Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os tentáculos do Facebook

Na semana passada [retrasada], o Facebook reuniu desenvolvedores de todo o mundo em San Francisco, na Califórnia, para a quinta edição da F8, sua conferência realizada quase todo ano. Estes eventos ainda não são grandes espetáculos midiáticos como os realizados pela Apple no tempo de Steve Jobs vivo, mas o anúncios feitos por lá terão impacto. Um deles, se der certo, pode revolucionar a maneira como nossos smartphones funcionam. A outra potencialmente reforçará o poder do Facebook no duopólio que ele e o Google constroem na internet.

Duopólio em termos: são, Facebook e Google, os dois principais concorrentes na disputa pela atenção dos usuários da rede. Mas é uma disputa com regras claras. Vence quem conseguir mapear os hábitos da maior quantidade de pessoas.

O Google saiu na frente. Afinal, seus códigos estão espalhados por toda a web. Quase todo site usa algum serviço Google. E nós mesmos usamos seus serviços, do YouTube ao Gmail. Assim, quando navegamos, invariavelmente o Google sabe onde estamos e o registra em seu banco de dados. Além disso, através de seu sistema Android, o gigante das buscas está nas mãos de muitos de nós.

Mas, conforme os celulares vão fazendo mais e mais parte de nossas rotinas, o Facebook também ganha terreno. Isso ocorre por conta do login: quando dá preguiça de preencher um novo formulário de cadastro e clicamos o botão de conexão via Facebook, aquela será mais uma atividade digital que a rede social registrará.

O problema do Facebook é credibilidade. No passado, o fundador Mark Zuckerberg tratou com desdém as preocupações do público com privacidade. A imagem ruim ficou. E, desde então, sua empresa precisa lidar com o duplo dilema. Vive (como o Google) de transformar as informações que coleta de seus usuários em oportunidades para vender publicidade. Mas tem de convencer os mesmos usuários de que não abusará desta confiança.

Interesses empresariais

A linha não é só tênue. Foi também pouco testada. Ainda não conhecemos as tecnologias de propaganda do futuro para as quais abrimos mão de tanto, hoje.

Na F8, Zuckerberg lançou o login anônimo. Agora, ao testar um site ou aplicativo, o usuário poderá optar pelo login anônimo via Facebook. O Face continuará sabendo tudo sobre o comportamento do sujeito, mas não compartilhará com o dono do app. Já é alguma coisa, diga-se. E, ao mesmo tempo, ajuda a ampliar a base de pessoas que usam o login do Facebook internet afora. Ajuda na construção da imagem de preocupação com privacidade, enquanto amplia seu poder de coletar informação sobre nós. Touché. Tem tudo para dar certo. O polvo cresce.

Há um mês, o Yahoo! anunciou que não usará mais a autenticação de Facebook ou Google. Não foi à toa. Quem é grande está tentando fugir dos dois enquanto ainda tem chances. O duopólio sobre nossa identidade na internet, brevemente, pertencerá a estas duas empresas.

A segunda inovação importante lançada pelo Facebook, porém, pode ser uma boa ideia. Atende pelo nome App Links. É uma maneira de criar conexões entre dois aplicativos no celular. Encontrou uma música da qual gosta no aplicativo de rádio? Um clique permite abrir o app da loja para comprar a faixa. Este tipo de conexão, tão comum na web, ainda não existe no mundo dos apps e muita gente tenta construir um padrão que funcione para todos.

O problema, ali, é doutro duopólio: Apple, com seu iPhone, e também o Google, com o Android. Por enquanto, eles não parecem interessados. Mas, se alguém pode convencê-los, tem de ter o tamanho de um Facebook. É uma briga que envolve inúmeros interesses empresariais. Mas é, também, algo que os usuários querem.

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Pedro Doria, do Globo