Na Índia, há jornais por toda parte. Nas casas de chá, as pessoas tomam chai e abrem seus jornais, apoiando-os sobre as edições de dias anteriores, que são usadas como toalhas, antes de comerem samosas que carregam em sacolas de compras feitas também de papel jornal grampeado.
Enquanto isso, em uma justaposição característica da estratificada modernização da Índia, explode o crescimento da mídia digital no país.
Samir Patil passou a maior parte da última década adaptando a mídia impressa para produzir sucessos digitais. Sete anos atrás, ele comprou a mais importante editora indiana de quadrinhos, que enfrentava uma crise de vendas, e criou versões animadas das revistas para transmissão pelo Cartoon Network e Disney Channel indianos. A Scroll.in, sua mais nova start-up, é parte de uma safra emergente de veículos de notícias online na Índia.
A Scroll.in oferece análises e reportagens sobre a política e a cultura indianas, apresentadas em um formato que permite scroll infinito de tela. Nos três primeiros meses de operação da companhia, lançada em janeiro, ela atraiu um milhão de visitantes únicos, mais de metade dos quais acessaram o site por meio de smartphones. Os anunciantes estão começando a fazer fila, e a companhia deve lançar um app dentro de alguns meses.
A Índia também está atraindo organizações noticiosas estrangeiras. Neste mês, a Scroll.in, em parceria com a Quartz, empresa de mídia noticiosa online adquirida dois anos atrás pela Atlantic Media Company, vai lançar o Quartz India, o primeiro site nacional específico da Quartz. O BuzzFeed e o Huffington Post planejam abrir escritórios na Índia neste ano.
Também o jornal britânico Guardian está estudando o potencial de um site nacional específico, de acordo com uma fonte ligada à empresa.
Uma audiência de qualidade
O presidente-executivo do Guardian Media Group declarou recentemente, em entrevista ao Independent, que a Índia “tem grande potencial”. Mais de 130 milhões de indianos acessam a internet a cada dia, a maioria por meio do celular.
As abordagens das novas companhias sublinham as mudanças que se espalharam pelo setor. Por exemplo, os sites indianos da Quartz, do BuzzFeed e do Huffington Post usam conteúdo produzido por jornalistas locais, não por correspondentes estrangeiros.
“Não é o caso de criar um Huffington Post na Índia, mas sim, um Huffington Post indiano”, disse Koda Wang, diretor-geral da divisão internacional do site.
O BuzzFeed e o Huffington Post já operam alguns sites nacionais específicos. O BuzzFeed, que criou uma página na Austrália em janeiro, planeja criar sites especiais para a Alemanha, o México e o Japão. O Huffington Post abrirá um site grego e um site em árabe ainda neste ano. Trinta por cento dos leitores do BuzzFeed vivem fora dos Estados Unidos, ante 40% para a Quartz e o Huffington Post.
O Business Insider, que criou um site indiano em setembro, aliou-se ao mais poderoso conglomerado de mídia do país, o Times of India. Em sua parceria com a Quartz, que Patil definiu como “associação informal”, o Scroll.in compartilha conteúdo criado por alguns de seus escritores. Com “associação informal”, Patil quer dizer que a Scroll não teria participação acionária da Quartz nem seria adquirida por ela, mas as duas teriam estilo, conteúdo e estratégia de mídia social complementares.
Nikhil Pahwa, fundador do Medianama.com, site que analisa a mídia digital, disse que “a Índia é um mercado que produz alto consumo e uso, mas enfrenta dificuldades para gerar viabilidade comercial”.
O Huffington Post e a Quartz India dizem que publicidade editorial talvez seja a forma mais prática de ganhar dinheiro. A publicidade editorial, ou seja, um conteúdo patrocinado apresentado como se fosse um artigo, pode ser atraente para os leitores indianos, acostumados a ter de clicar em anúncios para ler artigos.
“O que estamos fazendo agora”, disse Patil, “é construir uma audiência de qualidade, para nós e para os anunciantes. Enquanto isso, treinamos a próxima geração de jornalistas.”
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Max Bearak, doNew York Times