Este mês [maio] Ricardo Kotscho está completando 50 anos de jornalismo e, embora tenha ocupado cargos de direção em veículos e até o de assessor de imprensa do ex-presidente Lula, segue afirmando que seu lugar é na rua, fazendo reportagens. Aos 66 anos, completados em março, ainda mantém essa função na revista Brasileiros, do amigo Hélio Campos Mello, além de fazer comentários políticos no Jornal da Record News e de atualizar diariamente seu blogBalaio do Kotscho.
J&Ciaune-se a tantos outros que lhe estão prestando homenagens por todos esses anos de “pé de poeira” e reproduz nesta edição especial o resultado da entrevista que ele deu, em seu apartamento em São Paulo, na segunda-feira (26/5), ao diretor Eduardo Ribeiro e ao editor Fernando Soares. A opção foi transcrevê-la em formato de depoimento pessoal, para criar maior proximidade com o leitor. Nela, como não poderia ser diferente, Ricardo fala principalmente da carreira e de colegas com os quais trabalhou nesses 50 anos, mas também lembra com carinho da família, que nesse período aprendeu a lidar com suas ausências. Prestes a lançar seu 21º livro (de reportagens, é claro), lembra que o amigo Humberto Werneck, para sacanear, diz ser ele “a única pessoa que ele conhece que já escreveu mais livros do que leu”.
Ao final da agradável conversa e entre um cigarro e outro, do qual ele não abre mão, uma escapada à tabacaria que fica a 50 metros de seu prédio, para um chope e um papo com os amigos de jornada, entre eles Tato Gabus Mendes. Mas poderia ser Eros Grau, Nelson Jobim e quem sabe até o presidente Lula. Não faz diferença. Ou melhor, faz toda a diferença. São amigos de copo, de tabaco (nem todos) e de papo. Um belo final de entrevista.
Meus 50 anos de estrada
Eu acho que valeu a pena, sim. Não tem no mundo profissão melhor. Em que outra atividade se pode conhecer melhor a vida, as pessoas? Tive a sorte de trabalhar, nesses 50 anos, com alguns dos melhores profissionais da imprensa brasileira e com eles aprendi tudo o que sei do jornalismo. E com a minha família, o caráter.
Lembro, no começo de carreira, do Gil Passarelli, um grande fotógrafo que trabalhou por décadas na Folha, fazendo discurso para os jovens jornalistas no Bar dos Franciscanos. Dizia, de forma bem-humorada e brincalhona: “Não existe melhor profissão para quem é vagabundo e não quis estudar”. Tempos de boemia, em que o bar era a extensão da redação, onde nascia grande parte das pautas. Não era como hoje, com essa organização industrial. Na maior parte das redações as pautas eram improviso puro. Os próprios jornalistas traziam os assuntos e discutiam entre si e com a chefia os que seriam notícia no dia seguinte. E depois a briga era para ver quem conseguia mais espaço, a primeira página. E eu brigava muito pelas minhas pautas. Queria sempre uma página branca, aquela que não tinha anúncio, para que as matérias ganhassem ainda mais destaque.
Adoro o jornalismo e a vida de jornalista, que é eterna gangorra. Num dia – como aconteceu comigo muitas vezes – você está entrevistando o progressista Dom Paulo Evaristo Arns e no outro o conservador delegado do Dops Romeu Tuma. É o nosso ofício, o nosso dever. E qualquer que seja o nosso entrevistado, do presidente da República ao motorista de táxi, temos a obrigação de tratar bem, com civilidade, com respeito, sem discriminação.
Falam que me dou bem com as pessoas, com os colegas, independentemente de ideologia, credos, posições políticas. Sou assim, nasci assim e sempre serei assim. Consigo me dar bem até com os meus vizinhos, mas sei que no ambiente jornalístico esse não é um perfil muito comum. Talvez porque de certo modo jornalista seja inimigo de jornalista.
O fato de ser bem recebido em qualquer roda me abriu muitos caminhos na vida e na profissão. Inclusive no governo, quando fui secretário de Imprensa do Lula, no primeiro mandato. Era respeitado dentro do governo e com isso conseguia acompanhar as coisas mais relevantes que precisavam chegar aos jornalistas e à sociedade e também apurar coisas de fora que o governo precisava saber.
Mas o governo não era a minha praia e após ficar quase todo o primeiro mandato do Lula pedi pra sair. Foi melhor. Hoje tenho convicção de que essa relação entre assessor e assessorado tem de ser profissional. A amizade, como a que eu tinha (e claro continuo tendo) com o Lula, só atrapalha. Vou dar um exemplo: tinha horas em que eu acabava falando demais, pela liberdade que eu tinha com o presidente. Em algumas vezes, irritado, ele cortava e me perguntava, na lata: “Quantos votos você teve mesmo na última eleição?”.
