[do release da editora]
Depois de surpreender o mundo em 1993, com Palestina, Uma Nação Ocupada – uma extensa e detalhada reportagem que lançou as bases para um novo gênero, o jornalismo em quadrinhos – Joe Sacco reúne os melhores trabalhos feitos no início da carreira e lança numa única obra: Derrotista.
Sim. Suas melhores histórias, e inéditas, sobre as viagens que fez pelo mundo, inclusive como roadie de uma banda de rock em turnê pela Europa, estão no livro lançado em março de 2006 pela Conrad. Mistura de sátira autobiográfica e diário de viagem, o álbum compila as tiras publicadas na revista Yahoo, produzida por Sacco e editada pela Fantagraphics, entre 1988 e 1992.
Além de suas conhecidas reportagens em quadrinhos investigativas, Joe Sacco se revela pela primeira vez como um autor cômico e irreverente. Comunistas, intelectuais, vegetarianos, ecochatos, artistas, magnatas e arrivistas. Ninguém escapa de suas irônias. Nem o próprio Sacco. Em toda parte encontramos seu auto-humor implacável, relatando sua época de estudante universitário, de bibliotecário, escancarando sua insegurança amorosa.
Com apresentações e comentários do próprio autor, Derrotista está dividido em 10 partes e reúne também os primeiros trabalhos de Joe Sacco no estilo que o consagrou – trabalhos sobre a guerra e seu efeito sobre as pessoas. E em dois capítulos o autor fala sobre o uso da força aérea contra civis. Um deles, intitulado ‘Quando boas bombas acontecem para pessoas más’, é uma narrativa em forma de história ilustrada.
Outro momento é um dos mais impressionantes da obra. A história que abre a parte oito, ‘Mais mulheres, mais crianças, mais rápido’, é narrada pela própria mãe de Joe Sacco, que relata sua experiência com a Segunda Guerra, em Malta. ‘O bombardeio tinha começado às 16h30. Sabíamos que a aldeia tinha sido atingida. Como o bombardeio diminuiu, saímos dos abrigos’, conta ela, que passou por momentos terríveis e perdeu muitos amigos e parentes: ‘Voltamos para o quarteirão onde uma cratera se estendia do Lily Band Club até a igreja. Vi um soldado conhecido. Ele nos guiou. Na cratera, jazem o corpo de Gianna e suas duas filhas… De Maria, minha colega de escola … e de Sina… nenhum sangue… só a pele cinza’, lembra.
Há, ainda, uma história sarcástica sobre o circo da mídia durante a cobertura da Guerra do Golfo (parte nove: ‘Como amei a guerra’).’Que maravilha o espírito humano, não?! Os duvidosos campeões iraquianos dele foram massacrados aos milhares, e ele ainda tem esperança! Um pouco otimista, eu diria! Como ver o lado bom em um ataque de Scuds!’, relata Sacco referindo-se aos palestinos.
O autor
Joe Sacco nasceu em 1960, em Malta, um arquipélago europeu localizado ao sul da Cecília, no centro do Mar Mediterrâneo. Mudou-se para os Estados Unidos na década de 1980, onde se formou em jornalismo e editou sua primeira publicação, a Portland Permancent Press. Anos mais tarde criou a revista Yahoo – editada pela editora Fantagraphics – que o projetou no mercado estadunidense.
Sacco tornou-se referência de jornalismo em quadrinhos e um dos maiores quadrinistas do mundo. Mistura desenhos elaborados e realistas com caricaturas de figuras humanas (inclusive de si próprio, que ele teima em desenhar com ‘lábios de Mick Jagger’, seu maior ídolo). Seus livros são relatos em quadrinhos a respeito dessas regiões e seus conflitos. Atualmente, o autor contribui regularmente com pequenas histórias para diversas publicações como o jornal inglês The Guardian, que recentemente publicou tiras de Sacco sobre a guerra do Iraque, nas quais critica a tortura de prisioneiros iraquianos por militares norte-americanos em Abu Ghraib.