A história saiu com destaque no Globo e na Folha de S. Paulo nas edições de terça-feira (17/6): no domingo (15), a repórter Vera Araújo filmava com seu celular a detenção por PMs de um torcedor argentino que havia urinado na rua, no bairro carioca de São Cristóvão, perto do Maracanã, quando recebeu “ordem” do sargento Edmundo Faria para interromper o registro.
Policiais não estão investidos de autoridade para determinar o que cidadãos podem ou não registrar com celulares ou câmeras fotográficas, mas no dia a dia isso, como tanta coisa mais, não funciona. Vera pensou: ele não sabe que eu sou jornalista. E mostrou-lhe o crachá funcional do Globo. Nada feito. Foi posta na viatura com o argentino. O carro, em vez de seguir imediatamente para o distrito policial da área, o 17º , ficou dando voltas durante uma ou duas horas (os relatos não são precisos) por ruas de bairros vizinhos.
Vera, que é muito conhecida das autoridades policiais – porque cobre o setor de crime e polícia há muitos anos, já recebeu prêmios importantes e sofreu ameaça de sequestro ao escrever a primeira denúncia contra as milícias, em 2005 –, fez pelo celular contato com o relações-públicas da PM, tenente-coronel Cláudio Costa, que pediu para falar com o sargento. Faria teve um ataque apoplético, parou o carro, jogou o telefone contra o painel da viatura, xingou Vera e a algemou com as mãos para trás.
Ele está preso e seu comportamento será investigado, informou o comando da PM-RJ. O Globo protestou em texto (“Banda podre”, 18/6) editado com notícia de denúncia do episódio feita pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Ouvir e sentir
Na segunda-feira (16), Vera deu ao Observatório da Imprensa uma declaração curta, que capta todo o significado do episódio:
“Todos os relatos que a gente costuma ouvir em comunidades sobre os maus policiais eu senti na própria pele.”
Ou seja, se a polícia, ou manifestantes, ou traficantes, ou cidadãos “envenenados” por generalizações antimídia, qualquer dessas categorias conseguir impedir os jornalistas de fazer seu trabalho, as vítimas não terão mais a quem recorrer e as cidades brasileiras ficarão inteiramente à mercê dos mais fortes. Vai ser muito mais difícil, então, definir como democrático o regime vigente.
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