Minha história com Lula
Ainda no começo de minha passagem pelo Planalto, com seis meses de cargo, cogitei sair e um dia conversando com o Franklin Martins, que sempre estava por lá e era diretor da Globo em Brasília, o convidei para ficar no meu lugar. Era o cara ideal. Tinha perfil, era da Globo, gostava do ambiente político. E ele me respondeu, sem pestanejar: “Você é louco? Acha que vou deixar um cargo de diretor na Globo para entrar nessa fria, ganhar essa miséria que você ganha? Tira isso da cabeça”. O tempo passou e em 2007, num jantar, o Franklin, já ministro, sentou-se à mesma mesa que eu e o Lula estava na mesa ao lado (mas prestando atenção em tudo). Aí brinquei com o Franklin: “Pois é, Franklin, quando eu te convidei para ficar no meu lugar, você quase me xingou, mas quando o Lula convidou você aceitou correndo”. Nem bem acabo de falar e escuto, atrás de mim, aquela voz rouca: “Ô Kotscho, você só está esquecendo de que ele foi convidado pelo presidente da República!”. Claro, morremos de rir.
Hoje digo que a passagem pelo governo foi importante, um aprendizado fantástico, mas é passado. Não me pegam mais.
Minha história com o Lula começa basicamente nos anos 1970, no ABC paulista, quando o movimento sindical aflorava e começava a ganhar as ruas, desafiando a ditadura. Eu tinha regressado da Alemanha, de um período de pouco mais de um ano atuando como correspondente do Jornal do Brasil. Voltava a convite do Mino Carta para trabalhar na primeira equipe da IstoÉ. Aí conheci o ABC e o Lula e ficamos amigos, até que em 1989, numa visita que fiz a ele no Sírio Libanês, após uma pequena cirurgia, ele me comunicou que queria que eu fosse trabalhar na campanha, como assessor de imprensa. Eu retruquei: “Ô Lula, eu nunca sequer votei para presidente”. E ele: “E eu também nunca fui candidato a presidente”. E eu: “Mas Lula, nem filiado ao PT eu sou”. E ele: “Não precisa. É até melhor!”.
Aí não teve jeito. Deixei o bom emprego no JB para ganhar quase o piso salarial na campanha do Lula. Acabei participando das três campanhas.
O mais marcante, no entanto, foram as Caravanas da Cidadania (num total de cinco), que duraram de 1993 a 1996 e percorreram um total de 359 cidades de 26 estados. Participei um bom período dessas caravanas e, se já conhecia o Brasil das muitas viagens que havia feito como repórter, posso dizer que passei a conhecer muito melhor o País. Creio que poucas pessoas conhecem o Brasil tão bem quanto eu e o Lula. Foi nessas caravanas que de certo modo nasceram o Fome Zero, o Bolsa Família e outros projetos sociais. Cada parada que nossos ônibus faziam, mais nos aprofundávamos no conhecimento dos dilemas do povo brasileiro. Ali aprendi de fato que os problemas das pessoas mais humildes não são FMI, PIB, Bolsa de Valores, mas sim comida, família, dinheiro. A vida no fundo é muito mais simples do que parece.
São muitos causos. Me lembro, por exemplo, de que um dos integrantes permanentes das caravanas era o dr. Aziz Ab’Saber, que ganhou o apelido de Professor que Sabe, tanto pela semelhança com seu nome como pelo fato de ser um homem extremamente culto e de grande sabedoria. Mas além dessas qualidades era uma pessoa de grande sensibilidade, que se preocupava demais com as pessoas. Não se conformava de ver a situação sem fazer nada. E por isso era quem dava ao povo que de nós se aproximava os brindes como camisetas e chaveiros que levávamos para presentear as pessoas. Volta e meia acabava atrasando a partida dos ônibus, a ponto de o Lula ralhar com ele para se apressar: “Assim não vamos conseguir terminar o percurso”, dizia o Lula. Mas não tinha jeito. A cada parada, nova rodada de emoções.
Uma das histórias que me marcaram nesse período foi uma parada inesperada em Garanhuns, terra do Lula. Os moradores fecharam a estrada e nos obrigaram a fazer uma parada não programada. Queriam uma ajuda, pois viviam uma das piores secas dos últimos anos. Nós sempre viajávamos em dois ônibus, um para a comitiva do Lula e outro para os jornalistas, com as despesas pagas pelos respectivos veículos. Bolamos essa duplicidade porque era a única alternativa que tínhamos para que a imprensa pudesse cobrir e repercutir as caravanas. Pois bem, quando o Lula e equipe desceram para conversar com os manifestantes praticamente não houve movimentação no ônibus dos jornalistas. Como não era parada programada, ninguém quis descer, à exceção do Zuenir Ventura e do Eduardo Suplicy, que foram lá conversar com o povo. Reunião encerrada, Zuenir e Suplicy não quiseram seguir com os ônibus, pois se dispuseram a ir conversar com as autoridades municipais para ajudar aquelas pessoas. Falei para o Zuenir: “Mas como é que você vai nos encontrar depois?” E ele, com a calma habitual, respondeu: “Não se preocupe. Eu me viro”. Algumas horas depois, lá estavam eles ao nosso lado nos ônibus da caravana. Resultado, o Zuenir deu um baita furo, com reportagem de capa, e todos os outros jornalistas passaram em branco.
