede em uma série de silos nacionais”. O Brasil no momento está enfrentando dificuldades com seu projeto de lei para a internet. Ronaldo Lemos, colunista desta Folha e criador – até recentemente diretor – do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV do Rio, uma das pessoas que teve papel-chave no desenvolvimento da legislação brasileira, define o imbróglio atual no Congresso como parecido com um episódio da série House of Cards, da Netflix, na qual, depois que o presidente viola uma promessa, um congressista rompe todas as alianças.

O que é lamentável. O Brasil merece uma voz clara sobre a questão. As revelações de Edward Snowden quanto à espionagem norte-americana tornam a iniciativa ainda mais urgente. Em abril, Brasil e Alemanha vão promover em conjunto uma conferência internacional sobre a internet, no Rio. Mas a questão, novamente, é se o Brasil vai colocar a casa em ordem desta vez.

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Kenneth Maxwell é colunista da Folha de S.Paulo