Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Produtor suspenso por mensagem sobre o presidente

Dois e-mails escritos há mais de um ano renderam uma suspensão de um mês ao produtor-executivo da edição de fim de semana do Good Morning America, na rede ABC. As duas mensagens enviadas por John Green a um colega foram divulgadas na semana passada pelo blog Drudge Report e pelo jornal New York Post.


O primeiro e-mail, que foi parar na internet, foi escrito por Green durante um debate em 2004 entre o atual presidente republicano George W. Bush e o então candidato democrata John Kerry. O produtor comentou: ‘Você está assistindo a isso? Bush me faz passar mal. Se ele usar a história das ‘mensagens confusas’ mais uma vez, eu vou vomitar’.


Na segunda mensagem, publicada na página de fofocas do NYPost, Green escreveu que a ex-secretária de Estado Madeleine Albright não deveria ser escalada para o programa porque ela teria ‘vergonha de ser judia’. Criada como católica, Madeleine descobriu que tinha ascendência judia em 1997, a partir de uma apuração feita por um repórter do Washington Post. O produtor afirmava ainda que ‘ela nos odeia, de qualquer maneira, porque ela diz que nós prometemos cinco minutos a ela e só demos dois… eu não gosto dela’. Um funcionário da ABC diz que Green estava reagindo a um desentendimento entre Madeleine e um outro produtor da emissora.


Motivos desconhecidos


Não se sabe quem vazou as mensagens, e nem os motivos que teriam levado alguém a divulgá-las tanto tempo depois de escritas. Após a publicação, Green escreveu aos colegas para dizer que sentia muito pela ‘vergonha que esta história causa a ABC’ e pedir desculpas pelos comentários inapropriados.


A suspensão do produtor foi pedida pelo vice-presidente sênior para padrões editoriais, Kerry Marash, e aprovada pelo presidente da ABC News, David Westin. Green trabalha na emissora há 12 anos, e participou do lançamento das edições de fim de semana do Good Morning America, há quatro anos.


‘Todos os funcionários da ABC News estão insatisfeitos com esta situação, pois ela reflete em todos nós’, afirmou o porta-voz Jeffrey Schneider. Mas, completou ele, ‘eu não acho que os e-mails nos dizem algo sobre o programa que John Green colocava no ar todo sábado e domingo, que era preciso, equilibrado e imparcial’.


Proibido opinar


Marvin Kalb, do Centro Joan Shorestein sobre Imprensa, Política e Política Pública, da Universidade de Harvard, comenta que o caso de Green serve de alerta para os jornalistas, que devem estar sempre vigilantes sobre como se expressam em uma época em que há centenas de blogs e sítios de internet dedicados a monitorar suas ações – como se eles fossem celebridades cinematográficas.


‘Um repórter, um produtor ou um editor deveriam ter o direito de expressar uma opinião pessoal de vez em quando, sem que isto se torne uma notícia’, diz. Do modo como as coisas seguem, completa Kalb, ‘nós vamos acabar podendo confidenciar nossas opiniões apenas para nossas esposas, embaixo das cobertas, tarde da noite. E isto é muito triste’. Informações de Howard Kurtz [Washington Post, 1/4/06] e Jacques Steinberg [The New York Times, 4/4/06].