Qual jornalista não sonharia em encontrar um tema interessante, um parceiro para realizá-lo e até um lugar para dormir, caso esteja trabalhando nele? E se isso for em qualquer parte do mundo? Então, o sonho do jovem correspondente está mais próximo da realidade. A ideia foi lançada há pouco por um grupo de três jovens jornalistas em Berlim. “Hostwriter é uma rede de cooperação global para jornalistas, blogueiros e documentaristas, onde os participantes podem encontrar colegas que compartilham seus interesses e a paixão pelo jornalismo”, explica uma das iniciadoras, a jornalista freelance Tabea Grzeszyk. Para isso, ela e suas duas coiniciadoras, a jornalista de televisão Tamara Anthony e a freelancer Sandra Zistl, criaram um portal (hostwriter.org).
Essa ideia parecia fácil de realizar na era das redes sociais, mas a realidade é que dificilmente elas se prestam aos contatos profissionais. Como jornalista brasileiro radicado na Europa há quase duas décadas, também tenho observado uma tendência crescente entre os jornalistas de não terem mais vínculos profissionais. Sem o apoio das grandes mídias, esses jovens freelancer vão ao exterior realizar reportagens por conta própria, organizando eles próprios a logística e assumindo, também, os riscos financeiros.
Assim, as três jornalistas chegaram à conclusão que a melhor forma seria fundar uma ONG sem fins lucrativos para apoiar uma rede global de jornalismo colaborativo de forma voluntária. “A Hostwriter coloca você em contato com pessoas reais”, lembra Tabea. Como exemplo, ela explica que alguém interessado em pesquisar sobre os partidos populistas de direita na Europa poderia contatar alguns dos jornalistas já inscritos para ajudá-lo no trabalho. Ao mesmo tempo, alguns deles indicam nos seus perfis terem condições também de abrigar o viajante. “Talvez ele já tenha muitas informações sobre a direita na França, mas tenha interesse em conhecer de perto a situação em outros países da União Europeia”, acrescenta.
Inscrição e uso gratuitos
Outro interessante exemplo dado por ela seria o caso do Egito. Um brasileiro interessado em escrever sobre os movimentos de manifestações na Praça Tahrir poderia entrar em contato com alguém da rede e propor uma pesquisa conjunta. O parceiro egípcio já teria os contatos e também domina o árabe. Assim, qualquer jovem jornalista brasileiro poderia fazer uma grande reportagem sobre o tema sem necessitar do apoio dos grandes jornais.
Eu considero essa possibilidade também interessante no caso do Brasil. Com a Copa e as Olimpíadas, centenas de jornalistas estrangeiros, uma grande parte deles também de freelancers, vão atuar em alguma das capitais. Muitos deles já vivem os primeiros desafios de conseguir obter informações no nosso contexto, sem falar na dificuldade de encontrar uma moradia durante esse período, especialmente no Rio de Janeiro.
Segundo Tabea, a inscrição no portal hostwriter.org e seu uso são completamente gratuitos. Como parceiros da rede, eles têm as organizações Repórteres sem Fronteiras e diversas outros sindicatos e federações de jornalistas na Alemanha.
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Alexander Thoele é jornalista