Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A informação digital no Brasil

O Reuters Institute for the Study of Journalism, instituto ligado à Universidade de Oxford (Inglaterra), acaba de publicar o seu terceiro relatório anual sobre notícias digitais, o Digital News Report 2014. Feito a partir de entrevistas com mais de 18 mil pessoas em 10 países, entre eles o Brasil, o estudo revela dados interessantes sobre o consumo da notícia no mundo digital. Confirmam-se algumas tendências já conhecidas; por exemplo, o incremento do uso de smartphones (37%) e tablets (20%) – e a diminuição da utilização de computadores – para a leitura de notícias, a existência de uma diferença entre as gerações na forma como se buscam e se interpretam as notícias, etc. E volta a colocar o Facebook como a mais importante rede social para fonte de notícias, em todos os países.

O estudo também revela algumas características de cada país, e o Brasil, ainda que seja o único emergente a participar da pesquisa – os demais são Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Finlândia, Espanha, Dinamarca, Itália e Japão –, sai muito bem na foto. Por exemplo, 87% dos brasileiros que utilizam os meios digitais se interessam por notícias. É o primeiro do ranking.

Deve-se ter em conta, como observam os organizadores, que a pesquisa no Brasil se limitou a áreas urbanas, e por isso se referem sempre ao longo do relatório ao “Brasil urbano”. De toda forma, os resultados são muito ilustrativos e, frequentemente, vão de encontro à concepção generalizada sobre os hábitos do brasileiro no mundo digital. A imagem repetida é de que o brasileiro, em relação à tecnologia, faz uso habitual da pirataria, não está disposto a pagar pelo conteúdo acessado, etc. No entanto, o Digital News Report aponta para outra direção, ao menos em relação à informação digital.

Sustentação econômica

Uma das perguntas era: “No ano passado, você pagou para ter acesso a notícias online, seja por assinatura ou pela compra direta de uma notícia?”. Segundo o Reuters Institute, o Brasil aparece com o maior porcentual entre os 10 países, e 22% dos entrevistados responderam afirmativamente, o dobro dos EUA, que aparecem em 5.º lugar, e mais que o triplo do Reino Unido, com apenas 7%, na última posição. Quando se perguntou se estariam dispostos, no futuro, a pagar pelas notícias, novamente o Brasil obteve o índice mais alto: 61% dos entrevistados aceitam pagar para ter acesso a conteúdo jornalístico digital.

Ao indicar os critérios pelos quais prioriza a informação, o brasileiro aproxima-se do consumidor americano, e se distancia do europeu. Aqui, como nos EUA, dá-se maior peso à marca da publicação e à autoria da notícia, enquanto na Europa há uma tendência a valorizar a pluralidade de pontos de vista e a neutralidade da informação. O estudo destaca ainda o dinamismo dos meios de comunicação brasileiros. Faz referência a produtos exclusivos criados para tablet, citando, entre outros, a edição vespertina do Estado (Estadão Noite) com análises sobre os principais acontecimentos do dia.

O Reuters Institute relata também a forte proximidade dos brasileiros com as redes sociais, desde os tempos do Orkut. Atualmente, o País conta com 80 milhões de usuários no Facebook. Entre os dez países, o Brasil é onde mais se compartilham notícias: 54% distribuem, ao menos uma vez por semana, uma notícia por e-mail ou pelas redes sociais.

O mundo digital passa a ser cada vez mais conhecido, mas nem por isso deixa de continuar provocando fortes interrogações. É ainda um cenário aberto, mas começam a ser vislumbrados possíveis rumos. O que talvez mais chame a atenção sobre o Brasil no Digital News Report 2014 é a resposta que traz sobre a sustentação econômica do jornalismo. A experiência da facilidade de acesso à notícia, potencializada cada vez mais pelos smartphones e tablets, não diluiu a percepção da realidade econômica por trás do jornalismo nem da sua relevância. O brasileiro reconhece que o jornalismo é importante e que a sua produção custa dinheiro, mas está disposto a pagar por ele. Na sua visão, internet e bom jornalismo não se contrapõem; e isso é uma boa notícia. Para todos.