No fim da semana passada [21/3], executivos de grandes empresas de internet dos EUA se reuniram com o presidente Barack Obama e seus principais assessores a fim de discutir suas preocupações a respeito dos programas de vigilância do governo.
De acordo com comunicado emitido pela Casa Branca, dentre os presentes estavam Eric Schmidt (presidente-executivo do Google), Mark Zuckerberg (CEO do Facebook), Reed Hastings (CEO da Netflix), Aaron Levie e Drew Houston (diretores-executivos das empresas de armazenamento e compartilhamento de arquivos Box e Dropbox) e Alex Karp (diretor-executivo da Palantir Technologies, empresa de exploração de dados parcialmente apoiada pela CIA e cujos clientes incluem a própria Agência de Segurança Nacional). Executivos do Yahoo e do LinkedIn também foram convidados, mas não compareceram devido a conflitos de agenda.
Uma fonte do setor disse que os convites para a reunião com Obama foram recebidos dois dias depois de Zuckerberg criticar publicamente as práticas de vigilância eletrônica dos EUA em um post amplamente divulgado no Facebook. “Telefonei para o presidente Obama para expressar minha frustração a respeito dos danos que o governo está criando ao nosso futuro. Infelizmente, parece que vai demorar muito para ocorrer uma reforma total e genuína”, escreveu ele.
Novas práticas para coleta de dados
Durante a reunião, Obama procurou oferecer garantias de que o governo está pondo em prática reformas para regularizar a coleta de informações de indivíduos, evitando assim novos escândalos como o deflagrado pelas revelações de Edward Snowden.
“O presidente reiterou o compromisso de seu governo para oferecer maior confiança às pessoas de que seus direitos estão sendo protegidos, ao mesmo tempo preservando as ferramentas que nos mantêm seguros”, disse a Casa Branca.
No entanto, Zuckerberg, um crítico aberto às práticas de coleta de dados por parte do governo americano, não pareceu ter saído satisfeito da reunião. “Embora o governo tenha tomado medidas úteis para reformar suas práticas de vigilância, estas simplesmente não são suficientes”, disse ele através de um porta-voz. “Pessoas em todo o mundo merecem saber que suas informações estão seguras, e o Facebook vai continuar pedindo ao governo americano para ser mais transparente, e também mais protetor das liberdades civis”, concluiu.
A maior mudança abrangerá o programa de coleta de metadados telefônicos, cujo relatório apresentando novas regras será concluído até o dia 28/3. Obama pediu ao procurador-geral Eric Holder e aos órgãos de inteligência dos EUA para darem um retorno antes do prazo final, apresentando soluções para preservar as capacidades necessárias para a manutenção do programa de vigilância, sem que necessariamente o governo necessite armazenar os dados das ligações telefônicas realizadas no país.
Encontro não é inédito
O encontro da semana passada não foi o primeiro do gênero. Em dezembro de 2013, um grupo maior de executivos de tecnologia – incluindo a Microsoft, a AT&T e a Apple – pediu ao governo americano para conter a espionagem eletrônica.
Em janeiro, Obama também esboçou uma série de reformas limitadas para a coleta de dados por parte da NSA, proibindo a espionagem de líderes de nações amigas ou aliadas (a presidente Dilma Roussef foi uma das vítimas da espionagem) e propondo alterações à forma como os dados telefônicos dos cidadãos americanos são processados pela agência de segurança.
Mais transparência
Algumas das maiores empresas de tecnologia dos EUA, incluindo o Google, seu rival Yahoo, Twitter e outros, vêm pressionando por mais transparência, fiscalização e restrições à vigilância de seus clientes.
Ironicamente, as mesmas empresas queixantes também enfrentam críticas devido às próprias práticas de coleta de dados de seus usuários. Em função disso, elas também têm procurado esclarecer suas relações com a aplicação da lei e com as agências de espionagem desde junho, quando Snowden começou a revelar a extensão das capacidades de espionagem do governo.
Artigos com base em documentos secretos divulgados por Snowden detalharam que o governo pode ter grampeado cabos de comunicação que ligam os centros de dados do Google e do Yahoo para interceptar dados dos usuários.
A NSA refutou tais reportagens, alegando que muitas informações eram imprecisas, e reforçou que os programas de espionagem são essenciais para a segurança nacional dos EUA.