Aos 40 anos de idade, e 16 anos após o fatídico caso que rendeu um escândalo político ao então presidente americano Bill Clinton, Monica Lewinsky volta ao assunto. Em um artigo publicado na edição deste mês da revista Vanity Fair, ela reflete sobre como a internet transformou sua vida e a de outras pessoas numa “humilhação global”.
Monica disse que resolveu voltar a falar publicamente sobre sua experiência devido à repercussão do caso de Tyler Clementi, um jovem de 18 anos que cometeu suicídio em 2010 depois que um vídeo no qual mantinha relações com outro homem foi divulgado na internet. “Graças ao [site] Drudge Report, provavelmente fui a primeira pessoa a sofrer uma humilhação global impulsionada pela internet”, lembrou.
Monica disse que ela e sua mãe ficaram um tanto perturbadas com as circunstâncias que permearam a morte de Clementi. “Minha mãe praticamente reviveu 1998”, declarou Monica, “quando não podia me deixar sozinha. Ela reviveu todas aquelas semanas, ficava perto da minha cama, noite após noite, porque eu também era uma suicida. A vergonha, o escárnio e o medo que atingiram a filha dela a fizeram temer que eu fosse tirar minha vida… a fizeram temer que eu, literalmente, fosse morrer de humilhação”. Ela esclarece que nunca tentou suicídio, mas que teve fortes tentações de fazê-lo por várias vezes durante as investigações e durante um ou dois momentos posteriores.
Monica diz que esperou para contar sua versão da história até “sentir-se capaz de ajudar os outros em seus momentos mais sombrios de humilhação”. Nas palavras dela: “Meu próprio sofrimento ganhou um significado diferente. Talvez, ao compartilhar minha história, pensei, eu pudesse ser capaz de ajudar os outros”. Ela afirma que agora pretende se esforçar em nome das vítimas de humilhação e assédio online, e começar a falar sobre este tema em fóruns públicos.
Caso consensual
Monica frisou que seu caso com Clinton foi consensual, “algo entre dois adultos”, mas disse que a humilhação pública que sofreu no encalço do escândalo alterou o sentido de sua vida permanentemente. “Claro, meu chefe se aproveitou de mim, mas serei sempre firme sobre este ponto: foi uma relação consensual. Qualquer ‘abuso’ veio depois, quando me tornei bode expiatório para proteger o cargo político dele”. Ela disse ainda lamentar “profundamente” o que aconteceu entre ela e o então presidente.
Monica também quis dar fim a alguns boatos que se seguiram desde a divulgação de seu caso com Clinton, como, por exemplo, de que tenha recebido uma oferta de US$ 12 milhões para lançar um livro “contando tudo”. Ela escreveu que chegou a receber outras ofertas que poderiam ter lhe rendido somas superiores a US$ 10 milhões, mas que as declinou “porque não pareciam a coisa certa a se fazer”.
A ex-estagiária da Casa Branca também relatou as dificuldades para conseguir um “emprego normal”. Monica morou em diferentes lugares ao longo dos anos. Foi para Londres (onde fez mestrado em psicologia social na London School of Economics), Los Angeles, Nova York e Portland, e disse que em todos eles teve problemas para conseguir colocação profissional. Passava por várias entrevistas, mas seus potenciais empregadores “sempre se referiam diplomaticamente ao meu ‘histórico’”, conta. “Eu nunca era adequada para o cargo”.
Apesar do tom dramático de suas declarações à Vanity Fair, não se pode negar que a notoriedade trouxe a Monica algum lucro. Ela autorizou que Andrew Morton, biógrafo da princesa Diana, publicasse o livro Monica’s Story em 1999, contando a história. Monica também foi garota-propaganda de um programa de emagrecimento e especula-se que tenha levado US$ 1 milhão para ceder sua imagem.