A compreensão da relação entre mídia e processo democrático se faz fundamental na contemporaneidade. Atualmente, os meios de comunicação de massa cumprem uma importante função na composição do ambiente social, uma vez que, através noticiários ou programas de entretenimento, o cidadão comum recebe, direta ou indiretamente, a maioria das informações que utiliza para se situar no mundo. O contato frequente do indivíduo com os discursos produzidos pela mídia ampliou a sua vivência e lhe deu novas formas e sentidos à constituição de sua identidade e à codificação de seus comportamentos.
Da mesma forma, o impacto da mídia na vida política também deixou marcas indeléveis, na medida em que alteraram as formas de discurso, a relação entre representantes e representados e as vias de acesso para a carreira política. Hoje, considera-se a mídia a principal ferramenta para a interface entre a elite política e os cidadãos. Esse contato apresenta sérias consequências. Uma delas é que o acesso à mídia substituiu esquemas políticos tradicionais, resultando na redução do peso dos partidos políticos. Neles, a cúpula mobilizava seus apoiadores e, por meio deles, alcançava o cidadão, recolhendo sua demanda e fazendo-a chegar às esferas do exercício do poder.
Entretanto, devido ao alcance dos meios de comunicação de massa, essas funções foram supridas pela própria mídia, contribuindo para a derrocada da política de partidos. Como apontam os estudiosos do campo da comunicação e da política Luiz Felipe Miguel e Flávia Biroli, essa interface também gerou mudanças no discurso político, que se adaptou às formas preferidas pelos meios de comunicação. Assim, a imagem do político ganhou uma grande importância, já que vivemos em uma era na qual a televisão é a principal fonte de informação da população. Percebe-se então a prevalência de discursos vazios e fragmentados. A consequência é que a fala de um entrevistado num telejornal, por exemplo, é de poucos segundos. E o próprio telespectador espera que seja assim, pois já está adaptado e recusa discursos demorados. Dentro dessa lógica, os políticos também adequaram suas falas, tornando-as abreviadas e sempre escolhendo dizer aquelas que causam efeito. Tal comportamento transformou-se em uma regra para o alcance da notoriedade.
A ligação dos meios de comunicação de massa com a política também resulta na produção da agenda política, capaz de engendrar preocupações públicas e fornecer esquemas narrativos que permitem a interpretação dos acontecimentos. O impacto disso não é perceptível apenas para o cidadão comum, que será levado a entender como mais importantes as questões destacadas pelos meios e comunicação, mas também no comportamento de líderes políticos e de funcionários públicos, que vão se ver obrigados a dar uma resposta, de forma imediata, a questões apontadas pela mídia.
O poder de alcance da mídia
Quando a mídia fornece esquemas narrativos para a interpretação dos fatos, acaba destacando alguns desses acontecimentos, enquanto outros são desprezados. O controle sobre a agenda e sobre a visibilidade dos diversos enquadramentos, que é a base da centralidade dos meios de comunicação no processo político contemporâneo, não passa despercebido dos agentes políticos, que vão orientar suas ações naquilo que possa gerar algum impacto na mídia.
Dentro desse contexto, o candidato a político, que passa a dar uma maior importância a sua imagem, absorve os critérios de noticiabilidade, fazendo da visibilidade na mídia um componente de produção de capital político. Essa notoriedade transforma-se em condição necessária para o acesso às posições mais importantes do campo político. Todavia, essa visibilidade não sai de graça, uma vez que, se não for usada de forma prudente, pode resultar em escândalos. Daí, os candidatos devem cuidar da “retaguarda” das suas vidas privadas.
Vale ressaltar ainda que, apesar de toda a visibilidade, nem toda a política está visível e muito do que faz parte dela acontece nos bastidores, o que significa que muitos candidatos, com grande capital político, conhecem as artimanhas para manipular os meios de comunicação de massa. Depreende-se, dessa forma, que a relação entre mídia e política é complexa e que é impossível pensar a política sem considerar o poder de alcance da mídia.
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Marcos Paulo de Araújo Barros é jornalista e mestrando em Comunicação