O Guia dos Curiosos (Editora Pandabooks), do jornalista Marcelo Duarte, depois de 44 semanas na lista dos mais vendidos, 16 delas em primeiro lugar, fez tanto sucesso, que virou coleção, com volumes específicos sobre Esportes, Invenções, Jogos Olímpicos, Sexo, Língua Portuguesa, Brasil.
É um dos raros casos a conciliar qualidade e sucesso comercial, pois é sabido que, no Brasil, livros bons ou mesmo excelentes costumam ter baixo desempenho nas livrarias. A epígrafe, da escritora Dorothy Parker, resume a verdadeira doença que é a curiosidade, ‘a cura para o tédio’. Para atender a curiosidade do público foi necessário resolver um problema: o livro tem que estar ao alcance dos leitores que o querem. E é o que tem acontecido.
Dividido em vinte seções, ele reúne informações que fazem a delícia dos curiosos em assuntos como a ecologia, o corpo humano, as comidas, os esportes, as invenções, o folclore, as medidas etc.
Vejamos o caso das medidas. Todos os dias, uma dona de casa percorre 16 quilômetros dentro de casa, mais do que a corrida de São Silvestre, cujo percurso oficial é de 15 quilômetros. Naturalmente, leva muito mais tempo nos trechos domésticos do que levou a vencedora de 2008, Yimer Wude Ayalew, da Etiópia, apenas 51 segundos à frente da brasileira Fabiana Cristine da Silva, por sua vez com apenas 20 segundos na dianteira de outra brasileira, Marily dos Santos. Aliás, as brasileiras comemoram também o quarto e o quinto lugares, com Edielza Alves dos Santos e Luzia de Souza Pinto.
Quem matou?
Você quer saber quantas folhas tem uma resma (500), quantos quilos tem um fardo de algodão ( 1.100), quantos metros tem uma légua (6.600), quantos litros tem um barril de petróleo (158,9873), quantas dúzias tem uma grosa (12 dúzias ou 144 unidades) e quantos litros tem um galão? Bem, nos EUA, o galão tem 3,785 litros, e na Inglaterra, 4,456.
Uma polegada foi sempre a largura do polegar de um homem, mas isso resultava em controvérsias, pois os dedos variavam de gordos para magros, de altos para baixos. Então, o rei inglês Eduardo I, ainda no século 14, determinou que a polegada correspondesse a três grãos de cevada, medida, aliás, utilizada até hoje para definir o número do sapato que calçamos, igualmente fixada pelo mesmo rei com grãos de cevada também. Quem calça 39, calça trinta grãos de cevada, hoje transformados em pontos. Mas com algumas diferenças. A mulher que calça 37 no Brasil, calça 39 na Europa e 8 nos EUA. O calçado masculino tem outras variações. O homem que calça 40 no Brasil, calçará 42 na Europa e 8 nos EUA.
Nas páginas dedicadas ao cinema e à televisão, Marcelo Duarte lembra quem foi o assassino de Salomão Hayala, da novela O Astro, que, transmitida pela Rede Globo entre dezembro de 1977 e 8 de julho de 1978, paralisava o Brasil. Foi o ator Edwin Luisi, amante de Teresa Rachel, que se tornou então viúva de Dionísio de Azevedo, os três vivendo respectivamente os papéis de Filipe Cerqueira, Clô e Salomão. Já quem matou Odete Roitman (Beatriz Segall) em Vale Tudo, exibida entre 1988 e 1989, foi Leila (Cássia Kiss), ao descobrir que seu marido Marco Aurélio (Reginaldo Farias) era amante de Fátima (Glória Pires). Só quando viu o corpo de Odete caído foi que ela percebeu o engano.
Babás modernas
Também o cinema está repleto de curiosidades, com o número de tortas (quatrocentas) que Oliver Hardy (o Gordo) e Stan Laurel (O Magro) lançaram um no outro no primeiro longa-metragem, A batalha do século. O jornalista pesquisou também a confusão que resultou em erros célebres, já consolidados como verdades, de que é exemplo-síntese a frase ‘Play it again, Sam’ (toque de novo, Sam), dada como proferida no filme Casablanca, de 1942. A frase é dita em outro filme, Uma noite em Casablanca, de 1946, dos Irmãos Marx. Outras frases não são tão famosas, mas são igualmente curiosas. Depois que a atriz Meg Ryan finge um orgasmo em Harry e Sally (1989), em cena filmada em Nova York, na famosa delicatessen Katz´s Deli, é a mãe do diretor Rob Reiner a mulher que diz ‘I´ll have what she´s having’ (eu vou ter o que ela está tendo ou eu também quero).
A seção explica também como o Ibope mede a audiência dos programas de TV, que, aliás, mantêm os resquícios do rádio, pois diz ‘audiência’ para definir o que é mais visto do que ouvido. O Ibope instala um medidor chamado peoplemeter em residências de dez capitais brasileiras: Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Salvador. À medida em que identifica o canal, o aparelho envia um sinal de radiofrequência à central. Um por cento do universo pesquisado equivale a um ponto de audiência.
Depois de ler o livro de Marcelo Duarte, o leitor terá obtido um entretenimento dos mais interessantes e certamente terá aumentado sua cultura geral, o ponto fraco dos candidatos em tantas provas e testes. Por exemplo: no capítulo sobre comidas, as invenções de pratos famosos resultam em relâmpagos muito interessantes acerca dos usos e costumes de diversos países. No ano da França no Brasil, saberemos que foi depois da Segunda Guerra Mundial que trocamos de influência e passamos à órbita dos EUA em quase tudo, não apenas adotando o cachorro-quente, mas também o cinema, a música, os livros etc.
Marcelo Duarte faz as vezes de uma babá ou vovó que conta histórias para acalmar as crianças. Não importa que seja apenas um pequeno trecho, importa que ele está sempre ali na estante para contar-nos uma historinha, como faziam babás, vovós ou pais à beira da cama, hoje infelizmente substituídos por aparelhos de televisão em cada canto das residências.