Sangue de repórter
Aquilo me marcou demais. Nós oferecíamos aos jornalistas o Brasil real, histórias fantásticas dos grotões de um Brasil pouco conhecido, verdadeiros furos de reportagem, mas o que eles queriam era repercutir com o Lula o bate-boca político com os rivais, como se o País vivesse das baixarias dos bastidores da política. Uma visão míope dos profissionais e dos veículos que eles representavam. Uma pobreza sem tamanho.
Mas foram momentos inesquecíveis que tiveram como principais organizadores o Vander Bueno do Prado e o José Carlos Espinosa. E em parte das viagens estavam conosco nomes como Frei Betto, Leonardo Boff, José Graziano, entre tantos outros.
Eu comparo as Caravanas da Cidadania às grandes reportagens sobre o Brasil. E elas foram isso, de fato.
Falo porque o sangue de repórter sempre pulsou em minhas veias. Você precisa ter sensibilidade, determinação, persistência e consciência de que importante mesmo é o entrevistado, a notícia, e não você ou o veículo que representa. Sou contra artifícios para arrancar informação dos entrevistados, como câmara escondida, falsas apresentações e o que quer que seja. Em toda a minha vida profissional jamais usei desses expedientes. Sempre me apresentei com meu nome verdadeiro e informei às pessoas o que delas queria e o que estava fazendo. A isso procurei reunir pelo menos duas outras características: não desistir nunca e conversar com as pessoas sem arrogância.
Dos grandes momentos do jornalismo, não podemos deixar de lembrar o Gay Talese e o famoso perfil do Frank Sinatra que ele escreveu, sem ter conseguido entrevistá-lo. Foi um marco da imprensa moderna, pois ele percorreu com o seu olhar jornalístico todo o entorno de Sinatra, conversou com seus amigos e com empregados, para escrever um dos mais belos perfis jornalísticos da história. O Audálio Dantas bem lembra que o nosso Joel Silveira fez o mesmo, no Brasil, em 1945, e portanto antes de Gay Talese, com uma matéria sobre o casamento da filha do Conde Francisco Matarazzo com João Lage, em que, sem ser convidado e nem participar da festa, fez um dos textos jornalísticos mais celebrados da história (o título da matéria era A milésima segunda noite da avenida Paulista).
Trabalhos como esses são inspiradores e eu próprio me vali dessa técnica em mais de uma vez em minha carreira. Por exemplo, quando escrevi um perfil do Roberto Carlos, para a Folha de S.Paulo, numa série que eu mesmo sugeri ao jornal criar e que se chamava Um dia na vida. Escolhíamos um personagem e aí combinávamos de passar um dia inteiro com ele, para fazer um perfil. Foi duro chegar ao Roberto, mas consegui por intermédio de sua assessora de imprensa. Ele estava vindo do Rio para São Paulo, para um show, e topou a empreitada. Foi supersimpático, me recebeu bem, me apresentou para toda a sua equipe, para a banda. Ia de lá pra cá, escapulia daqui e de lá, me via e fazia um sinal de positivo, dizendo “Oi, bicho” e se esgueirava. Nada de conversar comigo. E assim foi até o final. Conclusão, tive de escrever o perfil do rei sem ter ouvido dele uma única declaração. Quando relatei o fato para a assessora, ela, de chofre, me perguntou: “Como você estava vestido?”. Eu lhe disse que de maneira simples, com um casaco marrom… E ela: “Putz, Ricardo, ele não fala com pessoas vestidas de marrom. É uma de suas manias”. Pensei comigo: “Agora você me fala isso???”
Coisa parecida aconteceu quando fui fazer o perfil do Itamar Franco, então governador de Minas, após ter sido presidente da República. Aceitou me receber, mas já antecipou que não daria entrevista em hipótese alguma. Ele detestava dar entrevista e não dava mesmo. Me recebeu, me apresentou à equipe e me deixou super à vontade. Passei o dia com ele, mas queria algumas declarações para dar mais densidade ao perfil. Ele disse não e então fiz algumas perguntas por escrito e pedi para a assessora levar a ele, para ver se ele respondia. Uma das perguntas era sobre o que ela achava dos comentários de ser um político que, embora nem sempre fazendo as coisas planejadas e certas, tinha a sorte de ser bem sucedido. Ele ficou furioso com a pergunta e respondeu também por escrito, num texto longo, que alguém com sua biografia política não chega onde chegou por sorte.
“Ela não casou enganada”
Não preciso dizer que a provocação deu resultado e eu saí dali com uma matéria muito melhor. A persistência e a simplicidade me ajudaram muito, daí eu afirmar de novo: não se pode desistir nunca.
