Sua fala podia ser mansa, mas as ideias surgiam com rapidez na cabeça do escritor e jornalista Mylton Severiano da Silva.
Myltainho, como era chamado pelos amigos, escrevia suas observações em pequenos pedaços de papel. Ao final do dia, os bolsos estavam repletos de anotações sobre assuntos que poderiam render livros ou reportagens.
Filho de um sapateiro e de uma dona de casa, nasceu em Marília, no interior do Estado de São Paulo.
Como jornalista trabalhou em vários veículos da imprensa. Começou sua carreira na Folha, na década de 1960, e passou por lugares como O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, TV Globo, TV Tupi e foi um dos fundadores da revista Caros Amigos.
Era leitor compulsivo e saía de casa sempre com um impresso em mãos. Em uma ocasião, perdeu um voo ao engatar na leitura de um romance comprado no aeroporto.
Admirava Bach e Mozart
Em um ritual supersticioso, dizia reler Dom Casmurro, de Machado de Assis, todos os meses de janeiro para começar o ano bem.
Além da escrita, era apaixonado por música. Formou-se acordeonista, tocava piano e admirava Bach e Mozart. Nos últimos tempos, dedicou-se intensamente a seu primeiro disco, no qual tocou melodias, quase todas de sua autoria, no acordeão.
Calmo e paciente, costumava ser procurado pelos amigos para dar conselhos. Recentemente, havia pegado gosto por fazer fotografias com celular, depois de renegar o aparelho por anos.
Myltainho morreu na sexta-feira [9/5] aos 74 anos, após um enfarte. Deixa três filhos.
******
Regiane Teixeira, da Folha de S.Paulo