Depois do lançamento da estação de rádio do Washington Post na semana passada, o leitor passou a dispor de três opções de acesso ao conteúdo produzido pelos jornalistas da companhia – ele pode optar por ler a versão impressa ou online do Post, e agora também ouvir as notícias pelas estações AM ou FM. Todas as três mídias – jornal, rádio e internet – estão sob administrações diferentes. No entanto, como analisa a ombudsman Deborah Howell em sua coluna de domingo [2/4/06], para a maior parte dos leitores ou ouvintes, todos são o simplesmente Post.
Deborah explica que os empreendimentos fazem parte da expansão da marca Post em diferentes mídias. A ombudsman afirma ainda que, não importa em qual delas, os leitores e os ouvintes esperam que o jornalismo do Post seja de grande qualidade. Esta preocupação vem logo à mente por conta do episódio do blogueiro conservador Ben Domenech – acusado de plágio –, demitido recentemente do sítio apenas três dias depois de ter iniciado um blog conservador.
A ombudsman recebeu mais de quatro mil e-mails – em sua maioria, de políticos liberais, civis e residentes de outras cidades. Dois deles elogiaram a contratação do blogueiro. O restante mostrou-se indignado. Jim Brady, editor-executivo do sítio do jornal, afirmou que contratar Domenech havia sido um erro. ‘Brady quis ampliar o alcance da opinião do sítio com um blogueiro conservador; não há nada de errado nisso. Ele afirmou que selecionará alguém com mais experiência em jornalismo da próxima vez’, conta ela. O jornal impresso relatou o caso do blogueiro como se fosse um artigo noticioso. Se a rádio já estivesse no ar, ela teria feito o mesmo.
O sítio do Post é administrado pelo Washington Post-Newsweek Interative (WPNI), subsidiária do Post Co., com outros funcionários e administração. Nenhum editor do impresso recomendou a contratação de Domenech ou foi consultado sobre sua demissão. Muitos funcionários do sítio produzem conteúdo que não aparece na versão impressa. Os editores do Post não dizem a Brady o que fazer no sítio; o inverso também não ocorre. O conteúdo do jornal é editado pelos editores do Post, que não são responsáveis pela edição online.
Uma mesma organização
No entanto, muitos leitores não acreditam que haja uma separação tão rígida. Um leitor de Maryland enviou um e-mail para Deborah onde dizia: ‘Por favor, pare com esta horrível postura de dizer que o jornal e o sítio são separados. Ambos são de propriedade do grupo Washington Post Company. Se o jornal não existisse, não existiria o sítio. Eles são basicamente, essencialmente, necessariamente, um e parte da mesma organização’.
Deborah concorda – e acredita que todos no jornal, no sítio e na rádio também deveriam concordar – que os leitores e ouvintes vêem a programação do jornal, do sítio e da rádio como a mesma, embora atinjam públicos diferentes. Mas lembra que o grupo não é proprietário da rádio. A estação funciona em parceria com a companhia Bonneville, e sob o acordo o Post tem apenas que fornecer a programação para a rádio.
Já os repórteres se dividem atualmente em diferentes tarefas. Enquanto os da rádio e os do sítio concentram as atividades nestas plataformas específicas, os do impresso chegam a participar dos diferentes meios – eles podem colaborar com as notícias de última hora para o sítio, escrever para a edição do dia seguinte, e agora comentar os assuntos que cobrem na estação. Isto requer flexibilidade e destreza. Por isso, Deborah acredita que os jornalistas têm de lembrar que eles representam o padrão do Post em qualquer uma das plataformas. Ela afirma que apenas alguns jornalistas online não respeitaram este padrão desde que ela assumiu o cargo de ombudsman.
Para ajudar os jornalistas que participam de chats na internet ou de programas na rádio, a ombudsman dá alguns conselhos: ‘Não digam nada ao vivo que vocês não escreveriam no impresso; não façam especulações; não tentem ser irônicos – isto é sempre mal interpretado; os chats são informais, mas fique atento se não estão agindo de maneira não profissional’. E Deborah conclui: ‘Embora as mídias e suas administrações sejam diferentes, e mesmo que o sítio e a rádio operem de maneira mais rápida e informal que o jornal impresso, a marca Post é importante e deve ser protegida por todos que trabalham para ela’.