Comecei no jornalismo trabalhando em jornal de bairro, aos 16 anos. Passei respectivamente por Folha Santamarense e Gazeta de Santo Amaro. Nasci no Brasil, mas minha família é de descendência alemã e eu fui alfabetizado em alemão. Só fui ter contato com o idioma português aos seis anos de idade. Comecei a me interessar por jornal porque minha família tinha a assinatura do Estadão. Me dei bem com as letras e como tinha facilidade escrevia muitas poesias também, sobretudo para paquerar as meninas. Uma das “vítimas” foi a Mara, que caiu na minha lábia de poeta e acabou se casando comigo. Agora em junho faremos 45 anos de casados. Segredo dessa longevidade? É ela quem explica: “O Ricardo sempre viajou muito, muito mesmo. E quando ele chegava das viagens, era eu quem viajava. Só podia dar certo!”.
Preciso dizer ainda que ela não casou enganada. Sabia muito bem o que era a vida de um repórter e de minha paixão pelo jornalismo. Sempre foi uma vida de muitas viagens e pouca rotina. Se me perguntar quantas viagens fiz na vida não sei responder, mas posso afirmar que desde que fui para o Estadão, com 18 anos de idade, nunca fiquei um único mês sem viajar. Só parei agora, nesses últimos meses, pelo acidente que sofri, caindo num buraco e fraturando o cotovelo direito. Foi um grande susto, que me custou repouso e paciência com a recuperação. Agora já estou bem melhor e com alta da tipoia.
Temos duas filhas, a Mariana e a Carol, hoje duas senhoras, que já nos deram cinco netos. Mariana, jornalista como eu, e Carol, cineasta. Os cinco netos são Laura, Bebel e André, da Mariana; e João e Olga, da Carol. Como é natural, estamos conseguindo curtir mais nossos netos do que curtimos nossas filhas. Nossa última netinha, aliás, a Olga, que tem um ano, acabou virando notícia: a Carol estava com contrações e foi ao médico, que a examinou e mandou de volta para casa, pois não havia, segundo ele, motivos para preocupação. Já em casa, no banho, a Carol começou a dar à luz. A Mara, minha mulher, foi quem acabou fazendo o parto e com a demora da chegada de assistência cortou o cordão umbilical com a unha. Felizmente acabou dando tudo certo, mas foi um grande susto, sobretudo pela dificuldade de socorro médico. No final, foram os bombeiros que nos socorreram.
O trabalho me manteve afastado da família grande parte do tempo, mas não posso dizer que me arrependo. Sempre foi tanta adrenalina que não havia lugar para saudades. E quando havia alguma ameaça de reclamar de cansaço por tantas viagens, alguém da retaguarda retrucava: “Você prefere ficar preso na redação?”. Seria a morte. Meu lugar é na rua.
Me lembro que na Copa de 1974, quando deixei o Brasil rumo à Alemanha, a Mariana, minha filha, que já estava andando e falando, simplesmente parou de andar e de falar. Quando eu voltei e a família foi me receber no aeroporto, a Mariana ao me ver voltou a andar e falar. Foi uma tremenda emoção e um pouco daquele sentimento de ausência.
Mas tudo isso era compensado pela união da família e pela satisfação profissional. Não tem essa história de sacrifício. Era e é a minha profissão, o trabalho que escolhi como forma de sobreviver e de ser feliz. Sempre vi o jornalismo como uma forma de buscar furos, de contar boas histórias, de fazer grandes reportagens. Hoje isso ficou mais raro. E digo isso com certa tristeza, pois a notícia, em si, que é um dos principais ingredientes do jornalismo atual, é commodity. E mesmo a tecnologia, que imaginávamos que nos ajudaria a aprimorar e melhorar o jornalismo, em certa medida também é limitante.
Voltando ao começo de carreira, eu gostava muito de ler e por isso fui trabalhar numa banca de jornais, em Santo Amaro. Era uma época em que os jornais circulavam em diferentes horários. Até jornal vespertino havia em São Paulo. E eu adorava o trabalho, porque me permitia ler. E ali fiquei até surgir a oportunidade no jornal de bairro. O salário era apenas uma ajuda de custo e me lembro que, numa ocasião, sem dinheiro para pagar essa ajuda de custo, o dono me chamou e perguntou se eu aceitaria um “vale sapatos” como pagamento, pois um dos anunciantes, sem dinheiro, ofereceu pagar em pares de sapato. Aceitei e vendi os sapatos para amigos da rua.
