Escrevi semana passada sobre a gradual incorporação dos antigos blogs pessoais pelo Facebook, e sobre a transformação do que se costumava chamar carinhosamente de blogosfera em rede social; terminei a coluna perguntando se a mudança valeu a pena (ver “Sim, abandonei meu blog“). Como tudo o que diz respeito à internet, aqui também não há uma resposta fácil – ou, sequer, uma resposta única.
A perda mais sensível, e a que mais salta aos olhos, é a troca dos incontáveis templates dos blogs pela face uniforme do book. Como sabe qualquer pessoa que frequenta livrarias, capas e projetos gráficos são fundamentais para fazer os livros chegarem ao seu público. Da mesma forma, os templates conferiam, a cada blog, um visual que, de saída, já dizia muito sobre o que o leitor poderia encontrar lá. As poucas dicas visuais que o Facebook permite – foto da capa e do autor, imagens da timeline – são, na comparação, um mapa pobre demais para o navegante. De tudo o que se perdeu na troca da blogosfera pelo Facebook, esta é a parte que mais lamento. Eu gostava da individualidade dos templates, mesmo quando se baseavam em modelos padrão do Blogger ou do WordPress, e mesmo quando eram feios de dar dó. É que havia ali um toque individual que falta à massa pasteurizada do FB.
Prejuízo ainda maior, porém, é a dificuldade (eu diria mesmo impossibilidade) de se encontrar um texto no Facebook; se ele estiver entre os comentários, então, é o mesmo que estar perdido para sempre. Toda vez que tento encontrar alguma coisa que li ou vi por lá me lembro da cena final de “Indiana Jones e os caçadores da arca perdida”, em que a famosa arca, devidamente trancafiada num caixote de madeira, é guardada com todo cuidado num depósito gigantesco do governo… abarrotado de caixotes iguais. Enquanto não houver uma ferramenta de busca eficiente na sua rede, o Facebook será igual àquele depósito, com eventuais tesouros perdidos para sempre.
Lembranças em rede
Quem se queixa da falta de privacidade da rede social em comparação aos blogs, porém, ainda não aprendeu a usá-la. Hoje o Facebook permite ajustes de todos os tipos, seja no atacado, seja no varejo. Posso determinar quem vai ver o quê a meu respeito, posso até ter uma página aberta ao mundo em geral e, ainda assim, restringir os posts que quiser aos amigos, a grupos específicos de amigos ou até a mim mesma. Cuidar dessas configurações e abrir e fechar as várias portas e janelas da casa dá um certo trabalho, e muita gente deixa a tarefa pra lá; pois não devia.
As vantagens de postar no Facebook superam as desvantagens, ou a migração dos blogs não teria sido tão radical. A maior delas é, claro, a concentração de todo mundo num mesmo lugar, o que aumenta exponencialmente o número de leitores; além disso, em vez de correr de blog em blog para saber o que os amigos andam escrevendo, basta ao usuário ir à página principal para ver a quantas anda a sua turma.
Além disso, a velocidade que essa comunicação proporciona só é comparável à do Twitter – mas, embora tenha a alcunha de “microblog”, este está bem mais distante do universo blog do que o FB. É verdade que às vezes o Face não nos mostra o que queremos ver, mas sempre é possível clicar sobre a foto de alguém para ir à sua página – mais ou menos, aliás, como fazíamos com os links das listas de blogs amigos.
Queixa recorrente: as conversas nos blogs eram mais íntimas, em geral todos se conheciam e havia poucos trolls. É verdade. Sob este aspecto, trocamos um pequeno bistrô por um grande buffet. Perde-se em sossego, ganha-se em variedade. A algazarra do Facebook é consequência inevitável do número sempre crescente de pessoas que continuam subindo a bordo. Alguns tripulantes escaldados, que já perderam anos de lembranças em redes que foram a pique, como o falecido Multiply, acham que, com todas as vantagens do Facebook, não custa nada manter um blog navegando quietinho ali ao lado, como bote salva-vidas.
Vai que…
******
Cora Rónai é colunista do Globo