Eduardo Campos, presidente do PSB, candidato à presidência no próximo pleito, exministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula e exgovernador do estado de Pernambuco, se apoia num discurso de campanha no qual se apresenta, na chapa com Marina Silva, como alguém que faz a “nova política”. Essa expressão passa a impressão de práticas guiadas por princípios, no lugar do pragmatismo eleitoreiro que visa a mais cargos, mais poder.
Porém, um exame mais apurado e atencioso da movimentação do pessebista põe em xeque as alegações de renovação. Campos dá a impressão de ainda não ter achado uma via entre as polarizadas candidaturas de Dilma e Aécio e sinaliza diversas vezes à direita do atual governo.
Examinemos, então, alguns rumos deste candidato. Em 21/4, Campos foi entrevistado pela publicação norteamericana Wall Street Journal, vinculada ao setor financeiro de Nova York. Nela, além de alegar ser partidário de uma “revisão” do atual modelo da Petrobras, se posiciona favorável à independência do Banco Central. Na revisão de nossa maior estatal que Campos propõe não se fala propriamente em privatização, mas de afastála de influências políticas. Quanto ao Bacen, a proposta de tornálo independente constitui claro favorecimento aos bancos privados internacionais, que usam o discurso tecnocrata neoliberal da economia pura – uma falácia, tendo em vista que decisões econômicas sempre adentram a esfera política.
A fragilidade da propaganda
Ainda no campo econômico e tocando num assunto mais palpável ao cotidiano da sociedade, a inflação, constatamos que em entrevista ao programa “Poder e Política”, gravado no dia 29 de abril, o herdeiro de Miguel Arraes defendeu uma meta de inflação de 3% ao ano. É ponto comum que a inflação é um incômodo a qualquer economia, mas, indo mais a fundo no tópico, notase que para uma inflação desta magnitude medidas recessivas teriam de ser adotadas, o que seria sentido no aumento do desemprego.
Passemos agora para o campo político, atentemos às práticas internas do partido e às alianças regionais que o PSB tem firmado. Campos tem dito reiteradamente que Dilma não consegue dar prosseguimento aos avanços da gestão Lula, que o atual governo retrocede em relação ao anterior. Encampa, portanto, uma alegada volta ao lulismo, o que também não resiste à análise.
Em Pernambuco, que, como dito anteriormente, já foi governado pelo próprio Campos, o PSB se aliou a legendas contraditórias, como PSDB e DEM. No Espírito Santo, os pessebistas se aproximam também dos tucanos em torno da candidatura ao governo do estado. A Tribuna (14/6) noticia que o candidato ao Senado, Luiz Paulo Vellozo, do PSDB, definiu a conversa em torno desta aliança “está muito avançada”. Indo um pouco mais ao sul, chegando a São Paulo, o PSB se aliou à candidatura do controverso e autocrático Geraldo Alckmin (PSDB) o que fez até mesmo o portavoz nacional da Rede, Walter Feldman, dizer que essa medida assemelha Campos ainda mais a Aécio.
Por fim temos a retirada da candidatura da prima de Eduardo, a vereadora do Recife, Marília Arraes. Em 6/6, quando anunciou que desistia do pleito ao cargo de deputada estadual, Marília alegou que o partido presidido por Campos se movimenta em oposição à democracia e que “existe uma tendência à imposição de ideias em lugar do diálogo”.
Os fatos aqui listados demonstram a fragilidade da propaganda pessebista que tenta se distanciar da velha política. Os alinhamentos a setores reacionários, as medidas impopulares propostas e as práticas opostas à democracia sinalizam um candidato que se opõe aos anseios nacionais de ampliação da participação política e da inclusão social.
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Rennan Martins é blogueiro, Brasília, DF; http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/