Um dia, um primo meu que vendia Enciclopédia Britânica, um baita sucesso naquela época, vendo a minha aptidão para o jornalismo perguntou se eu não queria trabalhar na revista Realidade. Explico: é que ele havia vendido algumas coleções para o pessoal da revista e com esse salvo-conduto achava que poderia tranquilamente me indicar para uma vaga na revista. Fez um bilhetinho me apresentando e o endereçou ao Mylton Severiano da Silva, Myltainho. Fiquei animado e fui até ele, ali na redação da João Adolfo, no Centro de São Paulo. Ele me recebeu, perguntou o que eu queria e eu lhe disse que gostaria muito de trabalhar na revista, que já tinha experiência, que fazia boas reportagens para a Gazeta de Santo Amaro… Após me ouvir atenciosamente, me falou: “Olha só, Ricardo, aqui é a seleção brasileira. Só tem craques do jornalismo. Você é muito novo. Tem que aprender muito ainda para trabalhar aqui”. Mas penalizado e vendo meu esforço e interesse me recomendou que fosse ali na rua Major Quedinho, no jornal O Estado de S.Paulo, pois sabia que eles estavam precisando de repórteres novatos. Fui, me apresentei e quem me recebeu foi o Aluisio Toledo Cesar, chefe de Reportagem da manhã. Coisas do destino, ele me disse: “Você é um rapaz de sorte. Está quebrando o maior pau lá na USP e eu estou sem nenhum repórter para fazer a cobertura. Vai lá e faz. Será o seu teste”. Fui, cobri e voltei para a redação. Na época eu escrevia os textos à mão, com caneta, e depois passava a limpo nas laudas. Entreguei. Ele gostou. Disse que eu levava jeito. E pediu pra voltar. Sei que depois, escrevendo uma outra matéria daquele meu jeito, vejo chegar ao meu lado um senhor, que logo foi me perguntando: “O que é isso, meu caro?”. Expliquei ser o meu jeito de escrever matérias. Ele imediatamente me tirou as folhas da mão e falou: “De jeito algum, você vai escrever diretamente na máquina de datilografar. Se quiser ficar aqui, é assim”. Era o Oliveiros Ferreira, chefão do jornal e que tinha fama de durão. Abandonei naquele instante o duplo jeito de escrever. Acabei ficando 11 anos no Estadão.
Fechamento flexível
No começo não tinha salário e nem registro. Um dia, no Bar Jaraguá, onde todos se encontravam após fechar o jornal, na presença do Carlão Mesquita, que era figura frequente ali, o Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, falou de mim para ele, dizendo: “Olha Carlão esse é o repórter que cobriu a tragédia de Caraguatatuba”. O ano era 1967 e eu de fato havia sido escalado para a matéria, que foi uma das piores tragédias do Litoral Norte. A Serra do Mar simplesmente desabou sobre a cidade de Caraguatatuba. E fizemos um bom trabalho, que foi muito reconhecido. Voltando à conversa, o Bebeto disse ao Carlão: “Sabe que ele não é registrado e nem salário regular tem?” Aí o Carlão respondeu, como era típico: “Esses meus irmãos!!” Me chamou de lado, pôs a mão no bolso, arrancou um maço de dinheiro e me deu, sem contar, dizendo: “Usa esse dinheiro aí até regularizar a situação”. Era uma boa bufunfa. Com ela, que era muito mais que um salário, convidei vários amigos para uma festa que teria no Clube Banespa, em Santo Amaro, por minha conta, claro. Não deu. Ficamos no bar e bebemos todas.
A propósito do Carlão Mesquita, tem outra história hilária. Estávamos, como de hábito, no Bar Jaraguá, após o fechamento, falando da edição, das pautas para o dia seguinte, quando chega a informação de que o Faria Lima, ex-prefeito de São Paulo, havia falecido. Foi um choque. Mais ainda para o Carlão, cuja família, além de muito próxima, trabalhava arduamente para fazê-lo presidente do Brasil. Como o jornal era, digamos assim, bem flexível em seus fechamentos, fomos todos convocados a voltar e fazer um caderno especial sobre o acontecido. Trabalhamos até às duas da madrugada e conseguimos cumprir a missão, com êxito. Faltava colocar o título da capa e ao comentar isso com o Carlão, perguntando quem faria o título, ele disse: “Eu mesmo. Coloque aí: Brasil perde Faria Lima”. Naquele tempo as manchetes tinham uma quantidade de toques que precisava ser respeitada, dentro do projeto gráfico existente e aquela manchete ficou curta. Precisava encumpridar um pouco. Sabendo disso, Carlão mandou: “Coloque em caixa alta, que preenche o espaço que falta”. “Mas Carlão, ponderamos, isso nunca foi feito no jornal”. E ele: “Será a primeira vez. Pode fazer”. Imagine a confusão que foi no dia seguinte com o restante da família, que ficou indignada com aquela ousadia e falta de juízo. Claro, até saber que a ordem partira de alguém da própria família.
Interessante essa questão de fechamento flexível, porque naquele tempo ainda não havia uma preocupação muito grande com essa questão industrial, com a logística. O jornalismo, o noticiário, no caso do Estadão, preponderavam sobre qualquer outro aspecto. Não havia grandes preocupações com atraso, se ele fosse justificado por assuntos relevantes.
Já não era assim na Folha, que adotava o que os colegas chamavam ironicamente de a “teoria da neguinha”, do Carlos Caldeira Filho, dono do jornal ao lado do Octavio Frias de Oliveira. Ele dizia, na comparação com o Estadão: “Já que não somos tão bonitos e gostosos, temos de ser o que chega primeiro às bancas”. E com isso administrava com mão de ferro os horários de fechamento e de impressão. Era uma obsessão, que permitia à Folha chegar sempre bem mais cedo do que o Estadão nas bancas.
