Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder na Venezuela, ocorrem muitos protestos, a favor ou contra a dita revolução bolivariana, porém é no governo de seu sucessor Nicolás Maduro que a insatisfação aumentou e os protestos, ora localizados, tornaram-se uma grande crise interna. A cada dia surgem notícias de mais mortos e a repressão do governo assusta e mostra um lado radical da administração de Maduro, como a prisão de líderes de oposição, generais e a cassação de mandatos de parlamentares que questionam a forma como o governo atua, tanto nos protestos como na política de forma geral.
Não é de hoje que os governos – antes, de Chávez, e agora de Maduro – atuam de forma radical, tendo, por exemplo, uma relação muito conturbada com a imprensa, chegando a fechar jornais que atuavam de forma crítica ao governo. Porém, esses problemas se agravaram atingindo diretamente a população, conforme mostra uma recente reportagem veiculada na GloboNews (ver aqui), onde acompanhamos os problemas enfrentados pelo povo venezuelano, que vão muito além da discordância política. A falta de alimentos, desde farinha de trigo até itens para higiene pessoal, leva a população a enormes filas em supermercados, onde ficam por horas e horas para conseguir coisas básicas para a sobrevivência.
Ainda assim, Maduro consegue manter o apoio de grande parte da população, em parte explicado pela devoção para com o seu antecessor, bem como pela propaganda maciça nas mídias estatais e ainda retóricas contra os ditos inimigos do país, como os Estados Unidos.
Os protestos, em geral, vão se intensificando nas regiões onde a oposição lidera o cenário político. Nesses lugares foram criadas barricadas para dificultar o acesso da polícia, em meio a isso a população mais pobre sofre com as dificuldades do dia-a-dia e com o medo dos eminentes confrontos travados por ambos os lados. Diversas denúncias de repressão foram feitas contra Maduro, e registros indicam que policiais executaram diversos manifestantes e tentam esconder as evidências dos crimes cometidos.
Crise e denúncias
Por outro lado, setores mais radicais da oposição atuam de forma sistêmica para desestabilizar o governo. Muitos integrantes contrários a Maduro atuam tanto dentro quanto fora do país organizando protestos e criando estratégias para frustrar a repressão com objetivos claros de derrubar o governo através da desarticulação das forças internas.
Neste cenário conturbador para a região da América Latina, o Brasil se mostra, mais uma vez, inócuo e indiferente quanto a crise sofrida. Em parte pelo viés ideológico do atual governo petista e também por não ter posição clara no contexto da região. Muitos criticam a própria presidente Dilma Rousseff por não se manifestar quanto aos abusos dos direitos humanos que o governo venezuelano vem de forma paulatina violando, comparando-se esse cenário à ditadura militar do Brasil entre as décadas de 60 e 80.
Neste momento, em que um governo legítimo, pelo menos de acordo com legislação venezuelana, enfrenta tão grave crise e denúncias de atos contra os direitos humanos brotam a todo momento, se faz necessário uma observação atenta de toda a comunidade internacional, pois ambos os lados – governo e oposição – tendem a aproveitar as dificuldades do povo para radicalizar e impor suas ideologias políticas, porém mais do que uma discordância, trata-se de uma crise que afeta toda a população e que se prolongada pode levar a um regime pior e mais repressor do que o que existe, seja ele de direita ou de esquerda.
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Marcos dos Santos Farias é analista de Logística, Campinas, SP