Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No estado do Rio, rede social ainda é dos mais ricos

Não é por acaso que redes como Facebook e Twitter são chamadas de sociais, e o perfil dos seus usuários no Rio deixa isso claro. Pesquisa da empresa de opinião pública Instituto Informa concluiu que a demografia é fator determinante na penetração de sites de relacionamento, pelo menos entre os habitantes do estado. Quanto maior a renda e a escolaridade da pessoa, mais provável é encontrá-la em versão digital pelas redes.

O estudo ouviu pessoalmente 10.865 moradores de todas as regiões do Rio no último trimestre de 2013. Embora já tenha virado um truísmo dizer que “todo mundo está no Facebook”, o levantamento revela que os adeptos das redes não são sequer maioria por aqui: apenas 47,2% da população fluminense estão dentro delas. Entre as mulheres, a incidência é de 49,6%, contra 44,8% dos homens.

O site de Mark Zuckerberg é, disparado, o mais popular, atingindo 42,3% da população. O Twitter, segunda rede mais usada, fica muito atrás, sendo utilizado por 3,8%. O Linkedin é acessado por 1% dos habitantes do Rio.

Na Zona Sul da capital, 60% usam

Dentro do grupo de conectados, os mais jovens, ricos e estudados dominam. Enquanto as redes sociais são um hábito para 85,6% dos adolescentes de 16 a 19 anos, o percentual cai gradativamente quando se avança nas faixas etárias. Entre as pessoas com 30 a 39 anos, a penetração é 56,1%; quanto à população com 50 anos ou mais, somente 20,8% mantêm perfis virtuais. A fatia da população com renda familiar de até dois salários e com perfil em redes sociais é pequena, de apenas 38,8%, enquanto 64,2% daqueles com renda superior a dez salários utilizam os sites, parcela bem maior que a média de uso no Rio.

Como renda e escolaridade estão diretamente ligadas, a formação dos usuários também reflete a penetração das redes, explica o sociólogo Fabio Gomes, que coordenou o levantamento. Os sites atingem, por exemplo, 72,3% daqueles que têm formação superior, mas são rarefeitos (23,2%) entre quem terminou apenas o ensino fundamental. Entre os que concluíram até o ensino médio, a fatia de usuários é de 54,8%.

A incidência geográfica das redes também espelha a renda. Enquanto na Zona Sul carioca o acesso abrange 60,5% dos moradores, ele cai a 43,7% no Grande Méier, Zona Norte, e a 39,1% no Norte Fluminense. “A relação entre renda e idade é gritante. Ela fica muito clara mesmo entre os adolescentes, que estão em peso nas redes. Entre os mais pobres, o percentual dos que não usam os sites é de 14%, o dobro daquele dos adolescentes mais ricos”, conta Gomes, que foi levado a realizar a pesquisa pela curiosidade de ir além dos levantamentos feitos com questionários on-line, que atingem apenas quem já é internauta.

O universitário Breno Lima, de 24 anos, é exemplo de jovem de classe mais alta obcecado por redes sociais. “Eu saio da faculdade e já pego o telefone, ando com ele na mão, é um hábito. Os serviços que mais acesso são Twitter e WhatsApp, mas entro bastante também no Facebook”, diz o estudante, que cursa Ciência da Computação na Universidade Veiga de Almeida.

A utilização também varia bastante, segundo a renda, entre os mais velhos. Se somente 14% dos mais pobres com idade acima de 50 usam redes sociais, o número sobe para 43% na população mais rica com a mesma faixa etária. Na avaliação de Gomes, os mais velhos com maior renda sentem maior necessidade de se manter informados e sofrem maior pressão do meio social para se atualizar.

Vilma de Moura representa esses idosos conectados, com 77 anos, contas em Facebook, Twitter e Orkut e um smartphone sofisticado. Ela diz que aprendeu a utilizar as tecnologias sozinha, mas aprofundou seus conhecimentos sobre as redes no ano retrasado, quando começou a frequentar cursos no centro de internet comunitária do Proderj em Copacabana. Moradora do Leme, na Zona Sul do Rio, a aposentada tem uma vida financeira confortável trabalhando como gestora de clínicas de estética. Ela se formou em Enfermagem nos anos 1960 pela Faculdade Luíza de Marillac e é pós-graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Uso o Facebook quase todo dia, seja no computador, seja no aplicativo para celular. Tenho mais de 300 amigos espalhados pelo mundo, na França, na Holanda… Por meio dele eu consigo ler coisas novas, ficar exposta a ideias interessantes, aprender”, enumerou Vilma, que não tem usado mais o Orkut por considerá-lo “muito parado”. “Mas a maioria das minhas amizades no Face é mesmo mais jovem. Elas agora estão me incentivando a criar um perfil no Instagram, e eu vou fazer. É um jeito mais moderno de mostrar fotos.”

Inclusão vai mudar perfil

A pesquisa também captou a presença mais forte das redes entre ateus e agnósticos, com penetração de 63,3% e 55,4%, respectivamente. Na avaliação de Fabio Gomes, é provável que isso também tenha a ver com escolaridade e renda, já que ateus e agnósticos são mais presentes entre os mais ricos e estudados. O mesmo fator explicaria a penetração importante de 60,8% entre espíritas. Entre evangélicos tradicionais, o percentual é de 52,4%; dentro do grupo de evangélicos pentecostais, de 48,2%. O uso é mais baixo entre os católicos, de 41,2%.

“Rede social é praticamente um sinônimo de internet por aqui, praticamente todo internauta acessa esses sites. Com a inclusão digital das classes C,D e E, que cresce em ritmo acelerado, e o envelhecimento da população, a tendência é que o perfil de usuário das redes sociais se transforme rapidamente”, comenta Roberto Cassano, diretor de estratégia da Agência Frog, especializada em mídias digitais. “Nos Estados Unidos, por exemplo, os baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964), mesmo com mais idade, são muito mais conectados que os daqui, e isso é reflexo da renda e do acesso às tecnologias” (Colaborou Maria Clara Serra).

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Rennan Setti, do Globo