A importância dos fotógrafos
Assim eram aqueles tempos, no meu início, nos anos 1960. Eu morria de inveja da turma do Jornal da Tarde, por ser uma equipe jovem, desafiada a fazer um projeto ousado, inovador, quase literário. Quis várias vezes ir para lá, sem sucesso. Não me deixavam sair do Estadão, que era um jornal bem mais conservador e com uma equipe mais velha. Acho que entre os poucos jovens estávamos eu e o Clóvis Rossi.
Eram tempos em que muitos jornalistas, pelo baixo salário, trabalhavam em dois, três empregos e até nisso o JT foi revolucionário: quem trabalhasse lá não podia ter outro emprego. Só que os salários eram bons e a empresa podia fazer essa exigência.
Também é preciso reconhecer uma outra empresa que foi decisiva na profissionalização de nossa atividade: a Editora Abril. Ela sempre pagou bons salários e deu boas condições de trabalho para seus profissionais, tornando-se um objeto de desejo entre os jornalistas. Com essas experiências, aquele jornalismo mais boêmio, mais informal e desorganizado, foi dando lugar a uma atividade melhor remunerada, mais planejada, enfim, mais profissional.
Muito aprendi com todos com quem trabalhei. E faço questão de citar os fotógrafos. Por muitos anos o jornalismo foi feito de duplas, o que, ao meu ver, continua sendo a melhor fórmula de se fazer um jornalismo de qualidade, embora isso hoje seja uma coisa quase em extinção. Acho que só lá na Brasileiros, do Hélio Campos Mello, que é um dos melhores fotógrafos do País, isso ainda acontece. Sempre fiz dupla com ótimos profissionais e com eles cresci demais profissionalmente. No início, só tomava porrada. Me lembro do José Pinto, fotógrafo de grande prestígio naqueles tempos, me dando o maior esporro porque eu não usava relógio e queria saber a hora, para colocar na matéria. Até hoje não uso, mas aquilo me marcou muito, porque foi uma dura e tanto. Se você insinuasse fazer uma sugestão, temendo que o fotógrafo perdesse alguma cena boa da matéria, vinha de pronto a resposta: “Pegue a máquina e faça você. Está pensando que vai ensinar o meu ofício?”.
E quantas pautas não surgiram do olhar apurado dos fotógrafos? Agora mesmo, recentemente, o Manoel Marques, que colabora com a Brasileiros, veio comentar comigo que tinha encontrado uma comunidade bem pobrezinha em São Paulo que vivia exclusivamente do Bolsa Família. Sugeriu a pauta para o repórter com que trabalhava num grande jornal e ele não se interessou. Peguei na hora. Fomos e fizemos a matéria. Uma história e tanto.
Estive no começo de carreira em equipe liderada pelo Clóvis Rossi e pelo Raul Bastos. Acabamos abrigados, depois, no Esporte do Estadão, pelo Ludenbergue Goes, outro nome de grande relevância da imprensa brasileira. No JB, fui chefiado pela Dorrit Harazim, quando estava na Alemanha. Não queria me deixar voltar ao Brasil, mas a saudade era mais forte e voltei. Não sem antes cobrir a morte do papa Paulo VI e a eleição do papa João Paulo I. Quando me preparava para voltar, já com as malas feitas, ela me ligou novamente me pedindo para cobrir a morte do papa. “Ô Dorrit – disse eu – você está de brincadeira? Estou já com as malas prontas, as passagens compradas e a família ansiosa por voltar e você vem com brincadeira”. “Não, Ricardo – disse ela –, não estou brincando. O novo papa morreu”. Incrível. Na cobertura da morte do papa Paulo VI e na eleição de seu sucessor, acabei descobrindo um irmão do João Paulo I, na cidade italiana de Canale D’Agordo, no Vêneto, e esse senhor, figura muito simpática, me falou com muito carinho do irmão, mas me alertou de que ele não tinha perfil de papa. Que era muito simples, ótimo para uma paróquia, mas que ele não aguentaria o tranco no papado. Não suportaria a pressão da máfia do Vaticano. Foi um furo que demos e que virou primeira página do JB, na época. Pois não é que ele tinha razão? O papa João Paulo I morreu com menos de um mês de papado e o assunto voltou à tona e aquela minha entrevista voltou ao noticiário.
Preciso confessar que quando fui nomeado correspondente do JB na Alemanha era uma época pesada no Brasil, com a repressão à solta. Havia o assassinato do Vlado Herzog e eu próprio havia feito matérias de grande repercussão sobre a morte do metalúrgico Manuel Fiel Filho e também aquela série que ficou famosa sobre Mordomias. Aí começaram a chegar recados para me cuidar porque a barra estava pesada. Um colega do Estadão, Fernando Cavalcanti, que cobria o II Exército na época, avisou que os caras estavam putos comigo, que era melhor eu me cuidar e coisa e tal. Como eu falava alemão, o jornal decidiu me enviar como seu correspondente para a Alemanha e eu aceitei, mesmo com as meninas ainda muito pequenas. Demorou um pouco porque acabei reprovado no exame médico, por causa de uma hérnia. Tive de fazer a cirurgia e logo depois viajei com a família. Quem me ajudou muito, na Época, quando cheguei a Bonn, então capital da Alemanha Ocidental, foi o William Waack. Eram tempos bicudos também por lá, com onda de terrorismo, sequestros. Mas fui com o espírito de repórter de geral, pois não sou analista de política internacional e nem especialista nesse tipo de assunto. Comecei a fazer matérias do cotidiano e a Dorrit gostou. Me pediu para continuar.
