A coluna Toda Mídia, da Folha, registrou que um professor – na verdade, uma professora – de Berkeley escreveu à revista do New York Times para protestar contra a comparação de Lula ao polonês Lech Walesa, na matéria de capa de 27/6 ‘O fardo do homem pobre’, sobre o presidente. ‘Lula é o Nelson Mandela do Brasil’, acha a antropóloga Nancy Scheper-Hughes.
O que a coluna não registrou foi o motivo que a professora deu para justificar a comparação que ela defende: ‘Ambos foram os primeiros presidentes universalmente e democraticamente eleitos de seus países’.
A este leitor pouco se dá que Ms. Scheper-Hughes desconheça – pobres de seus alunos – que Lula já é o quarto presidente brasileiro eleito ou reeleito pelo voto universal e democrático nos últimos 15 anos.
Mas a publicação da carta da ignara acadêmica levanta uma questão editorial: como deve proceder uma publicação diante de mensagens de leitores que contenham erros factuais (supondo que o editor saiba identificá-los, o que não parece ter sido o caso do responsável pela seção Letters da revista do NYT).
Para todos quantos acreditam que a imprensa deve abrir robusto espaço às manifestações dos leitores, valorizando a diversidade de assuntos e remetentes – do que O Globo dá um bom exemplo –, o problema não é de todo irrelevante.
Quanto mais cuidadoso o jornal ou a revista, mais tratará de preservar o pensamento dos leitores ao editar as cartas de forma que, sem perda de conteúdo significativo, o maior número possível delas caiba no espaço.
Mas não está claro qual a melhor atitude a tomar quando uma carta, talvez até bem argumentada, se baseia numa premissa objetivamente falsa. ‘Derrubar’ a carta? Expurgá-la do erro e editar o resto? Publicá-la com o erro e contribuir eventualmente para a sua propagação? Entrar em contato com o prezado, confrontando-o com o erro cometido e sugerindo que reescreva a carta?
Cartas para este Observatório.