Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rui Araújo

‘Primeiro, um esclarecimento que considero necessário.


Muito boa a ideia deste Domingo, fazendo interagir os leitores!


Espero que o feedback não cause muito ruído nos interesses instalados… Espero que persista na útil e interessante direcção por que optou!, escreve Armando Assunção.


A crónica não passou despercebida, motivou uma sugestão…


Depois de ler o artigo da passada semana (sobre a profícua e peculiar correspondência dos leitores) pergunto-me: será que as pessoas sabem qual a função de um provedor do leitor?


E se aceita a minha modesta sugestão, num próximo artigo poderia deixar um pouco mais claro qual a função do provedor, e também a importância do mesmo. Seria especialmente útil para quem se debruça sobre os temas da comunicação…, propõe João Simão.


A modesta proposta é pertinente.


Os leitores continuam a enviar-me denúncias relacionadas com instituições ou empresas, ou simples (sic) desabafos do foro íntimo.


É a constatação de que muitos cidadãos ignoram a que porta bater, mas as mensagens devem ser dirigidas ao director do Público. É isso que acontece nos outros países. Na tradição da grande imprensa europeia, os cidadãos dirigem as suas queixas e reflexões sobre as instituições e a administração pública aos directores dos jornais.


A missão do provedor


1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;


2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;


3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;


4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do Público a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.


Lapsos


Lamento que a direcção do Público tenha optado por chamar para primeira página (no passado domingo) o Schumacher algures na Europa e na Fórmula 1, em vez de destacar a medalha de bronze nos campeonatos do mundo de uma portuguesa, a Naide Gomes.


Pergunto-me porquê.


Estará o projecto Público tão fechado sobre si próprio, no seu mundozinho, esquecendo-se de abrir, de arejar e de informar sobre o que é essencial?


Achará o projecto Público que os Campeonatos do Mundo não passam de uns campeonatos de província e a medalha de bronze uma cena qualquer, sem interesse?


Ou sofrerá o Público do mesmo mal que sofre o país, que é valorizar o que ‘corre mal cá dentro’, desvalorizando sistematicamente o que corre bem e o que nos faz bem?


Ou sofrerá o Público de um qualquer mal português, esse mais recente, de que desporto é futebol (ponto final)?


Não acredito muito, mas… todas as hipóteses são possíveis…


Será puro esquecimento? Grave para um projecto jornalístico.


Seria interessante, como leitora, perceber o que estará na base disto…


Até porque a coisa chega a roçar ‘a ofensa’ e o desprezo por anos de trabalho árduo para representar Portugal e ajudar a acabar com o ‘choradinho’ irritante de que Portugal nunca ganha medalhas.


O que torna a cena verdadeiramente insólita é a opção pelo Schumacher na primeira página… a propósito de quê?, escreve a leitora Delta Sousa e Silva.


Solicitei um esclarecimento a José Manuel Fernandes, o director do jornal.


‘O leitor tem razão e a omissão da chamada de capa à medalha da Naide Gomes resultou de um lapso.


A meio da tarde chegou a ser considerada a hipótese de colocar mesmo uma fotografia na capa do jornal com a atleta portuguesa, mas depois fez-se a opção de publicar uma imagem da cerimónia com que o PS assinalou um ano de Governo. Com esta troca, acabou por ficar esquecida a chamada para o feito da atleta portuguesa.


De uma forma geral, o Público procura dar destaque a todas as modalidades desportivas e não só ao futebol. Temos a escrever sobre atletismo em concreto aquele que considero ser o melhor especialista português, Luís Lopes. Ao contrário dos jornais desportivos, não ‘vivemos’ só de futebol e realizamos não só uma cobertura regular de modalidades mais populares e mais elitistas, como em períodos como os dos Jogos Olímpicos, damos por regra mais informação em mais páginas ao que aí se passa do que a imprensa desportiva.


Naquele dia a solução correcta devia ter sido a de incluir duas chamadas – a da Naide e da Fórmula 1 –, tal como, de resto, sucede na falsa capa interior que abre a área dedicada ao desporto nas edições de domingo e segunda-feira, aquelas em que, por regra, dedicamos mais espaço à informação desportiva’, respondeu o director.


A explicação é aceitável.


A proeza de Naide Gomes foi apesar de tudo noticiada com destaque no interior do jornal.


É importante sublinhar que não se pode, em nome do conceito de proximidade, realçar acontecimentos nacionais de somenos importância absoluta em detrimento de outros que são relevantes e mesmo determinantes para os portugueses no plano mundial.


Não tenho propriamente razões de queixa do Público, mas angustia-me ver que não seja corrigida uma informação errada, que tem reflexos na disciplina que ensino: História.


Li, com muito interesse, o artigo ‘Homenagem tardia a uma mulher desassombrada’ (publicado no dia 26 de Fevereiro). Arajaryr Campos é a grande esquecida do ‘Caso Humberto Delgado’, um crime que ainda hoje é uma das acusações mais prementes ao regime salazarista.


O que, enquanto estudioso desse indesculpável crime e professor de História, me indignou foi a repetição de um erro que começa já a tornarse insuportável: o de que o General e Arajaryr foram mortos em Los Malos Pasos, próximo de Villanueva del Fresno. Este erro (pasme-se!) já chegou até a alguns livros de História!


Basta consultar um livro sério de História, ou os livros sobre o tema Delgado que têm saído, desde os relatos do julgamento dos assassinos até a livros da filha, Iva Delgado, passando pelos livros de Jiménez Redondo, espanhol, que consultou os arquivos judiciais espanhóis, para se saber, com provas documentais, que o General foi morto junto à Ribeira de Olivença, em Los Almerines, bem como a sua secretária (Arajaryr, naturalmente). Ao que parece, com talvez alguma ingenuidade, os seus assassinos, que se faziam passar por opositores a Salazar, convenceram Delgado, que era membro do Grupo dos Amigos de Olivença, que o início do derrube do Estado Novo poderia começar em Olivença, o que mais seduziu e convenceu Delgado de que eles representavam importantes sectores oposicionistas.


Depois de abaterem o General e a brasileira, os carrascos levaram os corpos, durante a noite, para Los Malos Pasos, e aí, sim, os enterraram, após os desfigurarem com ácido.


Penso que será importante repor a verdade dos factos, pois os erros, à força de se repetirem, como tem sido o caso, acabam por parecer- se com verdades, pede Carlos Eduardo da Cruz Luna, professor de Estremoz.


O leitor tem razão.


São José Almeida escreve que Humberto Delgado e a secretária foram assassinados ‘no lugar de Los Malos Pasos, perto da aldeia espanhola raiana de Vilanueva del Fresno’.


Segundo o livro ‘Uma Brasileira contra Salazar’ (Livros Horizonte, pp. 102,103,104) os homicídios ocorreram ‘num local conhecido por Los Almerines’.


A Fundação Humberto Delgado (contactada pelo provedor) confirma esta informação.


É certamente um lapso da jornalista. A explicação poderá residir no facto de os corpos terem sido ‘levados para um local não muito longe, num carreiro chamado Los Malos Pasos, caminho de pastores e contrabandistas, perto da aldeia raiana de Villanueva del Fresno’.


O Público erra, mas reconhece os erros.’