Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

É tempo de uma nova forma de fazer notícia

Uma sociedade dinâmica, sempre em busca de se informar sobre as transformações em curso, exige um jornal em sintonia com essa realidade. Da descoberta de um fato à publicação na edição impressa, a notícia deve ser adaptada a novas mídias, ganhar personagens, análises e ser enriquecida por especialistas. Por conta disso, desde o dia 24 de março, O Globo adotou um modo diferente de produzir conteúdo, acompanhando os acontecimentos e aprimorando sua abordagem ao longo do dia.

Além disso, a partir de amanhã [domingo, 6/4], o jornal dedicará mais espaço, no impresso e em suas plataformas digitais, a temas relacionados ao cotidiano e à vida dos leitores. Reforça também o time de colaboradores e especialistas em diversos assuntos. A oferta de conteúdos se amplia com reportagens e entrevistas leves e algumas vezes polêmicas, indo além dos temas de sua agenda tradicional.

Entre as principais novidades está a criação de duas seções. A editoria de Sociedade abrangerá temas de interesse e mobilização crescentes, mas que ainda não tinham um espaço fixo nas edições, de ciência a direitos civis, de religião a sexo. Também está prevista a formação do núcleo de vídeojornalismo, um novo canal de notícias do jornal, com produções exclusivas e complementares à pauta diária, que se incorporará ao site nas próximas semanas. “São dois movimentos. O jornal passa a priorizar o digital, ao mesmo tempo em que investe na inovação do impresso”, anuncia o diretor de redação, Ascânio Seleme. “O conjunto de informação nas plataformas digitais cresce de uma forma cada vez mais intensa, especialmente nos celulares.”

Edição contínua

O novo modelo de funcionamento é fruto de um seminário dirigido pela direção da redação e pelos editores executivos, com o apoio da consultora catalã Cases i Associats – responsável pelo redesenho do jornal impresso, junto com um grupo de editores, no segundo semestre de 2013. Durante as quatro etapas do seminário, foram analisados modelos de funcionamento de jornais europeus, tendências de consumo de informação e posicionamento de jornais impressos e digitais no contexto atual. Os editores tiveram a oportunidade de debater diretamente com John Mulholland, editor do dominical The Observer, do Guardian Media Group; Matt Kelly, ex-diretor de mídias digitais do Trinity Group, ambos de Londres; e com Vicente Jimenez, diretor-adjunto do espanhol El País.

Para lidar com as novas mídias, O Globo mudou toda a sua engrenagem. Agora, a proposta é o que se chama edição contínua.

Antes voltados para o fechamento do jornal impresso, os editores começaram, há duas semanas, a dar expediente a partir das 7h. Sua missão é dedicar-se à quantidade e qualidade do conteúdo online. Eles também identificarão os assuntos que, durante o dia, têm potencial para atrair o leitor das outras plataformas. “Os editores chegavam à redação no começo da tarde e seu foco era a edição impressa, considerada a meta principal. Agora, invertemos esta lógica”, conta Seleme. “Para o jornal ser melhor do que já é, precisamos antecipar a produção, ter mais tempo para pensar a notícia.”

O trabalho diário é organizado a partir de três reuniões. Às 8h, o enfoque é nas plataformas digitais. Os editores definem os temas do dia e as apostas da web. Decidem as atualizações de manhã e como elas serão distribuídas em suas equipes.

Ao meio-dia os editores analisam o andamento da produção e os temas principais da edição impressa. O jornal de papel ganha cara a partir das 16h, quando os editores propõem quais são os destaques de suas áreas e os editores-executivos elaboram a primeira página, a partir de mais uma reunião. É nela também que se define como será a home page do site às 6h do dia seguinte.

Os editores-adjuntos são os novos responsáveis pelo fechamento da edição impressa. Para apoiá-los, o jornal contará com um editor de supervisão. Com ele, o jornal vai garantir a qualidade do produto que, no dia seguinte, chega às bancas e à casa do leitor.

Cada editoria adaptou sua programação de uma forma. Em Mundo, por exemplo, é possível acompanhar em tempo real as notícias de países de fuso horário avançado – fatos que antes eram apenas recuperados no início da tarde. A editoria de Esportes aproveita a parte da manhã para voltar suas atenções aos campeonatos europeus, de onde virão as maiores estrelas da Copa do Mundo.

Investimento no celular

O editor-executivo Chico Amaral ressalta que o leitor consulta o seu celular mais de 100 vezes por dia. Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia divulgada no mês passado pelo governo federal, o telefone é, para 40% dos 2.002 entrevistados, a principal forma de acesso à internet. Para torná-lo mais atraente, O Globo já redesenhou sua versão mobi e leva mais notícias à plataforma.

O tablet, que conta com a preferência de 8% dos usuários, é uma plataforma de adesão crescente e, por isso, merece uma abordagem especial. “Quando o editor absorve o fato, deve saber como enriquecê-lo”, destaca Amaral. “O celular exige imediatismo e poder de síntese. O site traz recursos de multimídia e promove mais relacionamento com o leitor. Já O Globo a Mais, que é uma revista eletrônica vespertina para tablet, oferece a possibilidade de uma leitura tranquila.”

Para abastecer tantas plataformas, os repórteres também se aprimoram: ouvem suas fontes, mas produzem entrevistas em vídeos, criam infográficos, lembram de notícias relacionadas. Escrevem primeiro para as versões digitais e, depois, para o impresso.