Conspiração dos amigos
Foi assim que um dia descobri, numa viagem de trem entre a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental, que na época ainda eram separadas, as velhinhas contrabandistas. Eram senhoras aposentadas e que, portanto, tinham imunidades, não podendo ser revistadas. Com isso, elas iam para a Alemanha Ocidental e compravam coisas que revendiam depois no lado oriental. Eram as nossas sacoleiras. Escrevi também sobre o carnaval alemão e quando tinha assunto de repercussão internacional, claro, eu estava também lá, como no caso das mortes dos dois papas.
Minha volta ao Brasil foi uma conspiração de amigos. Eu não sabia de nada. Estava um dia numa reunião na casa do Reali Jr., em Paris, quando toca o telefone e ele me diz que o Mino Carta queria falar comigo. Estranhei. E o Mino: “Quero te convidar para trabalhar comigo num novo projeto no Brasil. Eu sei que você quer voltar e eu gostaria que viesse para minha equipe”. Aceitei porque queria voltar, o salário era bom e iria trabalhar com o Mino. O projeto era a IstoÉ, que ele lançou. Voltei depois da segunda fumaça branca do papa e aqui me integrei a uma equipe que tinha novamente o Raul Bastos, Nirlando Beirão, Luiz Roberto Serrano, entre outros.
Com o Mino, acabei depois me transferindo para o Jornal da República, experiência que durou pouco tempo, mas que me aproximou de outro grande nome do jornalismo brasileiro, Cláudio Abramo. Além do contato na redação, tive o privilégio de dar carona a ele, para casa, por várias semanas, já que ele não dirigia. Foi, digamos assim, uma dupla exploração, no bom sentido. Grande aprendizado.
Aí, com o final do Jornal da República, muitos de nós fomos para a Folha, onde convivi por um período, entre outros, com Alberto Dines, outro marca da imprensa brasileira. Depois, veio o Globo Rural (revista e tevê), ao lado do José Hamilton Ribeiro, e em seguida o semanário Aqui São Paulo, de Samuel Wainer, outra lenda do jornalismo brasileiro.
Quer dizer, só feras. E uma curiosidade que marcou minha vida nessas cinco décadas: nunca fui demitido, sempre saí por minha própria iniciativa. Quando percebia que meu tempo já havia dado, começava imediatamente a ciscar com os amigos procurando um outro trabalho. E sempre foi assim. Saía de um lugar num dia e no dia seguinte já estava no outro, de trabalho novo. Só na Folha entrei e saí três vezes.
Também ocupei inúmeras funções no jornalismo. Fui de repórter a diretor de Jornalismo, cargo que ocupei em minhas passagens pela CNT e depois Bandeirantes. Fui para a CNT a convite do José Carlos Martinez, um amigo dos tempos de ginásio. Estudamos juntos no Colégio Santa Cruz. Me chamou, acertamos o salário (muito bom) e eu exigi carta branca. Todos sabiam de sua profunda ligação com o Collor e ele da minha proximidade com o Lula. Aceitou minha condição e me deu carta branca. E comunicou isso pessoalmente à redação, lá em Curitiba, onde era a sede. Fiquei cerca de dois anos, com absoluta liberdade de ação. Aí quis voltar e acabei indo para a Bandeirantes, como diretor da Praça São Paulo. Me lembro que numa festa de aniversário, organizada para mim, o Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, parecia não acreditar no tipo de amigos que ali estavam. Eram pessoas de todas as colorações políticas e ideológicas, com as quais, vamos dizer, ele não estava acostumado a conviver. Foi engraçado.
Mesmo quando decidi aceitar o convite do Lula, para a campanha de 1989, apesar dos alertas dos amigos, acabei me dando bem. Ao saber do convite, o Ricardo Setti, então no Jornal do Brasil, disse: “Vá, Ricardo, porque talvez você não tenha uma segunda chance e será a oportunidade de fazer parte de um momento histórico”. O JB me deixou ir e me deu a garantia de me recontratar ao final da campanha. Saí com o Augusto Nunes e regressei com o próprio Setti. O jornal honrou seu compromisso comigo.
Tempos depois, quando o Lula venceu a primeira eleição, encontrou-me em São Paulo, no período da transição e foi logo me questionando o que eu estava fazendo ainda em São Paulo. “Como assim, Lula?”, perguntei. E ele, direto: “Ora, Kotscho, você será o secretário de Imprensa, o que está esperando. Vai pra lá”.
