‘O Conselho Curador e a Diretoria Executiva da Fundação Padre Anchieta deveriam discutir seriamente a necessidade, ou a conveniência, de manter ou extinguir o jornalismo na TV Cultura. A simples discussão do assunto talvez suscitasse a definição de um rumo, o que seria em si um avanço. Como está – e assim está há vários anos – não tem pé nem cabeça.
Vejamos a hipótese de extinção. A Cultura poderia ser uma boa TV pública, melhor que a atual, sem jornalismo. Refiro-me ao jornalismo do dia-a-dia, dos telejornais. Livre dessa obrigação, que para a Cultura parece um fardo insuportável, quem sabe a emissora pudesse se dedicar com bons resultados a outras formas de difusão do conhecimento, cumprindo assim uma parte importante da sua missão.
Ainda na mesma hipótese, a Cultura poderia destinar todo o orçamento hoje destinado aos telejornais à produção de documentários e de outros programas de conteúdo jornalístico, sem a obrigação de correr atrás da notícia do dia. Sem dúvida os recursos disponíveis seriam suficientes para a Cultura ser a melhor do país no gênero – desde que soubesse, é claro, o que fazer com tais recursos. Do jeito que está (repito, assim está há vários anos) o que se vê é um gigantesco desperdício de dinheiro. Com a agravante de se tratar, em boa medida, de dinheiro público.
Examine-se então a outra hipótese: a Cultura decide manter o jornalismo com seus telejornais. Nesse caso, tem que mudar quase tudo. Jornalismo não combina com marasmo, acomodação e preguiça. Deixei de fazer comentários sobre o Jornal da Cultura, o principal da casa, por não ter mais nada novo a dizer. Depois de uma observação registrada neste espaço, de que o Jornal da Cultura estava no fundo do fundo do poço, e da constatação de que lá permanece, o que acrescentar?
De vez em quando a rádio corredor noticia que mudanças radicais estão por acontecer. Essas notícias estão velhas há quase dez anos, ninguém mais lhes dá crédito. É incrível que a Cultura tenha dado uma virada formidável em tantos setores da sua atividade, que tenha renovado e melhorado muito o conjunto da programação, e não consiga mover uma palha no jornalismo.
Aqui e ali notam-se tentativas de revigorar o ânimo, certamente por obra e graça de alguns bons profissionais que a emissora ainda tem. O Diário Paulista, por exemplo, deu-se ao trabalho de ancorar ao vivo da Bienal do Livro e do Museu da Língua Portuguesa, duas iniciativas acertadas, mas que deveriam ser a rotina e não a exceção. Inversamente, excepcional deveria ser a prática de entrevistar o presidente da emissora, o que começa a virar uma rotina – provinciana do tipo jornal de bairro, diga-se.’