Três estudos acadêmicos recentes mostram como o Twitter, uma das mídias sociais mais utilizadas no mundo, afeta a sociedade, em especial o jornalismo.
Nas campanhas eleitorais – Peter Hamby, do Shorenstein Center da Universidade Harvard, entrevistou 70 repórteres que cobriram as eleições presidenciais americanas de 2012 para tentar aferir como o Twitter interferiu em seu trabalho.
A maioria deles expressou algum tipo de remorso pela maneira como se valeram dessa mídia social, porque com frequência ela os induziu a erros, seja por terem acreditado em informação equivocada ou distorcida que receberam por meio dela, seja por terem cometido, eles próprios, por pressa, gafes ou imprecisões que acabaram por causar prejuízos a fontes ou ao público.
Nas coberturas quentes – Farida Vis, da Universidade de Sheffield, fez um estudo de caso sobre como dois repórteres de jornais importantes (Paul Lewis, do britânico The Guardian, e Ravi Somaiya, do americano The New York Times) se valeram do Twitter na cobertura das violentas demonstrações de rua em Londres em 2011.
Ela também analisou milhões de tweets de centenas de milhares de usuários durante os quatro dias dos incidentes. Lewis teve o segundo hashtag mais mencionado pelos usuários e Somaiya ficou muito abaixo (trigésimo-quarto).
Vis conclui que a maneira como Lewis usava o Twitter (com mais frequência do que Somaiya e com muito mais informações originais) lhe deu a vantagem.
Na geografia mundial – Kalev Leetaru, Shaowen Wang, Guofeng Cao, Anand Padmanabhan e Eric Shook, da Universidade de Illinois, analisaram o conteúdo de 1,5 bilhão de tweets enviados por 70 milhões de pessoas no mundo todo durante um mês de 2012, num dos mais abrangentes estudos sobre mídias sociais já realizados.
Eles argumentam que obtiveram provas empíricas de que o mundo está realmente encolhendo graças a elas, na medida em que a afinidade entre os usuários independe por completo da sua proximidade física.
Os usuários tratam de assuntos ocorridos perto deles com a mesma frequência com que tratam de temas que acontecem muito distantes deles, segundo o estudo. “A proximidade geográfica tem papel mínimo no conteúdo do Twitter”, concluem.
******
Carlos Eduardo Lins da Silva é livre-docente, doutor e mestre em comunicação; foi diretor-adjunto da Folha de S.Paulo e do Valor