Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Libby diz que Bush autorizou vazamento

Mais um escândalo ronda o governo federal americano. O caso Valerie Plame, que investiga o vazamento da identidade secreta de uma agente da CIA, envolve cada vez mais figuras públicas. O acusado da vez é, surpreendentemente, o presidente George W. Bush. Em depoimento perante um grande júri, o ex-chefe de Gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis Libby, afirmou que o presidente americano o teria autorizado – através de Cheney – a revelar informações confidenciais da inteligência à imprensa.


A acusação é grave, já que Bush, que por muito tempo vem criticando os vazamentos de informações secretas como uma ameaça à segurança nacional, talvez tenha tido um dos mais importantes papéis na crise que atingiu seu governo e abalou a imprensa americana no ano passado.


Saddam Hussein sim, Valerie Plame não


Documentos do tribunal arquivados na noite de quarta-feira (5/4) dão conta de que Libby, que deixou o governo ao ser indiciado por falso testemunho e obstrução à justiça no caso Plame, teria dito claramente, durante depoimento, que Cheney obteve aprovação de Bush para autorizá-lo a divulgar trechos de uma Estimativa de Inteligência Nacional (NIE, sigla em inglês) sobre os esforços de Saddam Hussein para desenvolver armas nucleares.


O objetivo do vazamento seria rebater as críticas do diplomata Joseph Wilson, que, após viagem ao Níger, havia publicado artigo no New York Times afirmando que, ao contrário do alegado por Bush em um discurso, não existiam provas de que o Iraque tivesse tentado comprar urânio daquele país. Libby encontrou a jornalista Judith Miller, então repórter do Times, em julho de 2003, e repassou a ela algumas conclusões da NIE que, na ocasião, acreditava-se ser ‘praticamente definitivas’ sobre o assunto. Segundo os documentos revelados esta semana, o ex-chefe de Gabinete declarou no depoimento que não conversou com Judith sobre a identidade secreta de Valerie Plame – que por sua vez é mulher de Wilson.


A jornalista, que em 2005 ficou presa por três meses por se recusar a revelar sua fonte confidencial à justiça, diz o contrário. Segundo as anotações de Judith, o nome de Valerie teria surgido na conversa com Libby. Ele, por sua vez, afirma que havia esquecido, na ocasião, da história sobre a mulher de Wilson, sobre a qual tinha tomado conhecimento um mês antes, pelo vice-presidente.


Tiro pela culatra


De qualquer maneira, o tiro do governo saiu pela culatra. Sem entrar no mérito das questões éticas ou legais envolvidas na suposta participação de Bush e Cheney no vazamento de informações para a imprensa para rebater as críticas de Wilson, o esforço parece não ter obtido nenhum sucesso. Judith, escolhida para receber as informações confidenciais, não escreveu nenhuma matéria sobre os dados passados por Libby. A jornalista também nunca escreveu sobre a identidade secreta de Valerie Plame – revelada publicamente, poucos dias depois de seu encontro com Libby, em um artigo do colunista Robert Novak.


O julgamento de Libby está marcado para janeiro de 2007. Analistas legais afirmam que as novas informações sobre o envolvimento de Bush tornam provável que o presidente seja chamado, pela defesa ou pela acusação, para testemunhar no tribunal. Com informações de Josh Gerstein [The New York Sun, 7/4/06], David Johnston e David E. Sanger [The New York Times, 7/4/06].