Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Snowden participa de entrevista coletiva com Putin

Uma entrevista coletiva com o presidente russo, Vladimir Putin, teve a participação especial de Edward Snowden, o ex-técnico da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) responsável pela revelação, em 2013, do imenso programa de vigilância do governo americano e de outras informações sigilosas da administração de Barack Obama.

No ano passado, Putin irritou o presidente Obama ao se recusar a enviar o foragido americano de volta a seu país, onde ele enfrentaria acusações de espionagem. Hoje, o paradeiro de Snowden é desconhecido. O ex-agente da NSA voou para Hong Kong em junho, onde se encontrou com os jornalistas Glenn Greenwald e Laura Poitras e entregou os primeiros documentos que revelariam ao mundo o programa de vigilância americano, e em seguida foi para Moscou, onde recebeu asilo por um ano, com possibilidade de renovação anual. Os EUA revogaram seu passaporte. Por diversas vezes, Putin afirmou que só deu asilo a Snowden com o compromisso de que ele não usaria o benefício com o objetivo de prejudicar os EUA ou seus laços com a Rússia.

Intrusão e rivalidade

A participação de Snowden na entrevista – em que o presidente responde, em um programa de TV, a perguntas de cidadãos – foi feita por meio de um vídeo, que teria sido pré-gravado. Falando em inglês, o ex-técnico perguntava a Putin se a Rússia “intercepta, armazena ou analisa, de alguma maneira, as comunicações de milhões de indivíduos”. Ele também questionou se o presidente acreditava que o aumento da efetividade das operações de inteligência e de investigações criminais justificaria colocar sob vigilância sociedades inteiras.

Putin, que precisou de ajuda com a tradução da pergunta, fez piada: “Você é um ex-agente. Eu costumava ter ligação com a inteligência. Então vamos falar na língua dos profissionais”. O presidente russo foi oficial da KGB por 16 anos.

Ele afirmou que a a Rússia regula as comunicações como parte de investigações criminais, mas que isso não é feito em grande escala ou de maneira descontrolada. “Eu espero que nunca permitamos isso”, completou, ressaltando que as autoridades russas precisam do consentimento de um tribunal para conduzir esse tipo de vigilância sobre determinado indivíduo. “Por esta razão, não há vigilância em massa aqui e, pela lei, não pode haver.”

O diálogo entre Putin e Snowden permitiu ao presidente posicionar a Rússia – extremamente criticada pela censura e pelo controle sobre os meios de comunicação – como um país menos intrusivo na vida de seus cidadãos do que os EUA. “Nós não temos os meio técnicos ou o dinheiro dos EUA”, completou Putin. “Mas o principal é que nossos serviços de inteligência estão sob controle rígido do estado e da sociedade”.

Um advogado ligado ao governo russo que assessora Snowden desde sua chegada ao país afirmou que o ex-técnico decidiu, por conta própria, enviar uma pergunta a Putin quando soube da entrevista coletiva – cerca de três milhões de pessoas enviaram questões. “Edward é bom com estas tecnologias. Ele soube do programa e gravou um vídeo”, afirmou Anatoly Kucherena. “Ele sabe como entrar na internet de modo seguro, e foi assim que enviou sua questão".

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Veja o vídeo: