Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os juros e o viés da mídia

Diante de um copo pela metade, a Folha tende a informar que o copo está meio vazio; o Estado, que está meio cheio.

Mesmo que isso seja tido e sabido, vale comparar dois títulos dos dois jornais sobre o mesmo assunto, na última sexta-feira.

Folha: ‘Juro pago por consumidor volta a aumentar em junho’. No texto, nenhuma palavra sobre o juro de julho.

Estado: ‘Juro ao consumidor pára de subir este mês’. No texto, dados sobre dois dias – 1 e 2 de julho –, quando a taxa média para empréstimos pessoais caiu 0,04% em relação a junho.



Olho na manipulação

Deu no Estado que a Anvisa criou um grupão de trabalho (19 membros) para tornar mais estritas as normas a que devem obedecer as farmácias de manipulação.

Essas farmácias vendem medicamentos por uma fração do preço dos produtos de marca e por menos também do que os genéricos. Isso é possível porque elas importam o princípio ativo do remédio – o ‘sal’, como se diz em mediquês – a custo irrisório, de países como a Índia e a República Checa.

Só que elas não têm como controlar a pureza do sal. Isso significa que o paciente que não quer gastar uma fortuna com o badalado antidepressivo Zoloft, por exemplo, nem gastar uma nota com o seu genérico, leva a uma farmácia de manipulação a receita para cloridrato de sertralina na concentração de 50 mg, igual a daqueles.

Acontece que o manipulador não sabe, segundo médicos, se a sertralina que importou a preço de banana está nos conformes para fazer o efeito esperado.

Eis uma pauta de óbvio interesse público que está pedindo para virar matéria: como é – e como funciona – o negócio das farmácias de manipulação? Que garantia tem o consumidor de que está levando exatamente o que o médico receitou?

Será um vexame a mídia ficar esperando as conclusões do grupão da Anvisa, para então informar, burocraticamente, o que poderá mudar na legislação a respeito.