Quem disse que “amizade não se compra” obviamente não tem estado na internet nos últimos tempos. Recentemente, comprei quatro mil seguidores no Twitter pelo preço de um cafezinho. Fiz quatro mil amigos no Facebook pelas mesmas cinco pratas e, por alguns dólares a mais, consegui que a metade deles curtisse uma foto que compartilhei no site.
Se estivesse disposto a pagar 3.700 dólares (pouco mais de R$ 8 mil), poderia ter feito um milhão – sim, um milhão – de novos amigos no Instagram. E, por 40 dólares a mais, 10 mil deles curtiriam uma de minhas fotos do pôr-do-sol.
Retuítes. Curtidas. Preferidos. Comentários. Aprovação. Visitas à página. Pode escolher; estão à venda em sites como Swenzy, Fiverr e inúmeros outros. Muitos de meus novos amigos vivem fora dos Estados Unidos, principalmente na Índia, Bangladesh, Romênia e Rússia – e não são exatamente humanos. São bots [aplicativos de software que simulam ações humanas], ou linhas de código. Mas foram construídos para se comportarem como pessoas nas redes sociais.
Os bots já existem há anos e antigamente eram fáceis de identificar. Tinham fotos aleatórias como avatares (frequentemente de uma mulher sensual), usavam nomes criados pelo computador (como Jen934107) e compartilhavam besteiras absolutas (principalmente, links para sites de pornografia).
Hashtags para abafar discussões
Mas os bots de hoje, para disfarçar melhor sua identidade, têm nomes que parecem verdadeiros. Mantêm os horários dos humanos, suspendendo a atividade no meio da noite e retomando-a de manhã. Compartilham fotos, dão risadas e gargalhadas e até se envolvem em conversas uns com os outros. E há milhões deles.
Estes cidadãos imaginários da internet têm um poder surpreendente, fazendo com que celebridades, candidatos a celebridades e empresas pareçam mais populares do que realmente são, influenciando a opinião pública sobre cultura e mercadorias e, em alguns casos, influenciando as agendas políticas. “Venho trabalhando com esses bots sociais há muito tempo e hoje em dia eles parecem ser pessoas no ambiente online – mesmo que não sejam”, diz Tim Hwang, principal cientista da Pacific Social Architecting Corporation, um grupo de pesquisa que estuda como os bots e a tecnologia podem influenciar o comportamento social.
Há várias maneiras de construir bots. Uma das ferramentas de gerenciamento de bots mais conhecidas é um programa chamado Zeus, que pode ser adquirido por 700 dólares (pouco mais de R$ 1.500) e oferece um painel de instrumentos a partir do qual você pode controlar seu exército de bots. (Além de criar bots para redes sociais, o programa é usado para objetivos mais perversos, como roubo de identidade.) Programadores mais avançados constroem sua turma de bots a partir do zero.
Muitas vezes, os bots carregam hashtags – sinais para uma discussão específica – de opiniões contrárias às de seus donos, para tentar confundir, abafar ou redirecionar discussões.
“Processo evolutivo em andamento”
Nas eleições presidenciais de 2012 no México, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) foi acusado de usar dezenas de milhares de bots para abafar as mensagens dos outros partidos no Twitter e no Facebook. Consta que o PRI teria utilizado análises fraudulentas e uma linguagem distorcida para confundir as pessoas quanto ao que a oposição pretendia realmente dizer online.
Na Síria, ao longo dos anos, alguns grupos de bots xingaram, atemorizaram e ameaçaram qualquer pessoa que enviasse pelo Twitter mensagens favoráveis aos protestos ou aos líderes de oposição. Na Turquia, onde o Twitter foi proibido por algum tempo recentemente, uma investigação descobriu que todos os partidos políticos estavam controlando bots que tentavam impor temas que se tornassem tendências nas redes sociais favoráveis a um ou outro ideal político. Os bots também usavam o slogan do grupo político como hashtag, com o objetivo de levar as pessoas a acreditarem que ele era mais popular do que o era na realidade.
Um homem com quem falei, que se identificou apenas como “Simon Z”, opera o site Swenzy, que ele diz ter sede nos Estados Unidos. O site vende seguidores, “likes”, downloads, visitas à página e comentários em redes sociais. Segundo Simon Z, sua empresa está usando inteligência artificial e outras manobras digitais para continuar à frente dos caçadores de bots das grandes empresas da internet, como Google, Facebook e Twitter, que gastam muito tempo tentando eliminar os bots de seus sites. Às vezes, funciona – pelo menos, por algum tempo.
Antes de entrar para a Bolsa de Valores, o Twitter eliminou milhões de bots de seu serviço. Nos últimos anos, o Google eliminou centenas de milhões de visitas a vídeos no YouTube atribuídas a bots. “Há um processo evolutivo em andamento. Nas empresas que construíram melhores filtros de spam, isso levou a um aperfeiçoamento dos bots”, diz Tim Hwang.
Cuidado com asamizades
Os bots de Simon Z agem como pessoas por adquirirem informações de usuários concretos – como avatares, fotografias e outras conversas. Com todos esses artifícios, diz ele, eles parecem “imitar o comportamento humano”. Ele disse que agora está operando 100 mil bots muito avançados que estão atuantes em várias redes, incluindo YouTube, Facebook, Twitter,Vine, Instagram e SoundCloud, um site de compartilhamento de áudio. Quando os compradores fazem um pedido muito grande de bots, ele disse que pode procurar “fornecedores clandestinos”, que têm grandes quantidades. (Não é ilegal possuir um bot, ou construí-lo; a questão da legalidade está em como as pessoas os usam. Seu uso muitas vezes se opõe aos “termos de uso” dos sites das redes sociais.) Seus clientes incluem celebridades, músicos e políticos que querem parecer mais populares do que realmente são. Os governos também usam bots, diz ele.
“É tudo uma questão de poder e controle, o mesmo que sempre foi. Só que agora isso é digital”, diz Rick Wesson, principal executivo da Support Intelligence, uma empresa para consultoria de segurança de computadores com sede em San Francisco. Por enquanto, os bots são apenas frustrantes, pois levam as pessoas a pensar que algo é popular, ou impondo algumas questões. Mas à medida que os bots ficarem mais sofisticados, afirma Wesson, podem se tornar mais desagradáveis.
Em março, dois estudantes do Instituto de Tecnologia de Israel criaram um enxame de bots que provocou um falso congestionamento de tráfego no Waze, software de navegação de propriedade do Google. O projeto, uma apresentação em aula, era tão sofisticado que os estudantes conseguiam fazer bots que imitavam telefones celulares Android que acessavam falsos sinais de GPS e eram operados por falsos humanos em falsos carros. Acreditando que os bots estavam na rua, o Waze passou a redirecionar o tráfego real para ruas diferentes, embora não existisse congestionamento a ser evitado.
Portanto, cuidado com os bots com quem você faça amizade. Se for um bot com uma opinião política diferente, seu amigo digital poderá voltar-se contra você. Ou mesmo tentar fazer com que você se perca.
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Nick Bilton é um jornalista e escritor anglo-americano