Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Inovar para quê?

A revolução nas ferramentas de comunicação entre os humanos é uma tendência que se concretiza diariamente. O que ontem era novo hoje não é mais. O progresso é tamanho a ponto de gerar um paradoxo diante de seus reflexos. Faz-se necessária, mas nos mantém reféns da multiconexão, que adentrou nossas vidas. Estas inovações do ambiente digital crescem em uma velocidade acelerada, a qual não conseguimos acompanhar. Os equipamentos e dispositivos se desatualizam diariamente por mais modernos que sejam. Há sempre novidades no meio, que são fascinantes e capazes de ganhar adeptos/usuários rapidamente.

O vídeo “Um dia feito de vidro” (A Day Made of Glass 2), no Youtube, revela um cenário incrível, projetando ao futuro a possibilidade de uso de uma nova forma para a comunicação, bem como seu emprego no cotidiano da vida humana, especialmente nas áreas de segurança, saúde e educação. A magnitude dos recursos audiovisuais é incontestável e ratifica intenções projetadas há menos de um século, com o cinema falado e a televisão. No entanto, sob a impressão pessoal, suscita uma preocupação com a impessoalidade cada vez mais latente, impulsionada pela emulação dos sentidos humanos.

Os novos equipamentos substituem relações indispensáveis. Aos com aproximados 30 anos, as primeiras experiências com programas operacionais de bate-papo foram no Internet Relay Chat (mIRC) ou, no antigo Messenger, que atualmente se unificou ao Skype, bem como no Orkut, uma rede de relacionamento que se tornou obsoleta. Neles, era possível encontrar e manter contato com antigos colegas de sala de aula, amigos que se mudaram a outras localidades, além de promover novos contatos. Que nostalgia boa!

É preciso relevar que resolvemos boa parte dos afazeres por meio dos dispositivos móveis: estudos, compras, agendamentos de serviços, operações bancárias, contatos pessoais e profissionais, respondemos e-mails e encontramos até entretenimento, nos jogos e aplicativos. Mas, e as new media?Nos tiraram tanta coisa, não? Isso sem contar o tempo que levamos para manter todas “em dia”.

Atenção indispensável

Desde que surgiram, as ligações telefônicas se tornaram cada vez mais raras e os encontros para “jogar conversa fora”, também. Isso se acentuou ainda mais com o advento do Twitter e, principalmente, do Facebook. Um verdadeiro contrassenso. Ao mesmo tempo em que te aproxima de pessoas à distância, te distancia dos que estão ao seu redor.

Pais e filhos se comunicam, entre os cômodos da casa, em seus modernos aparelhos móveis touchscreen, via Whatsapp. Os abraços e beijos se tornaram “curtidas”. Nos happy hour, por inúmeras vezes, é possível se deparar com quatro ou mais pessoas em uma mesa, sem comunicação verbal, com os olhos e mente voltados aos seus smartphones e iphones. Quanto ao que fazem, sabe-se lá o quê. O conteúdo digital é farto e os aplicativos, redes sociais, sites, blogs estão ininterruptamente mais recheados.

Embora considere este avanço indispensável para diversas áreas do conhecimento e em termos de negócios e publicidade, delinear um ponto de equilíbrio em seu uso é imprescindível. O contato físico entre o ser humano, o diálogo e o olho no olho precisam prevalecer. Embora multiconectados, é indispensável saber se desconectar.

Particularmente, passei pelos programas e redes citados, hoje sou usuário do Twitter, que não me exige uma relação “de amizade” e sigo o que agrega valor, bem como do Whatsapp para fins profissionais e pessoais, já que controlo a privacidade com os contatos em minha agenda telefônica.

mIRC, Messenger e Orkut estão defasados. Quando saí, eliminei todos os dados. Já no Facebook a experiência foi frustrante. Com respeito aos usuários, é um imenso lixão, abarrotado de autopromoção, de egoísmos, um espaço onde as pessoas se escondem atrás de indiretas e parecem tomar coragem para falar e fazer o que der e vier, sem preocupação com as consequências. Balela e hipocrisia. Na vida real não vivem e não são nada daquilo. Falso moralismo. Elas tornam “seu mundo” num verdadeiro reality show e ainda te expõem na mesma proporção, sem critérios. Posso ser taxado de antiquado, porém, nesta rede, prefiro o lado de cá, o real. Os comentários podem até não ser direcionados, mas quem anda em meio ao lixo, acaba sujo. E confesso não ter tempo para configurar a privacidade e classificar as centenas de “amigos” que mantinha na rede, o que quero e não receber. Desativei a conta e, quem sabe, um dia o cenário se transforme, e eu retorne. Com o Twitter foi assim, ele mudou, para melhor. E, agora, lá sim tem informação.

E, assim, vamos filtrando tudo. A inovação abre novas possibilidades, porém estar atento à transformação social e pessoal por ela provocada é imprescindível. Aliás, quer se inovar para quê?

******

Leandro Nigre é jornalista, pós-graduando em Mídias Digitais Interativas e editor de O Imparcial, afiliado à Associação Paulista de Jornais.