Medo dos cheques
Fui, e é preciso registrar o apoio que tive da Ana Tavares na transição. Ela me ajudou demais, me mostrando todo o funcionamento da Secretaria de Imprensa em detalhes. Ela havia feito um trabalho exemplar. Como era uma profissional com um bom trânsito também com o Lula, cheguei a insinuar (querendo obviamente cair fora da encrenca) que ela continuasse no cargo. Ela desconjurou. Disse que naqueles anos não teve um minuto sequer de sossego e que havia chegado ao limite de sua capacidade e me garantiu: “Ricardo, pode anotar, depois dessa transição nunca mais ponho os pés no Palácio do Planalto”. De fato, nunca consegui convencê-la a ir me visitar e acho que cumpriu até hoje a promessa.
Hoje, avô coruja, a única coisa é que já não posso mais pegar os netos na escola porque agora a Mariana mora longe da minha casa. Sinto falta disso. Trabalho muito em casa. Às 3as e 5as.feiras vou à Record, onde participo como comentarista do Record News, apresentado pelo Heródoto Barbeiro, eatualizo diariamente o Balaio do Kotscho, meu blog. Faço também minhas reportagens mensais para a Brasileiros, revista que ajudei a conceber, ao lado do Nirlando Beirão, com o Hélio Campos Mello, mas da qual, como o Nirlando, pulei fora, por não ter uma veia de empreendedor. Fiquei com medo dessa história de ter de ficar assinando cheque, pagando contas a torto e a direito. O Hélio felizmente teve coragem e acabou contando com o apoio da sua mulher, Patrícia Rousseaux, que é publisher da empresa, para seguir adiante. E hoje, além das publicações, eles também se dedicam a organizar eventos.
Interessante a história da Brasileiros porque foi o jeito que nós três encontramos de realizar o velho sonho da Realidade. Como não conseguimos trabalhar nela, resolvemos criar uma revista de grandes reportagens. E agora ela está completando seis anos de vida. Uma grande vitória, pois se trata de uma revista que conta histórias incríveis de brasileiros que a grande imprensa prefere ignorar. E que hoje tem grande parte de suas pautas vindas de fora para dentro, de pessoas que descobrem boas histórias e passam como sugestão para a revista. Eu mesmo já fiz várias matérias desse modo.
Nunca fui muito bom para negociar contratos e salários e aí surgiu um anjo do céu para me ajudar, a minha filha Mariana. Ela fez para mim o milagre da multiplicação, conseguindo remunerações que, em sã consciência, eu jamais conseguiria. Um dia, fui convidado para uma palestra e ela negociou. Deu o preço. Do lado de lá a pessoa falou: “Nossa, mas esse é valor que cobram os profissionais da Globo!”. E a Mariana, dura e inflexível, sugeriu: “Pois então convide alguém da Globo; posso até ajudar te dando algumas sugestões. Mas se quiser o meu pai, esse é o preço”. Me contrataram por aquilo que ela havia pedido. Hoje nada faço sem ela. Virou minha empresária. E que empresária!
Ficaria aqui linhas e linhas contando histórias, mas o tempo e o espaço são limitados e com isso vou chegando ao final. Não sem antes dizer que não me tomem como exemplo de um grande leitor de livros. Não sei mentir. Não sou letrado, embora adore Jorge Amado, com quem aprendi a escrever contando histórias, Gabriel Garcia Marques, Gay Talase, as biografias em geral, sobretudo as de Ruy Castro e Fernando Morais… Ah, sim, e as obras completas de Laurentino Gomes, que adorei – li os três livros dele. Mas em compensação já escrevi 20 livros e vou lançar até o final do ano o 21º, Pé na Estrada, uma coletânea de reportagens que fiz para a Brasileiros, no estilo Um dia na vida, que sairá pela Companhia das Letras. É por isso que o Humberto Werneck, para me sacanear, diz que eu sou a única pessoa que ele conhece que já escreveu mais livros do que leu.
Sei que a memória muitas vezes é mais cobrada pelo que esquecemos do que pelo que lembramos, mas ainda assim, sem escalar uma seleção do jornalismo como o Edu Ribeiro me pediu, acho que vale a pena falar de alguns nomes que foram muito importantes para mim e, claro, para o próprio jornalismo. Considero, por exemplo, o José Hamilton Ribeiro o nosso repórter maior e da nova safra eu destacaria também dois nomes que considero excepcionais: Caco Barcellos e Eliane Brum. Não por coincidência, os três estão entre os primeiros do Ranking dos Mais Premiados Jornalistas Brasileiros de Todos os Tempos, feito por vocês, do Jornalistas&Cia.
N. da R.: E se você gostou dessa história, vai gostar muito mais das que ele conta diretamente no Balaio do Kotscho (http://migre.me/jrhK4). E atenção: o caminho está aberto para quem quiser patrocinar. Ele adoraria ter candidatos “espontâneos”, porque é um péssimo negociador.
Aproveite também para conferir o J&Cia Entrevista que Célia Chaimfez sobre ele em 2009 (http://migre.me/jrlhu).
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Eduardo Ribeiro e Fernando Soares, do Jornalistas&Cia