Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um banho de estética

A novela das 18 horas ainda mantém padrões tradicionais dos personagens que compõem a história: existe uma mocinha, representada na figura da professora; um vilão que é o fazendeiro e se sente no direito de comandar a vida das pessoas; um ou dois rapazes que duelarão até o fim da trama pelo amor da mocinha. Mas além deste estilo costumeiramente utilizado pelos autores, a obra tem sido bastante comentada por seu inovador conteúdo estético, resultante numa explosão de cores e formas nunca antes vistas numa telenovela brasileira. Luiz Fernando Carvalho, diretor, é o responsável por esta alteração visual que chama a atenção em vários aspectos e faz-nos pensar que é possível atrair a atenção do telespectador com valores artísticos que não o enredo em si.

Esta é, sobretudo, uma nova maneira de criar sentido; criar expectativa sobre um traçado que mais se parece com um desenho animado, às vezes sem foco e quase sempre atrativo; é distante da realidade das novelas convencionais, mas muito próxima no discurso dos personagens, no seu jeito caipira de falar, na estruturação do enredo em volta duma personagem principal carismática e apaixonante. Em certo momento, a crítica e o público imaginaram que a novela era mais uma história infantil do que propriamente um enredo para abordar temas mais sérios. Por sua especificidade, a novela de Benedito Ruy Barbosa exibe uma estética que sem dúvida atrai o público infantil, embora não se exima de criticar a autoridade excessiva de um coronel, o ideal de educação duma jovem professora, a perspectiva e compreensão de mundo duma menina que é a todo momento “podada” pela arbitrariedade do pai.

As imagens se não são excêntricas compõem uma alternativa ao natural, ao comum. Como se houvesse sido extraída de um livro de ilustrações infantil, a história da professorinha Juliana é mais que um apelo à visão, ao elemento sensorial da retina: é um modelo a ser seguido pela teledramaturgia que, cansada de trilhar sempre pelos caminhos da rotina, do enquadramento imutável, das cores inalteradas, busca uma nova forma para atrair os telespectadores. Talvez seja o momento oportuno para que a televisão descubra em outros produtos culturais sua verdadeira fonte de recriação.

Os resultados na telinha

Com uma das audiências mais baixas da história da telenovela no horário das 18, no dia da estreia, Meu Pedacinho de Chão sofre com as críticas de quem não está acostumado a mudanças estéticas bruscas, uma alteração importantíssima na linguagem audiovisual que se reflete numa estranheza, provavelmente efêmera, uma vez que, compreendendo que o estilo da novela não será outro senão este, o telespectador começa a compreender o que significa aquele banho de estética. É muito importante que esta novela se torne uma representação alternativa às novelas ‘tradicionais’.

Tornar-se-á mais comum que autores e diretores optem por uma teledramaturgia recontada com estilos diferenciados para atrair a atenção do público. Com isso não é possível afirmar que não haverá rejeições, mas neste mesmo horário, em 2011, a TV Globo inovou e lançou Cordel Encantado, telenovela com uma linguagem típica dos cordéis, escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes e dirigida por Amora Mautner. Um sucesso, assim como deverá ser a atual ocupante do horário na programação global.

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Mailson Ramos é escritor