Com a proximidade do 1º de abril, venho recebendo pedidos da mídia em geral para dar um depoimento sobre o gol- pe de 1964. Querem saber quem tinha mudado de lado, apoiado a deposição de João Goulart e depois se voltado contra o regime totalitário que os militares instauraram naquela data.
Em princípio, a maioria foi a favor do golpe, pelo menos até 13 de dezembro de 1968. Com a edição do AI-5, houve um golpe dentro do golpe, desgastada pelas violências e torturas, a mesma maioria passou a detestar o governo e os militares. Exemplo disso foi o próprio “Correio da Manhã”, que combatera Jango diariamente, inclusive publicando os famosos editoriais “Basta” e “Fora”. No entanto, já no dia seguinte, 2 de abril, publicou uma crônica que criticava o movimento da véspera.
Mais prisões
Dois jornalistas merecem destaque: Carlos Lacerda e Hélio Fernandes, os que mais elogiaram os golpes e passaram a combater a ditadura. Lacerda tinha sido o principal oponente de Jango. Com a vitória dos militares, participou da primeira reunião dos generais vitoriosos, acreditando que tomaria o poder, que lhe seria servido numa bandeja.
Recebeu um soco na mesa, dado por um general que ninguém conhecia, mas que assumiu a liderança daquilo que foi chamado de “Alto comando”, do qual saiu o nome de Castello Branco (por sinal, um lacerdista). Percebendo que não tomaria o poder, Lacerda passou a criticar com a violência costumeira o governo e o próprio Castello Branco, associando-o aos “anjos da rua Conde Lage”, zona do baixo meretrício, garantindo que ele era mais feio por dentro do que por fora.
Hélio Fernandes foi dedo-duro implacável, cobrando mais prisões e punições. Chegou a ser candidato a senador pela UDN, mas depois do AI-5 foi cassado e confinado em Fernando de Noronha.
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Carlos Heitor Cony é colunista da Folha de S.Paulo