A estreia, na quinta-feira (10/4), de “Tá no Ar: A TV na TV” renova as esperanças de se voltar a ver, na principal emissora do país, uma reflexão bem-humorada e inteligente sobre o próprio meio.
A ideia do programa é de Marcius Melhem, que dividirá os holofotes com Marcelo Adnet. A referência que vem imediatamente à cabeça é o impiedoso “TV Pirata” (1988-90 e 1992), que fez gato e sapato de novelas e jornalísticos da própria emissora.
Mas Melhem, nascido em 1972, prefere dizer, talvez como homenagem, que “Tá no Ar” se parece mais com “Satiricom”, exibido entre 1973 e 75, de autoria de uma dupla genial, vinda do rádio, Max Nunes e Haroldo Barbosa.
Criadores também, entre outros, de “Balança Mas Não Cai” (1968-71), “Faça Humor, Não Faça Guerra” (1970-73) e “Planeta dos Homens” (1976-82), todos exibidos pela Globo, Nunes e Barbosa estabeleceram um antes e um depois deles no humor da emissora.
Não me lembro de “Satiricom”, e há poucos vídeos disponíveis. O site Memória Globo informa que “satirizavam telenovelas, clássicos do cinema, programas de auditório, telejornais e programas radiofônicos”.
Melhem promete seguir a mesma linha, atirando em todas as direções, dentro e fora da Globo. “Naquela época havia seis canais de TV no Brasil. Hoje são 250 canais para a gente sacanear”, disse numa entrevista.
Boa pergunta
Torço muito para que seja verdade. Além da qualidade mais que duvidosa da maior parte de sua programação, a TV brasileira anda muito mal-humorada. Um episódio ocorrido no último domingo (30) é exemplar deste estado de ranzinzice. Deu-se no “Domingão do Faustão”, enquanto o apresentador recebia a modelo Tatiele Polyana, recém-eliminada do “BBB14”.
Famosa por ter perguntado, durante o confinamento, “o que é Dom Casmurro?” e “o que significa Paul McCartney?”, Tatiele foi questionada sobre a fama de “loira burra”. “Burra não!”, indignou-se. “Esperta até demais. Quem foi que ganhou dois carro (sic)?”
E acrescentou: “Não me considero burra de jeito nenhum. É só o meu português”. Sorrindo, observou que pretende trabalhar bastante e, apontando para as dançarinas do Faustão, deu o golpe de misericórdia: “E se nada der certo na vida, ó, eu posso virar uma bailarina”.
Em vez de rir, Faustão indignou-se com a resposta da Miss Cianorte 2011. “É aí que você se engana! Tem que estudar muito. Acho que é difícil na sua idade virar bailarina”. Tatiele esclareceu que tem 22 anos e disse já ter feito aulas de dança. O apresentador perdeu mais uma chance de rir e, muito sério, mandou: “Ah, ela já fez aula de dança. Falta, então, só o português”.
No mesmo dia, o humorista Rafinha Bastos, apresentador do “talkshow” “Agora É Tarde”, na Band, criou um mal-estar ao participar do “Domingo Show”, na Record.
No palco, viu uma reportagem gravada com toda a sua família, naquele tradicional estilo “feito para chorar”. E chorou. Na sequência, reclamou com Geraldo Luis da trilha sonora melosa e afirmou, ao vivo, que o programa é sensacionalista.
Como não há nenhuma informação de que tenha sido obrigado a ocupar o palco de uma das atrações mais sensacionalistas da TV, fica a pergunta: o que foi fazer lá? Ao menos que risse.
******
Mauricio Stycer é colunista da Folha de S.Paulo