Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Andy Coulson condenado por grampos; Rebekah Brooks é inocentada

Chegou ao fim o julgamento dos envolvidos no caso dos grampos telefônicos que levou ao fechamento do tabloide News of the World. Após oito meses de sessões no Tribunal Central Criminal, em Londres, Andy Coulson foi condenado por conspiração para grampear telefones quando era editor-chefe do jornal. Já Rebekah Brooks, que o antecedeu no cargo, foi inocentada.

Coulson, que, depois de deixar o tabloide, tornou-se diretor de comunicação do primeiro-ministro David Cameron, negou por sete anos que sabia da prática de grampos telefônicos, mas chocou a todos quando admitiu, no tribunal, que havia escutado, em 2004, uma gravação da caixa de mensagens do político David Blunkett, então ministro do Interior.

O jornalista deixou o News of the World em 2007, depois que o editor Clive Goodman, que cobria a família real, declarou-se culpado de grampear telefones em um julgamento anterior. Na ocasião, Coulson disse desconhecer a prática, mas considerou que deveria assumir a responsabilidade pelo erro, já que liderava a equipe.

Premiê se desculpa por “erro”

Ao admitir, já em seu julgamento, que tinha conhecimento de que pelo menos um de seus funcionários havia tido acesso ilegal às mensagens do então ministro do Interior em um período em que a Inglaterra estava em guerra com o Iraque – e que não o demitiu ou tomou alguma atitude para puni-lo –, Coulson levantou dúvidas quanto a sua contratação para a equipe do primeiro-ministro em 2010.

Após o veredicto desta terça-feira [24/6], Cameron, em uma breve declaração, pediu desculpas públicas por ter contratado Coulson. O premiê recrutou o jornalista quando era líder do Partido Conservador, em 2007, logo depois que ele deixou o News of the World, e o manteve em sua equipe após vencer a eleição. Cameron afirmou que questionou Coulson sobre os grampos telefônicos, e o ex-editor sempre negou que soubesse da prática. “Foi, obviamente, errado de minha parte contratá-lo. Eu dei a ele uma segunda chance. Acabou sendo uma decisão ruim”, completou.

O júri condenou Coulson por conspiração, mas não chegou a um veredicto unânime em outras duas acusações. O mesmo ocorreu em relação ao ex-editor Clive Goodman. O juiz instruiu o júri a deliberar e permitiu que o veredicto não seja unânime nestas questões.

Prioridade de Murdoch

Já Rebekah Brooks foi inocentada das quatro acusações que pesavam sobre ela – além de conspiração para grampear telefones quando chefiava o News of the World, ela também era suspeita de subornar funcionários públicos em troca de informações quando editou o Sun, outro tabloide do grupo; Rebekah respondia ainda a duas acusações por conspirar com sua ex-secretária e seu marido para ocultar evidências da polícia durante a investigação do caso dos grampos, em 2011.

Rebekah trabalhou na News Corp, grupo do magnata Rupert Murdoch, por 22 anos, tornando-se, ao longo do caminho, uma de suas principais conselheiras. Quando o escândalo dos grampos se tornou uma crise, em 2011, Murdoch chegou a dizer que ela era sua “principal prioridade” – na ocasião, Rebekah comandava a News International, braço britânico da News Corp.

O treinador de cavalos de corrida Charlie Brooks, marido de Rebekah; a ex-secretária da jornalista, Cheryl Carter; e o chefe de segurança da News International, Mark Hanna, foram inocentados da acusação de conspiração para obstruir a justiça.

A sentença de Coulson deve sair alguns dias depois de finalizado o julgamento. Outras cinco pessoas ligadas ao caso também aguardam sentença. Antes do julgamento, os ex-editores do News of the World Greg Miskiw e James Weatherup, o ex-repórter Dan Evans e o investigador particular Glenn Mulcaire declararam-se culpados. Evans confessou ter hackeado mensagens da atriz Sienna Miller encontradas no telefone do ator Daniel Craig – sugerindo que os dois teriam um caso. O ex-editor Neville Thurlbeck também se declarou culpado depois que a polícia encontrou fitas com gravações de mensagens do político David Blunkett em um cofre da News International.

Lembrando o caso

Em julho de 2011, o magnata de mídia Rupert Murdoch teve que encerrar as operações do tabloide britânico News of the World quando veio a público a informação de que o jornal teria, anos antes, grampeado o telefone de uma adolescente desaparecida, cujo caso teve grande repercussão na Inglaterra – a menina Milly Dowler foi, posteriormente, encontrada morta. A revelação do grampo virou uma bola de neve com a divulgação de que milhares de figuras públicas, entre artistas, esportistas e políticos, tiveram suas caixas de mensagens hackeadas pelo tabloide com a ajuda de um detetive particular.

Alguns anos antes, o editor Clive Goodman havia sido preso por grampear telefones de funcionários da família real em busca de furos. Mas foi o caso Milly Dowler que provocou um verdadeiro mal-estar na imprensa britânica e fez com que o primeiro-ministro ordenasse a criação de um inquérito para avaliar os padrões de qualidade e responsabilidade do trabalho jornalístico no país.