Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

ISIS usa as redes sociais para ampliar imagem de poder

Enquanto o governo do Iraque tentava bloquear o acesso à internet no país, na semana passada, militantes do grupo insurgente Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) investiam em uma ofensiva digital. Ao mesmo tempo em que extremistas armados entravam em conflito com forças de segurança iraquianas na tentativa da invasão de Mosul, o Twitter era bombardeado com mensagens de apoio ao ISIS.

No primeiro dia de ataque à cidade, foram disparados 40 mil tuítes favoráveis ao grupo jihadista. O número foi registrado pelo analista JM Berger, que pesquisa a relação do extremismo com a mídia social. Berger descobriu que o ISIS tem seu próprio aplicativo, que permite ao grupo comandar o envio automático coordenado de uma enxurrada de tuítes àqueles que assinam o serviço.

Horas após a tomada de Mosul, começaram a aparecer fotos e vídeos de militantes executando soldados iraquianos. O uso das redes sociais pelo ISIS não é algo novo. O grupo, que surgiu a partir da al-Qaeda no Iraque, deu início a uma onda de bombardeios, sequestros e assassinatos no país há meses, e sua sangrenta campanha é sempre promovida pela internet.

Na semana passada, o ISIS começou a sugerir seu próximo alvo. Dezenas de perfis no Twitter passaram a postar imagens da capital iraquiana com a hashtag #ISISWeAreComingBaghdad (“Estamos chegando, Bagdá”).

Estratégia militar

O uso das redes sociais, segundo analistas, não tem apenas a motivação de intimidar. “Isso ultrapassa a propaganda”, diz Peter Neumann, que dirige o Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e Violência Política do King’s College, em Londres. “Isso é parte da estratégia militar deles”.

As atividades online servem para conquistar apoio e projetar uma imagem de poder – algo além do alcance físico do grupo. Desde sua criação, em abril do ano passado, o ISIS dissemina imagens de seus militantes distribuindo esmolas aos pobres e punindo bandidos na Síria – onde tornou-se um dos principais grupos jihadistas no combate às forças do governo – na tentativa de construir uma narrativa mais ampla.

Em sua conta no Twitter, o grupo fornece informações detalhadas sobre suas operações, incluindo o número de bombardeios, missões suicidas, assassinatos e cidades controladas. O ISIS também lançou uma campanha online, no fim da semana passada, em busca de apoio para suas operações na Síria e no Iraque, pedindo que simpatizantes em todo o mundo se filmem com a bandeira do ISIS e postem os vídeos nas redes sociais. Além do uso de hashtags em campanhas de informação, o grupo ainda produz vídeos promocionais estimulando a participação em sua “campanha de um bilhão”, que pede que muçulmanos postem mensagens, fotos e vídeos de apoio no Twitter, Instagram e YouTube. Um vídeo recente mostra um membro do ISIS falando em francês, e muitos vídeos são postados com legendas em inglês. Grande parte dos tuítes pró-ISIS vem de países como Arábia Saudita, Kuait e outras nações do Golfo.

Controle e influência

Dezenas de outros grupos jihadistas do Iraque e da Síria estão nas redes, mas o ISIS parece ser o que melhor compreendeu como usar estas plataformas, unindo imagens e hashtags. Uma das campanhas recentes do grupo traz a hashtag #bayah (termo que significa uma promessa de lealdade) acompanhada de imagens de encontros de militantes com tribos locais, com direito a apertos de mãos e bandeiras negras ao fundo. Imagens como estas ajudaram a estabelecer a imagem do grupo como força de controle e organização no Iraque.

“Sempre que eles levantam uma bandeira sobre um novo prédio governamental dominado, sempre que montam uma corte islâmica, tuitam sobre aquilo”, diz o professor Peter Newmann, do King’s College. “[Eles usam] a mídia social para alavancar sua influência e suas conquistas”.