A TV que a gente faz é doente, aberta está num calabouço sem direito a habeas corpus. Criamos, recriamos, reinventamos mil vezes mais o mesmo do sempre. Ela dita a nossa moda e diz o que somos e o que queremos ser. Vivemos a ditadura global televisiva, mais que generalizada. Os seres não têm gosto próprio. No mais, são aliciados a gostar, a rir de zorras, sem fundamento relevantemente cômico. O Ibope mente, “estamos em primeiro”! O cantor mais adorado e ovacionado pelas multidões… De números, não nos representa, não faz o nosso estilo.
A TV se encontra aberta… a mudanças radicais. Nesse interim, escolhem, entre os melhores, o pior prêmio para dar ao artista que não se sabe, muitas vezes, se entrou no palco. Procuramos… Somos caçadores frustrados ao encontrarmos apenas a construção midiática de nomes meteóricos, sem fundamento, nem consistência artística brasileira. Escolhem como passe de mágica o que gostamos e o que queremos. Desconhecemos essa música, dita popular brasileira, a se divulgar nos programas e prostíbulos de auditórios. Ela seria o avesso do gosto cultural local, por isso não fazendo jus a nossa raiz.
O que era da TV, como diria Roberto em sua música, poderia se encaixar aqui e – completando, ela “se perdeu nos labirintos poluídos pela falta de amor” por nossa música; e pelo bom senso do que é a cultura, verdadeiramente brasileira.
Os nossos telejornais nos barganham em malícias e manipulações de uma suposta realidade que mora somente nas mentes das redações globalizadas. Guerrilhas são as armas pelas quais constantemente as telas jogam para a massa onde, ao final, não são elas as lesionadas, mas sim, os inocentes televisionados. No arremate do grande jogo, nunca o telespectador ganha, apenas se utiliza daquilo que deveria ser público. Refém, o que resta ao “teleespect” é torcer para o menos ruim, superar o muito péssimo.
Um eletrodoméstico sem poder de ofensa
O que resta disso são cenas e capítulos inteiros do que há de mais grotesco e constrangedor ao senso comum. Os interesses vão do mercadológico ao religioso, que por sinal, em muitos casos, não sabemos onde começa um, e jamais saberemos onde terminará o outro. E de vários gritos, insinuações e religiões, também se fez a TV que temos hoje. Nos horários disputados do meio quente da comunicação, a fala que soa em eco é o de, “nos dê mais do que é seu, para o nosso deus”.
Parece que não tem mais jeito, estamos descrentes, seja na programação do encher linguiça, seja na do encher os cofres, através do “venha a nós o vosso reino”. Os telejornais não saem por menos e dão sua contribuição em showrnalismo. Entre um informe e outro, uma pausa comercial disfarçada se abre. Em uma brecha, se dá o jeitinho para propagandear os fascínios de desinteresse público. Vendem o que é notícia e mais um pouco. Os tapas, os beijos dramatescos, as intrigas, são inseridas nesse contexto, mas que nem de longe seriam encarados como tais, se não houvesse interesses em comercializar as atrações do nosso “A seguir!”
Definitivamente os enlatados são nossos. Ao ligar a TV, notamos que ela se parece mais com o todo do que conosco. Vemos os mesmos garotos, os mesmos programas. Para as nove… Novelas seguidas, falta pouco. Os reality shows nos mostram a dura realidade do que era o tubo e o no que se tornou ao chegar ao plasma. Os efeitos da globalização para a cultura de um país podem ser mais dolorosos do que poderíamos supor. Infelizmente estamos limitados a olhar a TV como tela ou como mais um eletrodoméstico em nossa sala, sem poder de ofensa à personalidade da nação de “brado retumbante”.
É uma verdade bem concernente. A TV nos matou o gosto. Os telejornais, a capacidade de pensar e julgar.
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Francisco Júlio Xavier é estudante do curso de Comunicação Social-Jornalismo da Universidade Potiguar (UnP)