Dois caminhões carregados com 52 toneladas de papel partiram nesta terça-feira de Cartagena de Índias com destino à Venezuela com a intenção de dar um alívio provisório a três jornais do país vizinho. A iniciativa surgiu da Associação Colombiana de Editores de Diários e Mídias Informativas (Andiarios) à qual pertence a maioria de jornais da Colômbia.
Esta medida foi tomada em solidariedade com a imprensa venezuelana, que tem sérias dificuldades para adquirir as divisas necessárias para a importação de papel. A situação chegou a tal ponto que saíram de circulação 13 jornais e outros 17 se viram obrigados a reduzir seu tamanho e sua tiragem, segundo Espacio Público, uma ONG dedicada à defesa dos direitos humanos, principalmente da liberdade de expressão.
“Com o panorama de limitações de acesso ao papel que não é produzido na Venezuela e que requer divisas para poder comprá-lo (que não são autorizadas, que têm a entrega adiada, cujos pedidos são recusados por qualquer razão), chegou-se à conclusão de que tínhamos que dar um apoio mais incisivo aos jornais venezuelanos”, disse ao El País Nora Sanín, diretora de Andiarios. Sanín explicou que é uma medida simbólica, já que as 52 toneladas suprirão no máximo 15 dias de circulação. Ainda assim, o que procuram é que outros diários da região se somem à iniciativa de emprestar papel aos jornais que o requeiram.
Os caminhões demorarão dois dias em atravessar o norte da Colômbia, do porto de Cartagena até chegar ao território venezuelano. Uma vez ali, espera-se que a carga de papel possa chegar até as instalações do El Impulso, de Barquisimeto, que é o jornal mais antigo da Venezuela, ao El Nacional e ao El Nuevo País, de Caracas, que são os diários mais afetados pela restrição de divisas.
A associação de jornais colombianos confia em que não se apresentem dificuldades no processo. “Estamos fazendo os trâmites conforme à lei, cumprindo todos os requisitos de importação, exportação e nacionalização. Se o Governo (venezuelano) diz que há problema de divisas, pois aqui não se requer divisas e não teriam como se negar a receber o papel”, assegurou Sanín.
“Todos somos Venezuela”
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também se pronunciou e pediu ao Executivo venezuelano que não imponha maiores restrições ao papel. “Esta ação de apoio colocará o governo da Venezuela à prova, para ver se continua com sua estratégia de restrições diretas aos jornais, uma das poucas vozes independentes que ficam no país e que o presidente Nicolás Maduro quer também silenciar”, disse Claudio Paolillo, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, em um comunicado. “Os jornais são a última janela do exercício livre e independente na Venezuela, já que os meios audiovisuais, por efeitos da normativa – que permite intervir nos conteúdos – estão controlados pelo governo e os poderes públicos”, completou Sanín.
Andiarios pediu a importação do papel com as especificações próprias da cada um dos três diários. Também se registrou como comprador da empresa produtora no Canadá, como importador e como exportador. Em 21 de março chegou o navio à Cartagena, onde se nacionalizou o papel e na fronteira venezuelana espera-se que o trâmite de importação seja feito, para que a carga possa seguir até os jornais.
O diário El Nuevo Día, de Puerto Rico manifestou seu interesse em somar-se a este empréstimo de papel que faz parte de uma iniciativa bem maior, liderada também por Andiarios, e que se conhece como “Todos somos Venezuela. Sem liberdade de imprensa não há democracia“. A ideia conseguiu convocar outros veículos do continente como O Globo, do Brasil, La Prensa, do Panamá, La Prensa, da Nicarágua, Clarín, da Argentina, e outros de Honduras e Peru.
Estes jornais publicaram desde 6 de março uma página diária dedicada aos conteúdos venezuelanos, extraídos de um portal que nutrem os mesmos jornais desse país. Ali inclusive estão os links dos jornais oficiais, para que cada diário escolha e decida a informação que quer divulgar como apoio à liberdade de expressão e o direito dos cidadãos venezuelanos à informação.
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Elizabeth Reyes L., do El País, em Bogotá